Até a quarta série estudei em uma escola com uma biblioteca
maravilhosa. Apesar de ter (acho) menos de quatrocentos alunos, a escola tinha
umas dez vezes mais do que isso em livros. Eu, que sempre gostei de ler,
chegava ao “absurdo” da taxa de uma obra por dia – sem muito dever de casa e
com tantos livros a disposição, era fácil, tranqüilo e delicioso.
Infelizmente a
segunda etapa do ensino fundamental veio, e com ela colégios com depositórios
de livros didáticos e módulos ao invés de bibliotecas de verdade. Em termos de
literatura (tanto leitura como produção – eu fazia umas coisas bem legais para
uma menina de nove anos) classifiquei meus últimos anos naquele paraíso para
mini-bookaholics como melhores da minha vida. Ou classificava.
Porque nesse sentido, 2012 foi quase perfeito. Não li uma
livro por dia letivo, mas graças a blogosfera descobri autores maravilhosos e
dicas valiosas de penchichas. Não produzi livretos super criativos (um dia
encontro a historinha das bruxas espiãs e posto – sério, eu devia comer alguma
coisa alucinógena no recreio)mas terminei dois livros (um deles muito chinfrin,
mas fazer o quê) e tenho um banco gigante de idéias gritando para serem usadas.
Enfim, essa lista foi dolorosamente difícil de fazer. Não
entendo essa mania de top dez: não poderia ser top vinte, top trinta? Até
pensei em fazer, mas como um top trinta meu ficaria maior do que a bíblia
(capacidade de síntese, onde foi que eu te deixei?), então eis o veredito:
10. Cisnes selvagens , de Jung Chang (resenha)
Cisnes selvagens é a jornada de três gerações de mulheres da
família da autora, que de uma maneira ou de outra, participaram ativamente da
construção da China no último século – sua avó foi concubina de um general, sua
mãe do alto escalão do partido comunista e ela própria membro da guarda
vermelha. Ler não-ficção em geral me cansa bastante, mas Cisnes selvagens tem um tom narrativo de romance que contribuiu
para que isso não acontecesse. Uma ótima pedida para quem quer conhecer mais um
pouco desse misterioso gigante chamado China.
9. Caminhos de sangue, de Moira Young (resenha)
Como falar de Caminhos
de sangue? Minha leitura do momento é a sua continuação, que conseguiu o
que eu acreditava ser impossível: superar o primeiro volume da série Dustlands, da autora estreante Moira
Young.
Saba viveu a vida inteira em um lugar poeirento, infértil e
isolado chamado Lagoa da prata. A vida é difícil, mas constante – pelo menos
até que Lugh, seu irmão e porto seguro, é seqüestrado pelos Tonton, membros da
milícia dominante desse anárquico novo mundo. A garota então se arrisca entre
viciados, viajantes mal-intencionados e um cenário devastado por catástrofes
ambientais, onde o deserto é regra e uma gota d’água ouro. Muitos se irritarão
com a linguagem – o livro é narrado por Saba, que nunca viu um livro ou palavra
escrita na vida – mas persistam: depois que você se acostuma, é difícil largar.
8. O concorrente, de Richard Bachman (resenha)
Freqüentemente, distopias não são sociedades mirabolantes, e
sim exageros de situações que já ocorrem. Em O concorrente, Bachman se foca em dois exageros basicamente
cotidianos: o abismo entre os ricos e pobres e as ilusões criadas pela
indústria de entretenimento se provam a cada segundo, seja dando um passeio
pela cidade ou ligando a televisão para assistir as irmãs Kardashian (é, se
isso fosse crime acho que eu seria presa).
A magia de O
concorrente está aí mesmo. Ben Richards, o protagonista, se submete a uma
corrida potencialmente mortal a fim de ganhar o dinheiro necessário para
custear o tratamento de sua filhinha doente, coisa apenas uns passos a frente
das humilhações às quais muitos se submetem em reality shows.
