23 fevereiro 2012

F14 - Cada um tem a gêmea que merece


Comédia não é um dos meus gêneros preferidos. Não que eu não goste de rir ou não tenha bom-humor – pelo contrário, rio por qualquer besteira – mas as maiorias das comédias que já assisti apela para sexualidade e/ou preconceito de gênero, sexualidade ou etnia, o que acredito ser desnecessário para fazer rir.
Mas fui voto vencido na escolha do filme, e ao invés de estar na sala ao lado assistindo A invenção de Hugo Cabret, lá fui eu tentar rir das piadinhas de Adam Sandler em Cada um tem a gêmea que merece. É uma típica história de vamos-mostrar-o-valor-da-família: enquanto Jack foi popular e bem sucedido em toda a sua vida, Jill era meio chatinha e sem grandes talentos. Ofuscada pelo irmão e sem convívio social outro que a casa dos pais, Jill se torna uma pessoa inconveniente, sendo suas visitas anuais um estorvo para Jack. Em uma dessas visitas, depois de brigas homéricas (e bastante engraçadas – consegui me ver na situação de melodrama extremo entre irmãos) ela decide passar mais tempo do que o planejado.
Percebendo o quão solitária a sua cunhada é, a esposa de Jack – que foi tão insignificante na estória que nem lembro o seu nome – sugere, juntamente com seus filhos, que Jill crie um perfil em sites de namoro. Vem aí um grande problema que detectei: o filme trata namorar como a única forma de aplacar a solidão dela.  Quase todo ser humano tem a necessidade de um vínculo nesse estilo, mas ao invés de ressaltar isso, foi a mentalidade de que uma mulher necessita de um homem que marcou as cenas do filme. Além disso, não seria mais inteligente “exercitar” as habilidades sociais de Jill (que nunca teve amigos ou interesses fora da esfera familiar) por algum tempo? Ou, mesmo que ela tentasse arranjar um namorado, custava muito considerar ter contato com seu irmão e sobrinhos e fazer amigos como uma maneira de se sentir menos sozinha depois da morte dos pais?
Além disso, o fato de Jill ser “feia” e “quarentona” é bastante ridicularizado (mais até do que sua personalidade inconveniente e chata): ela apenas obtém um encontro por um anúncio “ousado” e levemente mentiroso que seu irmão coloca em outro site. Afinal, a foto de uma “baranga” que também é “masculinizada” (uma cena mostra Jill levantando mais peso do que os “marombeiros” da academia) não serve para nada além de assustar moscas.
Ironias à parte, sei que a maioria das pessoas considera a aparência como fator decisivo na hora de escolher seu par, mas colocar isto como uma condição sine qua non (e a falta de beleza como defeito quase mortal) é uma grande imbecilidade.
Como o espectador já deveria esperar, Jill leva um fora no seu encontro, não acreditando mais na possibilidade de achar alguém – ao ponto de ignorar as atenções de Al Pacino (sim, do Poderoso Chefão), que se encanta com ela. É aí é que vem o problema: Jack, que tem uma agência de publicidade, precisa de Al Pacino para um comercial para seu maior cliente, o Dukin’ Donuts – não conseguir o famoso ator poderia levar sua agência à falência. O problema é que o comercial é ridículo, com chances mínimas de que um grande ator aceite fazê-lo. E então, subitamente, Jack passa a desejar a companhia da irmã – que desprezou durante toda a sua vida – com o único intento de fazê-la convencer Pacino a salvar sua agência.

