31 março 2012

Scored

Depois de uma segunda Grande Depressão, as universidades estadunidenses voltaram a ser domínio exclusivo dos super-ricos – não importando o quão talentoso ou esforçado você fosse – e a mobilidade social se tornou próxima a zero.
"Sensibilizados" (ou não) com a falta de perspectivas reservadas a maioria dos jovens americanos, a ScoreCorporation se prontifica a mudar isso - mas de uma maneira bem custosa e peculiar: o sistema por eles criado vai além das notas na hora de medir o desempenho de um estudante, atribuindo uma nota (ou score) para cada pequena ação do mesmo. Seus amigos, seu foco, seu comportamento e cada palavrinha que você fala –  tudo é essencial e registrado pelas eyeballs, câmeras cruéis espalhadas por toda a cidade que registram e processam cada uma de suas ações, calculando o seu score. Lojas, hospitais e até mesmo o exército passam a adotar o score como maneira de fazer novas contratações, mas o almejado pela maioria dos estudantes é outra coisa: conseguindo um score acima de oitenta pontos, a ScoreCorp pagará todas as suas taxas para qualquer faculdade estadual.
Como sempre, nem todos estão felizes com esse sistema: parte dos estudantes da Somerton High, na cidade de Somerton, Massashusets – uma das cidades-teste para o Score –  se recusam a terem suas vidas vigiadas pelas eyeballs. A associação com os chamados unscored é punível com a perda consecutiva de vários pontos.
Essa perda de pontos por associação é levada ao extremo: em Somerton High, todos os alunos somente fazem amizade com aqueles de Scores semelhantes –  por isso, as panelinhas são refeitas todos os meses, e aqueles que eram outrora inseparáveis agem como se nunca houvessem se conhecido. Imani LeMonde, contudo, graças a uma promessa feita há muitos anos atrás, não abandona a amizade de Cady – mesmo que Imani possua 92 pontos e Cady somente 67.
Um dia, esta amizade deixa Imani em apuros: Cady começa a namorar um unscored – resultando na perda de pontos não só para ela, mas também para Imani. Com um score abaixo do necessário para sequer conseguir um bom emprego – o que dirá uma bolsa – Imani procura o impossível e acha: uma maneira de ganhar mais de vinte pontos em um mês, voltando para o topo e realizando seu sonho de estudar biologia marinha.
Se associando com Diego McLune para um trabalho – o filho rico de uma advogada anti-score – ela espera conseguir informações boas o suficiente para que a ScoreCorp recompense a sua lealdade com uma quantidade estúpida de pontos e, consequentemente, uma bolsa de estudos. Contudo, a convivência com Diego – que tem idéias próprias e peculiares sobre o real objetivo do Score – faz com que Imani repense se a "meritocracia" proposta pela ScoreCorp é realmente benéfica.
A ideia de Scored é brilhante: em algumas sociedades ou grupos sociais, a pressão colocada em cima dos adolescentes para "andar na linha" é enorme. Embora ir para a universidade ainda esteja fora de cogitação para uma grande parte da população brasileira, a tensão é palpável em terceiros anos e cursinhos pelo país inteiro. Em alguns países, isto é levado ao extremo: na China e na Coreía do Sul não são incomuns colapsos nervosos e suicídios graças ao ambiente acadêmico. Lauren McLaughin tentou elevar isso a um outro nível, a um nível onde a vigilância é completa, impessoal e constante. O exagero, característica da maioria das distopias, está bastante presente em Scored, embora o mundo em que ele está inserido seja completamente reconhecível e parecido com o nosso.
O problema foi a execução: não é exatamente mal-escrito, mas sim mal-desenvolvido. Scored é ótimo até a metade, mas, a partir daí, a autora entra em uma corrida desenfreada para terminar o livro em poucas páginas, não desenvolvendo mil e uma situações possíveis e inserindo algumas inúteis. O aspecto psicológico dos adolescentes scored – o que eu ansiei para ler sobre – é praticamente ignorado, se limitando a breves descrições por parte de Imani de como é difícil ser vigiada 24/7.
Não gosto muito de distopias explicativas, o que Scored é. Gosto de refletir sobre determinados aspectos por mim mesma, ler nas entrelinhas - o que é exatamente o contrário que Scored faz, dando todas as reflexões possíveis através de diálogos entre Imani e Diego. As entrelinhas, em um livro de ficção distópica, são preciosas: em geral, quem lê este tipo de coisa gosta de chegar a suas próprias conclusões, não encontrar as de outrém inseridas no objeto de reflexão.
Ainda assim, dou três pontinhos a Lauren McLaughing por sua ideia brilhante – mas uma para a interminável lista das que eu gostaria de ter tido.
Nota: 3/5

12 comentários:

  1. Realmente foi uma ótima ideia a ser desenvolvida num livro- pena que o desenvolvimento não deu certo, pelo que vc escreveu...

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  2. Oi,
    Tudo bom?
    Adorei seu blog ^^ Já estou seguindo...
    Nunca tinha lido nada deste livro... gostei como você disse da idéia da autora... ^^

    Deixo o convite para visitar meu blog que está no comecinho ainda, mas que foi feito com muito carinho. ^^
    Beijinhos...
    Oceano Literário – http://www.oceanoliterario.blogspot.com

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  3. Nossa eu não gosto quando isso acontece... quando um autor corre pra acabar o livro e os personagens perdem o brilho...
    Ótima sua resenha...
    Estou te seguindo.

    Beijos.
    #Resenha falada.

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  4. Nossa, conforme você foi narrando a história do livro, fiquei louca para ler! Mas quando chegou ao final, fiquei decepcionada ): mesmo assim, adoro distopias e adoraria ler um livro desses, parece ser bastante interessante.

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  5. Olá, Isabel!

    Olha, eu adoro quando o enredo tem um fundo de contexto histórico, ou faça menções a períodos que marcaram a história do mundo. Uma pena isso ter acontecido em meio a narrativa... de acordo com a temática, teria tudo para dar certo.
    Ótima resenha!

    Um abraço!
    http://universoliterario.blogspot.com.br/

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  6. Eu acho que eu prefiro distopias explicadas, eu acabo tendo uma visão melhor do cenário.
    Esse livro realmente parece ser incrível!

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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  7. ah tbm gosto de refletir sobre o livro e etc, mas entendo qdo o autor te joga na cara as reflexoes D: é medo de que os leitores não entendam o ponto de vista dele

    http://himi-tsu.blogspot.com.br/

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  8. Mia Wallace no banner do seu blog!! LEGAL!
    Por causa de Jogos Vorazes, eu quero mais distopias. Este parece muito bom.
    Tomara que o sucesso de JV façam as editoras brasileiras acordarem e publicarem mais livros deste estilo.

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    1. siim! ficção distópica é demais ahahah
      enfim, tem várias distopias legais, e que não foram publicadas no brasil ainda - embora estejam dando mais atenção do que antes.

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  9. Cara, quando eu conheci esse livro, torci a cara. Não consigo achá-lo interessante, muito mesmo. Sou chaaaaato com literatura... mas heim, hahahaha.

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  10. Não conhecia
    Mas me parece bem estranho, começando por esta capa Oo'
    Mas a resenha ficou boa

    Beijos
    @pocketlibro
    http://pocketlibro.blogspot.com

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  11. Nunca tinha ouvido falar desse livro, mas fiquei interessada em ler.
    Sério, essas coisas de vigilância 24 por dia 7 dias por semana são bizarras, tenho medo! hahah
    Odeio quando o livro fica corrido no final para terminar logo =(

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