7. Emma, de Jane Austen (resenha)
A mimadissima Emma Woodhouse, idolatrada por todos de sua
pequena comunidade no interior da Inglaterra do século dezenove, pode parecer
em uma análise descuidada uma protagonista arrogante e egoísta, mas se tornou
minha heroína favorita dos livros de Jane Austen (o único que não li foi A
abadia de Northanger). Com seu desastroso hábito de casamenteira, a filha de um
gentil-homem hipocondríaco causa mais confusão do que felicidade, cenário
propício para a acidez discreta, mas certeira da autora. Podem ficar com
Elizabeth Bennet e o Sr.Darcy, que Emma, Knighthley e Harriet me esperam para o
chá.
6. Guerra dos tronos, de George Martin (resenha)
O que falar de a Guerra dos tronos? Há muito tempo um mundo
ficcional não me despertava tanto a atenção que eu queria viver nele, mas foi
assim com Westeros. Política, amor e ambição; tudo que há de mais sujo e mais
bonito no ser humano retratado em um universo paralelo com características
fantásticas e medievais. Não fica melhor. Não mesmo.
5. Garotas de vidro, de Laurie Halse Anderson (resenha)
Garotas de vidro é
um tapa na cara de quem diz que livros para adolescentes são fúteis. Uma aposta
e as pressões comuns da adolescência foram uma combinação explosiva para Lia e
Cassie, duas garotas de classe média alta que acabaram por desenvolver
transtornos alimentares – respectivamente anorexia e bulimia. Lia foi tratada
(sem muitos resultados) e Cassie continuou com sua vida normal – fator que
contribuiu muito para o afastamento das duas. Elas não se falavam há meses
quando um desastre abala profundamente a já frágil psique de Lia: Cassie é
encontrada morta em um quarto de hotel, depois de ligar para a ex-melhor amiga
trinta e três vezes.
O turbilhão de emoções de alguém com essa doença é expresso
muito bem por Laurie Anderson, que brinca com o leitor, fazendo-o triste, com
raiva, enojado e feliz, amando e odiando a protagonista – tudo isso em um único
capítulo. Mais do que um ótimo livro, Garotas
de vidro é um alerta e um grito por ajuda de todas as garotas de vidro reais
por aí esperando por um empurrãozinho para descongelar.
4. Precisamos falar sobre o Kevin, de Lionel Shriver (resenha)
Eva Khatchadourian conta de forma tão sincera e crua o seu
relacionamento com seu filho psicopata Kevin que é impossível acreditar que
exista outra versão. Fui um pouco dura na minha resenha sobre o filme ao
defender Eva: apesar de continuar achando um pouco sem coração quem culpa um
ser tão sofrido pela crueldade patológica de seu filho, é na versão literária
que fica claro que todos os recursos foram esgotados. Kevin não tinha jeito, e
o desastre anunciado nas primeiras páginas do livro foi marcado na ocasião de
seu nascimento, com a habilidade ímpar da escritora necessária para prender o
leitor ao desenrolar dos acontecimentos.
3. Sobrevivente, de Chuck Palahniuk (resenha)
Reza a lenda que sua primeira leitura de Chuck Palahniuk que
você lê será a sua favorita – afinal, depois de um tempo você se acostuma com
as possibilidades ferradas, mas reais, do escritor do livro que deu origem ao
fenômeno Clube da luta.
É lenda porque já peguei as aventuras de Tender Branson – ex
membro de uma comunidade de fanáticos religosos, ex empregado doméstico
“modelo”, ex dono de um disk-suicídio – várias vezes e em nenhuma deles Sobrevivente deixou de me surpreender. Em
cada linha Palahniuk apulanha as convenções sociais com uma faca afiadíssima.
