17 novembro 2012

Obrigado por fumar




Ao meu ver, boa parte da oposição ao politicamente correto (leia-se a ideia de alterar linguagens e costumes para que as mesmos não ofendam minorias, e não a cartilha) é feita por pessoas no mínimo preguiçosas, no máximo de fato preconceituosas, que em qualquer caso se recusam a admitir que os tempos mudaram e que o respeito é para todos, com pequenas coisas como palavrinhas e expressões sendo essenciais para quebrar um enorme e longo legado de opressão.

Em algumas (poucas!) coisas, porém, o politicamente correto cerceia a liberdade do individuo. A cruzada contra fumantes, bebedores (aliás, qual a palavra para quem bebe ocasionalmente, ou seja, não é alcoólatra?) e gordos, por exemplo, é algo que me irrita muito. Nos foquemos nos fumantes.





No século passado, fumar era chique, cool, ousado – a propaganda e as estrelas de cinema garantiam que isso ocorresse. Esse é o apelo que Nick, lobista da indústria do cigarro que protagoniza o filme Obrigado por fumar quer resgatar, ganhando de volta para o seu produto a glória de outros tempos.
É claro que a mídia, as associações de médicos e alguns políticos não exatamente o ajudam: assim como na vida real, a oposição é forte.

Não me compreendam mal: sim, acho que o máximo de conscientização possível quanto aos males do cigarro deve ser dado, para que ninguém entre nessa sem saber com o que está lidando. Mas e aqueles (adultos) que já fizeram a sua escolha? Eles devem ser hostilizados e criticados duramente como se fumar fosse algo criminoso, como se os não fumantes não possuíssem os seus próprios venenos pessoais (quem não tem?)? Até mascar chicletes sem açúcar ou tomar suco demais podem fazer mal. Essa é uma das palavras que menos gosto no mundo pela freqüência de sua aplicação leviana, mas condenar fumantes é uma atitude bastante hipócrita. Cuidar da própria vida, que tal?



Voltando a Nick: com argumentos habilidosos, ele consegue muitas vezes livrar a indústria que representa de sanções e ainda mais impopularidade. No melhor estilo O senhor das armas, ele não vê o que faz como algo ruim – afinal, é um trabalho, alguém tem de que fazê-lo: Nick tem aluguel, hipoteca e a escola do filho para pagar.

Entra aí um dilema moral que não foi muito explorado: como criar um filho se o que você faz para viver demanda uma “flexibilidade moral”? Obrigado por fumar foi raso nesse aspecto – para minha felicidade, já que seria complicado abordar isso sem cair no maniqueísmo chato que os filmes americanos que abordam família geralmente têm aos montes.



A mensagem é bastante democrática, exaltando um direito de escolha que nunca tivemos realmente e nos arriscamos cada vez mais a perder. Leve sem perder a capacidade de fazer refletir, gargalhei muito com Obrigado por fumar, sobretudo nas cenas em que Nick se encontra com seus melhores amigos, lobista das indústrias das armas e do álcool. Minha reserva quanto ao filme é leve: detestei o estereótipo de político bobão colocado no inimigo número um do cigarro, um senador de Iowa. Fora isso, Obrigado que fumar é mais do que recomendado.



13 comentários:

  1. Ahhh, este filme é tão legal. Está entre meus favoritos. Gosto muito do Aaron e ele é o novo Frankenstein! Acho que será lançado em 2013.
    Eu adoro a história deste filme, o roteiro é muito esperto e os diálogos muito bons.
    "Cuidar da própria vida, que tal?" (Eu deveria por isso numa camiseta e sair por aí:)

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  2. Não conhecia este filme, mas agora que li a resenha gostei e me interessei.
    Vou procurar ele para ver amanhã.

    Adorei o blog e já estou seguindo, se puder, confere o meu e segue lá também.
    http://livronasmaos.blogspot.com.br/

    Bjão!

