Uma dos aspectos mais marcantes da chamada “literatura de
entretenimento” é a maneira com que se colocam cenas de ação e acontecimentos
marcantes – o autor deve ser habilidoso o suficiente para distribuí-las de uma
maneira tão boa que o leitor não consiga largar o livro (veja: GREEN, John em A culpa é das estrelas; WINSLOW, Don em Selvagens dentre outros).
Isso pode ser bom, já que cria uma literatura mais
semelhante ao cinema, e, portanto, mais palatável para leitores menos
concentrados. O problema (que não é uma catastofre ou calamidade como afirmam
os pseudo-cults, mas sim uma pedrinha no caminho) é que os chamados clássicos, que discorrem sobre as
grandes questões humanas, dificilmente serão páreo para esses livros quando
escolhidos por algum jovem que cresceu cheio de informação e rotulados, quase
sempre, como chatos.
Quando solicitei Gênesis
pela parceria, sinceramente não sabia o que esperar. Lembrava de ter lido
alguma resenha há uns meses, o que atiçou minha curiosidade, mas não sabia
dizer qual era o gênero literário, premissa nem nada do tipo. Fui no escuro, e
comecei a ler só para dar uma pausa na leitura dos Irmãos Karamazov, de Dotoeivsky – que, embora seja maravilhoso, é
muito denso, fato que faz com que eu mal tenha passado da ducentésima
página em duas semanas.
Bom, falhei miseravelmente em achar uma leitura menos densa:
Gênesis, ao contrário do que sua capa
indica, é sobre as tais grandes questões humanas que me deixam tão exausta em
Dostoeivsky. O grande autor russo tem o hábito de parar completamente de falar
dos irmãos Karamazov e de seu infame pai para diálogos sobre Deus, religião e o
espírito humano. Com um só foco – o que é ser humano – Bernard Beckett acaba
fazendo o mesmo.
Anaximandra mora na República de Platão, uma ilha em algum
lugar isolado que é a sociedade dos sonhos sem doenças, fome ou violência. O
controle, porém, é bem rígido: todos os cidadãos são separados dos pais com
alguns meses de vida, e encaminhados para abrigos do governo onde, depois de
testes genéticos, são separados em “castas” – filósofos, trabalhadores,
soldados e técnicos. Coloco castas entre aspas porque, apesar de lembrar o
sistema indiano a primeira vista, não existem privilégios claros entre uma
casta e outra – a igualdade social é tão grande quanto se pode ser.
Anax é da “casta” dos filósofos, e será testada para entrar
na Academia, o órgão que governa essa tal sociedade utópica. O tema de sua
pesquisa é a vida de Adam Forde, soldado que mudou para sempre a história da
República de Platão.
Nascido na casta dos filósofos, Adam foi transferido para os
soldados por desobedecer as regras, viajando escondido aos treze anos para o
alojamento de uma amiga após uma competição de luta livre. A República de
Platão é completamente isolada do resto do mundo, e todos os barcos que tentam
chegar perto dela são abatidos – a peste e o caos reinam lá fora, sendo a prevenção
o melhor caminho. Adam seguindo de novo o seu espírito impetuoso salva a
tripulante de uma embarcação que se aproxima do seu posto de vigia.
Gênesis não tem
muita ação: todo o livro se passa dentro da sala onde Anaximandra narra a seus
avaliadores quem foi Adam e o que ele fez de tão importante. Durante todo o
livro especulei sobre qual seria a ligação entre Anax e Adam – afinal, o autor
não poderia ter escolhido a garota como protagonista ao acaso. Se me permitem o
conselho, não o façam caso leiam o livro: a resposta é tão surpreendente (mas
não mirabolante) que nem nos meus sonhos eu imaginaria o caminho que Bernard
Beckett deu para Gênesis.
Apesar de ter esse enredo meio lentão, Gênesis não me cansou em nenhum momento, e nem pensei em largar o
livro – mesmo nos trechos em que Anax discorre sobre o viés mais “filosófico”
das ações de Adam minha curiosidade foi despertada. São duzentas páginas que
por um lado parecem vinte (a leitura flui maravilhosamente) por outro duas mil
(caso você se deixe levar pelas reflexões que o autor propõe). Um ótimo
tratamento para leitores viciados em adrenalina.
Eu gostei da sua resenha sobre este livro, eu meio que sou viciado em adrenalina, não paro e este parece ser um livro mais calmo, brando, bem simples, sem cenas fortes e carregadas de aventuras e emoções que nos deixam loucos.
