Dentro do mundo das distopias, algumas possibilidades são
pouco exploradas por escritores e roteiristas.
Guerras com armas biológicas, por exemplo. Tão possível
quanto uma ditadura a morte de quase todos pelos esporos de algo como o antrax
pode render histórias interessantes e extremamente próximas da realidade.
Certo, admito, tenho outra razão para reclamar da falta de
livros nesse estilo: como já disse por aqui, comecei a escrever “de verdade”
com fanfics. Quando enjooei de imaginar histórias adicionais com Harry Potter,
parti para trabalhos “originais” e um dos primeiros (que, como sempre, nunca
foi concluído) foi um livro chamado The
Plague, que retratava, vejam só, a morte de quase todos por um vírus. Sim,
eu era idiota o suficiente para por um nome em inglês. E que já foi usado.
Minha falta de criatividade é um exemplo grotesco da
veracidade daquela velha dica batida para aspirantes a escritor: leia, leia,
leia. Sem ler, como saber que mil pessoas já fizeram o mesmo que você –
infinitas vezes melhor – e dar asas a sua imaginação – para, de fato, inovar?
Puros possui
muitos defeitos, mas com certeza a falta de inovação não é um deles. A terra
estava completamente destruída com guerras, violência e catástrofes ambientais
– até que a junta de Retorno a Civilidade assume. Com um forte fundo religioso,
machista e autoritário, o novo governo tenta melhorar (falhamente) a situação
da população em geral. Obviamente, alguns tinham de ser privilegiados – e como
uma guerra mais séria era iminente, esse privilégio veio através do Domo, um
ambiente controlado para que (parte da) humanidade possa se refugiar caso
necessário.
Você consegue imaginar uma arma pior do que uma bomba
nuclear? Juliana Baggot conseguiu: em Puros,
logo depois da finalização do Domo, o mundo inteiro foi bombardeado por um
flagelo sem nome que fez com que tudo fosse coberto por cinzas e os poucos
sobreviventes se fundissem a qualquer coisa que estava próxima. Pessoas com
objetos, cacos de vidro e seus próprios filhos grudados no corpo são, na
verdade, os sortudos desse novo assustador planeta – pelo menos em comparação
aos Poeiras (que se juntaram a terra), aos Feras (que se fundiram com bichos
selvagens) e Grupais (várias pessoas grudadas umas nas outras) que vivem
baseando-se somente no instinto animal e causam terror aos demais.
Esse não é o mundo de Partridge: graças a influência de seu
pai, ele conseguiu entrar no Domo – onde o autoritarismo reina assim como no
mundo que o precedeu. Apenas uma criança quando as explosões aconteceram,
Partridge ganha motivos para acreditar que sua mãe (dada como morta ao ajudar
pessoas comuns a entrar no Domo) está viva. Sua relação com o pai é péssima e
seu irmão se fora alguns anos antes – então porque não tentar acha-la?
É assim que seu destino cruza com o de Pressia, que não
consegue entender como um Puro (denominação dada aos habitantes do Domo, já que
esses não foram tocados pelas explosões) sairia de seu ambiente. Pressia tem
uma cicatriz enorme no rosto, é órfã de pai e mãe e tem uma boneca no lugar da
mão esquerda. Esta última é um problema: prestes a completar dezesseis anos, a
garota já está com seu nome na lista da OBR – a milícia que governa os
arredores do Domo e mata todos aqueles que se provam inúteis para seu exército.
Como atirar os dedos de uma das mãos?
Alguns errinhos de execução impediram Puros de ser um livro genial. No miolo do livro, algumas conexões
são feitas de maneira estapafúrdia. Não é o famoso Deus ex machina, mas ainda
assim desagrada leitores exigentes – ainda mais por passar a sensação que, com
algumas páginas a mais, a tal conexão poderia ser crível.