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  3. Assisti a esse filme em uma aula de ética na faculdade, quando ainda cursava comunicação (foi a única boa escolha da professora em todo o semestre). Infelizmente não rendeu a discussão que podia ter rendido; acho que esse filme tem uma temática muito boa para futuros profissionais do meio.

    Quanto a hostilizar fumantes: não hostilizo o fumante pela escolha de fumar (como você disse, cada um tem seu próprio veneno e, mesmo que eu não entenda, não tenho nada a ver com isso), mas por tornar o ambiente extremamente desagradável para as dezenas de não-fumantes, sim. É um ~delícia quando tu está na parada de ônibus e a pessoa da frente, que não quer perder o lugarzinho na fila, fica fumando na tua cara, com o ventinho trazendo o fedor todo pra ti

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  4. Oi Isabel!
    Eu adoro esse filme! E também gosto bastante desse ator (Aaron Eckhart). O dilema do personagem é bem interessante.
    Eu não fumo, nunca fumei e nunca tive vontade, mas não gosto de gente fumando do meu lado. Detesto cheiro de cigarro. Não hostilizo os fumantes, mas dei graças quando foi criada a lei anti-fumo. Não é porque uma pessoa escolheu fazer mal a ela mesma que ela tem direito de fazer mal à saúde dos outros - o que não acontece quando alguém mastiga um Trident :P

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  5. OIi Isabel!!
    Nunca assisti a esse filme, mas deve ser bem interessante. Vou dar uma conferida nele, pois quero saber que argumentos tão habilidosos foram esses, rs. Sem contar que um B+ é algo que vale a pena conferir, haha
    Beijo!

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  6. Realmente este filme, Isabel, é muito bom e gera as várias reflexões que vc abordou. Vale a pena assisti-lo por este motivo.
    Já viu " O lenhador"? Também é um filme muito reflexivo (o melhor que já vi sobre pedofilia)
    BOA SEMANA!

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  7. Oi Isabel!
    Você sempre indicando filmes que eu não conhecia. Até acho que vi esse filme por aí, mas não tive muita curiosidade em ver.
    Eu estou um momento só "filmes de comédia romântica", mas é um filme que eu veria sim.

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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  8. Adoro quando fala desses filmes, eu sempre salvo os nomes pra depois assisti. Gostei muito desse

    E olha que estou atrasado em todas minhas séries e só vejo filme. Já assistiu Branca de Neve e o Caçador? Não é perfeito, mas cumpre o papel de diverti, eu gostei.

    Beijos

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  9. A coisa com fumantes é que eles são tratados como uns pseudo-criminosos sem cadeia, como se fumar fosse igual a estupro ou coisa pior, o vício é tratado com o mesmo asco como se fosse crack. É coisa de gente extremada que se joga num movimento sem nem saber qual é a ideia - teremos uma nova e, dessa vez não declarada, Inquisição?
    Minha namorada fuma, eu não, e isso nunca foi um problema. Acho que tá na hora de cada um cuidar da própria vida - e vigiar o próprio pulmão.

    http://quemprecisaviver.blogspot.com.br/

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  10. Não conhecia o filme, obrigada por indicar.
    Beijos

    cocacolaecupcake.blogspot.com.br

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  11. Nunca tinha ouvido falar desse filme, mas achei muito interessante porque em Publicidade sempre falamos muito do tema cigarro. Teve até uma exposição na minha faculdade de propagandas de cigarro ao longo do tempo e até na série Mad Men fala um pouco sobre isso.
    Não tenho preconceito com quem fuma, acho até cool haha, mas desde que não seja na minha cara. Não sou obrigada.

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  12. Bel, vi esse filme faz alguns anos... ler seus comentários me fez relembrar de coisas que no momento eu não recordava. Achei-o bacana, interessante e que merece ser assistido, apesar dos esteriótipos, como você bem citou. Adorei!

    Um abraço!
    http://universoliterario.blogspot.com.br

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