Ao fazer com que seus personagens revelem coisas que a maioria de nós não
contaria nem a si mesmo, cria-se uma confiança única leitor/autor, onde até
mesmo o absurdo projeto Mayhem do supracitado Clube da luta é possível.
1. As vantagens de ser invisível, de Stephen Chbosky (resenha)
Acho que é simplesmente impossível falar da adolescência de
maneira mais sensível e maravilhosa do que esse livro. Pelos olhos de Charlie –
o que o livro chama de wallflower, uma pessoa que observa calada sem participar
– vemos todo tipo de situação comum se transformar em algo lindo e complexo. A
identificação que senti com o personagem, a escrita simples mas tocante e
diversos outros aspectos me fazem amar TANTO As vantagens de ser invisível que quero que todo adolescente no
mundo o leia. É com certeza o meu livro preferido, maas...
1. A visita cruel do tempo, de Jennifer Egan (resenha)
Existe A visita cruel
do tempo. Parece estranho que eu coloque dois livros tão diferentes
empatados em primeiro lugar, mas ambos são brilhantes. É uma reclamação
constante dos blogueiros que em livros narrados por muitos personagens fica difícil
diferenciar um do outro – são poucos autores que tem habilidade o suficiente
para mudar o seu jeito de escrever de maneira significativa, no espaço de
alguns capítulos. Mas não dá para falar isso sobre o vencedor do Pulitzer de
Jennifer Egan: cada capítulo do livro é centrado em um personagem diferente
(que são conectados das formas mais estranhas possível), com enredo,
personalidade e estilo de escrita próprios e completamente diferentes entre si.
Primeira, segunda e terceira pessoas, reportagem, historinha e até PowerPoint –
A visita cruel do tempo tem um
cardápio amplo nesse sentido, é só escolher. A cerejinha no bolo, ou melhor,
raspas de chocolate meio-amargo, são os personagens, complexos, completos, maus,
bons – enfim, tão fascinantes quanto foram minhas leituras de 2012.
Comecei a ler Precisamos falar sobre Kevin e acabei parando nas primeiras 10 páginas, mas quero muito continuar. Amei essa resenha sobre Garotas de Vidro, com certeza uma das minhas próximas leituras!
ResponderExcluirObg Layla! Os dois valem muitomuito a pena, super recomendo. Já assistiu o filme de Precisamos falar sobre o Kevin? É bom também!
ExcluirDessa lista, só li Perks!!! haha E amei!! Mas também quero ler As Crônicas de Gelo e Fogo, ouvi dizer que é ótimo! :D
ResponderExcluirBeijos
http://spaceindaze.blogspot.com
O melhor de tudo da sua lista: foram livros claramente escolhidos por vc! E como é bom ter 10 livros para escolher entre tantos outros que foram lidos, como é bom!
ResponderExcluirAs escolas que estudei tinham bibliotecas trágicas. Só livros didáticos e enciclopédias e a maioria em péssimo estado.
ResponderExcluirA blogosfera fez meu amor por livros crescer e me ajudou a descobrir coisas incríveis.
Gênero não-ficção é algo que já li há muito tempo atrás. Eu sou mais ficção:)
Eu já li uns dois livros do King, não gosto do estilo dele. Prefiro quando as obras dele chegam ao cinema.
Tenho problemas com a Emma. Não acho ela legal.
Caminhos de sangue me chamou muita atenção.
Oi Isabel!
ResponderExcluirEu também vivia pegando livrinhos na biblioteca da escola, era tão gostoso! Li a coleção Vaga-Lume quase inteira assim.
Gostei do seu top 10! O Concorrente é muito bom, e não estou falando só por ser fã do King ;)
Beijos,
Sora - Meu Jardim de Livros
Eu quero ler Precisamos Falar Sobre o Kevin, vi o filme e achei ótimo.