Até porque a linguagem que Julianna Baggot emprega em Puros é bastante enxuta e simples, sem
grandes rodeios e enfeites. Não é sempre que gosto disso: como aspirante a
escritora, gosto de conseguir detectar o estilo próprio de um autor – coisa que
fica complicada em bestsellers ou livros como esse. Nesse caso, acabei
gostando: a vida de Pressia é tão incerta e tão cheia de adrenalina que não
haveria outro modo de narrá-la. Aliás, foi ótima a escolha de fazer a tal da
narração em terceira pessoa: é algo incomum no gênero e perigoso (pessoalmente,
me sinto muito mais ligada ao personagem em livros narrados em primeira pessoa)
que, felizmente, funcionou neste caso.
Não há um “ponto distópico principal” em Puros, mas o contraste do Domo despótico
e aprisionador e da liberdade perigosa do lado de fora é fantástico e atual. Se
não são Domos, o que são os condomínios?
Bom saber que "Puros" é uma distopia e, principalmente, que sua história é algo inovador.
ResponderExcluirFiquei curiosa para ler este livro, em especialmente pelo jeito que a autora escreve, como você descreveu. Mesmo que a história não seja tão boa, gosto de escritores diretos.
Um beijão,
Pronome Interrogativo.
www.pronomeinterrogativo.com
Por mais que eu tenha ficado bem curiosa no lançamento, eu já perdi a vontade de ler. :( Acho que foi fato de saber que tem uma continuação e eu to fugindo disso.
ResponderExcluirMas é bom saber que esse livro tem certa originalidade, ainda mais por ser de uma temática que está sendo tão explorada.
Quem sabe mais pra frente...
Obs: Chegou seu Cosmópolis? Assim que o ler, me conte o que achou. As primeiras páginas são complicadas, mas quando você pega o ritmo e se acostuma com a personalidade do Eric, a leitura flui mais. Espero mesmo que você goste!
Um beijo,
Luara - Estante Vertical
Vou ler sim! Já tinha lido umas sessenta páginas até ontem (de fato, as primeiras são confusas! Não se sabe nada sobre o Eric...) mas Sense and Sensibility me chamou (sério, juro que consigo "escutar"os livros as vezes). Mas enfim, me parecia um livro maravilhoso e que pegarei com certeza em breve!
ExcluirA capa desse livro é maravilhosa, chama atenção né?! A resenha está perfeita, acho que nunca vou ler uma resenha mal feita por vc Isa, eu gosto do seu jeito de escrever, parabéns!! Ainda não conhecia o livro e confesso que lendo sua resenha não me senti entusiasmada para lê-lo de imediato. Quem sabe um dia né?
ResponderExcluirxoxo
http://amigadaleitora.blogspot.com.br/
Eu sempre fico morrendo de inveja do modo que você escreve, acho genial e muito profissional por isso penso que se você escrever um livro, eu o lerei imediatamente. às vezes dar asas a imaginação sem saber que algo existe pode ser bom, mas enfim... acaba que não poderia vender o livro como algo original e inovador.
ResponderExcluirBom, fiquei curiosa sobre este livro, porque pela capa eu não tinha noção do que se tratava e nunca nem me dei ao trabalho de ler a sinopse.
Beijos. Tudo Tem Refrão
Já varias resenhas sobre esse livro e nem sei muito o que pensar, vou ter que ler para tirar minhas próprias conclusões. A historia parece ser legal, sabe tenho vontade de ler, mas não colocaria ele no inicio da lista que por sinl está enorme desde a bienal.
ResponderExcluirBeijos Bruna.
Sweet Shyness
Resenha muito bem articulada e argumentativa, Bel. Ótima, como sempre. Parabéns!
ResponderExcluirAchei interessante a distopia em pauta. Muito mesmo, inclusive. Mas ainda não me é opção de leitura no momento... não sei, acho que faltou algo para me convencer. :\
Um abraço!
http://universoliterario.blogspot.com.br
Eu sempre (sempre!) me impressiono com a sua escrita quando leio uma resenha sua. Você consegue ver detalhes em um livro que eu nunca seria capaz de enxergar. Acho que é essa coisa de ser aspirante a escritora, como você disse, que faz com que você enxergue o estilo do autor. Não fazia ideia que esse livro era uma distopia, e fiquei bem impressionada com isso, porque a capa não transmite esse tema. Agora, achei que a história deva ser bem evoluída, apesar dos erros de que você comentou. Não sei, me interessei pelo local, pela menina com a boneca no lugar da mão. Achei tudo tão real e tão distante ao mesmo tempo. No futuro vou dar uma chance ao livro - até porque mais de 50% dos meus livros favoritos são publicados pela Intrínseca. Coincidência? Rsrs.