ResponderExcluirFiquei bem interessado mesmo.
Bjos!
http://livronasmaos.blogspot.com.br/
Adorei sua resenha.
ResponderExcluirApesar da falta de ação, fiquei realmente interessada. Eu gosto de livros assim.
Carissa
http://artearoundtheworld.blogspot.com
Oi Isabel, eu adorei sua resenha. Apesar de ter terminado de ler esse livro com uma sensação totalmente diferente da sua (eu não sei porque motivo fiquei desanimada com a história, apesar de não conseguir desgrudar e achar o final fantástico), tenho que concordar que a obra é incrivelmente original. É um livro que vale a pena ser lido, principalmente por causa das reflexões que traz.
ResponderExcluirBeijos
Achei a história interessante e adoro essa capa, mas não sei se é muito a minha cara. Tem jeito de livro que eu sempre vou querer ler, mas sempre vou deixar pra lá =/
ResponderExcluirSobre o NaNoWriMo: continuo, mas desisti de alcançar a meta. Nem tô nas 10 mil palavras ainda!
Oi Isabel,
ResponderExcluirEu não sei o que falar sobre sua resenha! Perfeita, acho que já comentei uma ou duas vezes o quanto gosto do modo como escreve e linka as ideias. Muito bom mesmo. Gosto de livros densos, que nos fazem pensar, apesar de que me dou bem com quase todo tipo de leitura.
Fico ansioso esperando sua resenha dos Irmãos Karamazov, amo os russos e este é um dos clássicos que quero muito ler.
E, agora tenho de conhecer Beckett.
Dois abraços ;)
Esse é um livro que me agradaria muito MESMO!
ResponderExcluirJuro pra você que não pensava que fosse assim pela capa. Pela capa eu pensava algo mais parecido com "Feios", ou algo assim.
Excelente indicação!
Um beijo,
Luara - Estante Vertical
Pela capa e pelo titulo eu ficaria interessada, mas sabendo do que se trata, não é nada que me desperte o interesse e não leria. Pelo menos não por agora...
ResponderExcluirMas parabens pela resenha! Tá perfeita e realmente expoe tudo pra se ter uma ótima noção do que se trata!
Bjokas
Flavia - Livros e Chocolate
Ei Isabel, eu era interessado por esse livro só de ter visto a capa, agora depois de sua resenha que foi a primeira que li do livro, fiquei altamente curioso. Apesar da falta de ação, se revela um livro incrivel. Bjs
ResponderExcluirSó pela nota eu já entendi que tenho de ler o livro. E concordo com você, hoje em dia, é muito mais fácil apreciar os livros de entretenimento, eu os amo, mas quando pego um livro com verdadeiro 'conteúdo', dou muito mais valor, tanto por ser um desafio quanto por me adicionar muito mais coisas do que a maioria dos livros que tenho na estante.
ResponderExcluirBeijos. Tudo Tem Refrão
Caraca, nunca tinha ouvido falar desse livro e fiquei apaixonada pelo enredo. Sério, deve ser muito bom! Achei o nome e a capa muito bons, então, logo supus que o livro também fosse (e acertei!). Vou adicionar o livro a minha lista para ler já!
ResponderExcluirBel, taí um livro que eu quero muito ler. Acho que nunca li uma resenha dele tão boa e esclarecedora como a sua, sério. Confesso que esperava algo diferente, mas a minha curiosidade em conferir a obra não diminuiu de forma alguma. Muito pelo contrário. Livros com um fundo sério, com conteúdo de verdade, com certeza merecem ser lidos.
ResponderExcluirUm abraço!
http://universoliterario.blogspot.com.br
Oii Isabel!!
ResponderExcluirApesar da ótima nota, a história do livro não me atraiu. Gostei da resenha, da nota, da capa e tudo mais, mas a história não me conquistou, nem tampouco despertou a minha curiosidade/atenção à leitura.
Beijo!
Oi, Isabel.
ResponderExcluirDevo dizer que o seu blog está na lista dos que eu leio por prazer. Juro. Está na minha lista dos blogs diários, que eu leio everyday simplesmente porque me interessam, junto com artigos feministas/políticos/etc.
Gosto de jeito como você escreve, crítica, descreve. E gosto da premissa do blog.
Espero que ele fique por muito tempo na blogosfera. :D
Beijos.
Amor, Ana.
http://quemprecisaviver.blogspot.com.br/