O filho de netuno

Em O herói perdido (volume um da série Heróis do Olimpo, de Rick Riordan) Jason, herói romano do acampamento Júpiter e filho deste último ilustre, foi ao já conhecido acampamento meio sangue, aprendendo e lutando lado a lado com os heróis gregos.

Agora é a vez de Percy Jackson, filho de Poseidon e protagonista de Percy Jackson e os olimpianos, de perder suas lembranças: ele não se lembra de nada de sua vida antes da loba Lupa, a lendária figura romana, resgatá-lo e treiná-lo. Depois de uma jornada um pouco penosa, o rapaz chega ao acampamento Júpiter, tão diferente do que ele conhece que a amnésia é até conveniente.

Assim como na história, os romanos são duros e belicosos, sempre alertas para a guerra e pouco misericordiosos com covardes e inimigos. Frank, filho de uma oficial canadense morta no Afeganistão e com milenar sangue chinês, crê se encaixar na primeira categoria – ele se sente tão patético quanto a maioria dos adolescentes.

Já Hazel é mais segura quanto a isso, mas guarda segredos tão grandes quanto a suas origens que não ousa se aproximar de ninguém. Não é como se alguém quisesse, aliás: ser filha do deus da morte traz uma aura fantasmagórica quase que natural. Agora os três terão que superar seus próprios medos e cruzar seus limites contra um inimigo maior e mais poderoso do que qualquer um já enfrentado, sendo a morte a única opção junto a vitória.

Amei essa fan art, tipo... muito!

Em termos de qualidade geral, O filho de netuno é bem parecido com O herói perdido, confirmando minha suspeita de que Rick Riordan é o melhor que há em literatura de entretenimento infanto-juvenil – a queda de qualidade sempre esperada por leitores de séries basicamente não ocorre em seu caso.

Gostei levemente mais deste volume graças a apresentação da mitologia romana – a novidade caiu bem. Graças a vastidão de histórias gregas, Rick Riordan não precisou ser repetitivo durante toda a série Percy Jackson e os olimpianos, assim como também em O herói perdido, mas o acampamento Júpiter deu um ar diferente e bem vindo.

Apesar de não lê-la tanto assim, literatura infanto-juvenil geralmente me agrada. É difícil escrever de forma simples, e os autores desse gênero são mestres – muitos deles chegando o primor de inserir aspectos mais adultos sem se tornarem entediantes para os pequenos. É o caso de Lemony Snicket em Desventuras em série (uma das minhas séries favoritas para todo o sempre), com milhares de fatos que parecem aleatórios, só que não são, e os sofrimentos bem maduros dos Baudelaire.

Rick Riordan faz isso de maneira mais sutil: os seus personagens são bem complexos, com passados bem bolados e características bem distintas entre si, mas que acabam se completando. Fazendo com que o leitor relacione sentimentos de Percy, Hazel ou Frank as suas experiências, ele desmitifica que entretenimento é igual a, necessariamente, historinhas fúteis.

Em A marca de Atena, ambos os acampamentos se cruzarão na luta contra Gaia, e é difícil saber como vai terminar – com certeza com um final feliz, mas quem disse que não existem mil versões dele?