ResponderExcluirBeijos.
A Íntriseca realmente arrasa na escolha de títulos para a publicação. É uma pena que não publiquem brasileiros, mas editora nenhuma é perfeita, né? Beijo!
ExcluirAdoooorei o modo como você escreve, primeira vez que visito seu espaço e me encantei pela sua resenha. Cheguei a rir nas partes que citou sua falta de criatividade e ter colocado o nome do 'livro' em inglês kkkk, me interessei pelo livro "Puros" desde que vi a capa e mais ainda agora, depois de saber que apesar dos seus defeitos não possui o que para mim é o mais entediante a falta de inovação, haha.
ResponderExcluirBeijo, tô seguindo aqui!
Ok, o que foi isso? Estou completamente pasma com a sua resenha e a sua forma de escrita, mulher, você escreve muito bem. Sinceramente, eu me considero uma pessoa culta no português, ou quase, que conhece diversas palavras e seus significados, além de expressões pouco usadas mesmo sem conhecer de fato as regras gramaticais, mas comparada a você eu sou quase uma analfabeta! que vocabulário perfeito gente!
ResponderExcluirEnfim, agora na resenha. Todo aspirante a escritor já cometeu o erro de por sua obra com o nome em inglês, rsrs, é só porque é mais atrativo e melódico que as palavras em português, além disso é mais curioso já que você tem que refletir um pouco e buscar a tradução do nome no seu cérebro.
Gostei de Puros, achei bem criativo apesar de eu, assim como você, preferir uma estória narrada em primeira pessoa onde eu possa conseguir um contato maior com o principal.
A capa me lembrou muito a de Belo Desastre, mas sua resenha, extremamente bem feita, me mostrou que:
1- Focinho de porco não é tomada.
2- A proposta é muito mais original.
3- Eu não vou saber o por quê da borboleta até ler a obra.
Gostei muito da sua resenha, foi simplesmente maravilhosa e esclarecedora.
Ótimo post.
Dá uma passadinha lá no blog?
Beijos.
Caroline.
http://comaliterario.blogspot.com.br/
Muito obrigada pelos elogios! Sim, título em inglês soa bem mais melódico mesmo. Sem contar que, caso o título seja uma porcaria (dar títulos é difícil '__') não soa tanto assim HUDASHDUASD
ExcluirEu não me interessei muito por esse livro, confesso que nem a sinopse dele eu li, tanto que não sabia se tratar de uma distopia, não sei se me interessei ainda, depois de ler sua resenha, achei legal a analogia no final que você fez, às vezes não consigo fazer isso com livros ficcionais ou distópicos --' rs
ResponderExcluirBeijos
Meu outro lado
Mais um livro de distopia que você me faz ficar louca para ler. Sério, adorei a resenha. Apesar dos pontos negativos, acho que deve ser uma ótima experiência lê-lo. Também escrevo fanfics, só que de bandas. Estou parada faz um tempo, mas tenho vontade de voltar. É uma ótima forma de desenvolver a escrita.
ResponderExcluirSim! Não exige aquela criatividade violenta que livros e contos seus exigem, sabe?
ExcluirFanfic de banda é algo que sempre tive curiosidade para ler haha Vou olhar algumas. Curiosidade porque não tem todo um universo ficcional, né, só os "personagens"...
Oi Oi Isabel!
ResponderExcluirTem um tempinho que li Puros, e achei fantástico!
Claro, não fiz uma análise mental criteriosa, por que não senti essa necessidade. Ela me convenceu com seu enredo e com sua narrativa, e isso me bastou.
Eu gostei extremamente da tua resenha, tu expôs teu ponto de vista de forma clara e MUITO bem escrita. Tô babando aqui nas duas resenhas tuas que já li, você esbanja maturidade no que escreve, parabéns!
Beijos!
@pirulitolimao | http://agarotadalivrariia.blogspot.com.br/