ResponderExcluirBjão!
http://livronasmaos.blogspot.com.br/
Ai meu Deus... fazer um Top 10 é deprimente mesmo. Queria fazer um post desses, mas fico só pensando na dificuldade rsrsrs
ResponderExcluirAlguns livros aí nunca nem tinha ouvido falar e fiquei super curiosa, já outros tenho vontade de ler, e tenho até um aqui na fila de leitura
Bjokas
Flavia - Livros e Chocolate
gente eu nao li nenhum desses livros '-'
ResponderExcluirainda to lendo guerra dos tronos.
Isabel, eu tive a sorte de estudar em uma escola - a mesma a vida toda, rs - que tnha até um bom acervo, que só fui esgotar quase no fim do segundo grau já.
ResponderExcluirSua lista tem alguns livros que ainda quero muito ler, como Caminhos de Sangue, Precisamos Falar Sobre o Kevin, A Visita Cruel do Tempo, e, claro, Guerra dos Tronos.
Dos que já li, Sobrevivente e Garotas de Vidro estão entre os melhores deste ano.
Grande abraço ;)
Oi, Isabel!
ResponderExcluirDesses, o que mais me interessa é Emma. Já li três obras da autora Jane Austen e me apaixonei. Espero que Emma seja o próximo.
Beijos!
http://critiquinha.com/
Ótimas escolhas!
ResponderExcluirAdorei conhecer seu blog
Seguindo!
Beijos
Rizia - Livroterapias
http://livroterapias.blogspot.com.br/
Também tenho problemas com "top x" pq nunca consigo escolher só x coisas.
ResponderExcluirEnfim, que sorte a sua de ter uma biblioteca enorme a disposição quando criança, na minha antiga escola tinha uma minúscula de faz de conta, ninguem ia ali e acredito que ela existia apenas por obrigação (já ouvi falar que toda escola tem que ter uma, mesmo que quase não haja livros).
Nossa, com certeza o livro As vantagens de ser invisível foi o livro que mais gostei de todos que li em 2012!
Quero muito ler Precisamos falar sobre o Kevin e Garotas de vidro, tomara que eu leia em 2013 heheh :)
POxa...bom que na sua escola tem uma biblioteca maravilhosaa! Na que estudei passava fome de livro! kkkkkkk Realmente a blogosfera nos proporciona o conhecimento de vários livros e autores. Adorei...e também amei Garotas de Vidro. Quero ler os outros.
ResponderExcluirBeijos!
Paloma Viricio- Jornalismo na Alma
Que vergonha, não li nenhum dos livros da sua lista, mas como já li resenha de vários, estou louca para lê-los. Por conta da faculdade não dá para ler tanto quanto gostaria, é agora nas férias que vou me deleitar :D
ResponderExcluirA biblioteca da minha escola era uma bosta, só tinha livro velho e desatualizado. Não que isso me impedia de ler alguns.
Os Isabel, muito legal esse top 10! Eu não como faria um, já que, depois que adentrei a blogosfera também descobri "milagres" literários! rsrs
ResponderExcluirNão li nenhum dos livros citados, apesar de vários deles estarem entre meus desejados. Quem sabe em 2013? rsrs
Beijos
Ola...
ResponderExcluirbom, eu não conheco este primeiro livro, mais achei essa capa bem interessante..
tenho muita vontade de ler caminhos de sangue, já li resenhas ótimas..
quero muito ler os livros de jane austen, mais ainda não consegui :(
Nem me fala de Georde Martin, tentei ler o primeiro livro, mais tenho tantos livros na fila que abandonei..
bjs
http://dailyofbooks.blogspot.com.br/
Estou aos poucos montando meu top 10, na verdade, ia fazer um top 5. Só que estava bem mais dificil.
ResponderExcluirAcredita que ainda não li nenhum desses livros que você falou? Mas tenho vontade de conhecer "Precisamos falar sobre o Kevin", "Guerra dos Tronos" e "Sobrevivente. Os outros titulos também, mas esse vem antes. rs
Lucas / Era uma vez