Não sei que tipo de dívida Al Pacino contraiu para precisar do cachê de um filme desses, mas espero que seja com traficantes ou alguém que ameace, de alguma maneira, a sua vida – outra coisa não justificaria.O eterno Michael Corleone parecia simplesmente deslocado demais num filme desse gênero, sofisticado demais para fazer piadinhas do lado de Adam Sandler – os dois juntos foi como ver um pedaço de um bom chocolate perto de uma salada de rúcula e jiló.
Mesmo com toda minha implicância, eu gostei do filme. O fato é que as premissas machistas que ele traz são coisas bastante enraizadas na nossa sociedade e nem chegam a ser consideradas sexistas pela maior parte da população. Embora eu não pudesse deixar de observar, ainda vai passar algum tempo antes que todos percebam e lutem contra isso – se eu excluísse obras com esse tipo de “violência” eu não leria livros ou assistiria filmes (e, conseqüentemente, perderia boa parte da minha sanidade). Gostei muito da abordagem que o filme traz sobre família: não é a aquela coisa melada, docinha demais e irreal, e sim uma longa jornada pavimentada com erros, defeitos imperdoáveis de todas as partes pedidos de desculpas e o tal do amor – bastante próximo à vida real.
Bom, o fato é que Cada um tem a gêmea que merece faz comédia do jeito que eu gosto: brincando mais com palavras e situações do que ridicularizando o diferente – e quando um filme “comercial” consegue fazer isto, não posso fazer nada além de tirar meu chapéu.
Nota: 3/5
 

10 comentários:

  1. Sou assim, que nem você, não sou muita das comédias. Muitas delas são realmente apelativas ou preconceituosas e não consigo achar engraçado.

    Também não vou muito com a cara do Adam Sandler. Já assisti vários filmes dele e acho que são sempre meio parecidos (tirando, talvez, Espanglês). Enfim, sou realmente chata pra comédias, admito.

    Apesar de você ter tido uma opinião positiva, no fim das contas, todos os pontos negativos pesam muito na hora de escolher entre assistir ou não. Por enquanto, não vou. Talvez quando estiver passando na TV e eu não precise pagar 14 reais pra ver.

    (Acho engraçado que o Adam Sandler, que não é nenhum primor em termos de beleza, faz um personagem masculino bem sucedido. Mas ao interpretar a irmã, ela precisa ser solteirona e perdedora. Lógica meio distorcida, né?)

    Beijo!

    PS: Assista Hugo Cabret! É muito lindo.

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    1. Espanglês é realmente legalzinho :) Mas é mais por toda a parte cultural, não pelos atores e atrizes em si...

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  2. Oi! Já faz tempo que decidi não ver filmes com Adam Sandler (ele, Ben Stiller e Jack Black são os únicos atores que tenho grande antipatia). Interessante o comentário sobre o Pacino (amo Poderoso Chefão).
    obs: A invenção de Hugo Cabret é lindo, perfeito e maravilhoso.

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    1. Concordo sobre Adam Sandler e Ben Stiller - uma decisão sensata - mas acho jack black tão legal DAHUSDHAU

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  3. Eu gosto de assistir comédias, principalmente estas do Adam Sandler, porém existem algumas bem preconceituosas e bobas mesmo e estas não aguento nem assistir por 10 minutos.Esse filme parece ser bem engraçado e quanto ao filme A Invenção de Hugo Cabret, vale muito a pena ser visto.
    Beijos.

    http://booksedesenhos.blogspot.com

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  4. eu gosto de assistir comédias, se bem que ultimamente meu tempo para assistir filmes tem sido reduzido, e eu quase não assisto como antigamente. O Adam é muito engraçado, eu vi o trailler do filme e morri de rir, mas não é o tipo de filme que me leva ao cinema, enfim. O último filme que vi foi HP7 e acho que só volto ao cine para ver Jogos Vorazes.
    bjos

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    1. jogos vorazes *_* talvez eu não vá na estreia porque tenha que ir pra última fase de um processo seletivo, mas estou bastante ansiosa...

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  5. Eu amo comédia e mesmo sendo um pouco igual eu acho sempre um máximo, e adoro rir de coisa besta kkk.

    Bjs

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    1. eu tb rio com besteiras, o problema é que algumas coisas são tão idiotas que chegam a ser preconceituosas... aí não rola, né? beijos!

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  6. Oi Isabel!
    Eu não gosto de comédias pelo mesmo motivo que você citou no início do post. Simplesmente não consigo rir com esse tipo de piada!
    Por isso mesmo, eu não vou com a cara do Adam Sandler, e não verei esse filme nem de graça xD

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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