Já deletei essa resenha umas três vezes, por simplesmente
não conseguir expressar o que quer. Detesto não saber o que pensar sobre um
livro mesmo depois de refletir por algum tempo (quase um mês, no presente caso)
mas preciso registrar a minha opinião (ou falta de) para a posterioridade.
Os irmãos Karamazov
quase me vencia, confesso. Por muitas vezes pensei em abandonar a leitura
(arrastada ao longo de quase dois meses) mas a sensação de que algo legal me
esperava ali era forte. E eu não gosto de simplesmente abandonar livros porque
eles são obras complicadas – não me sinto bem depois.
Se eu tivesse que descrever a personalidade de Fiodor
Pavlovitch Karamazov com uma palavra moderna, colocaria, com certa resistência,
“playbozinho”. Apesar de já apresentar idade avançada quando o livro se inicia,
o abastado morador de uma cidadezinha russa do século dezenove apresenta a
mesma inconseqüência e egoísmo que geralmente atribuímos aos pitboys,
mauricinhos ou qualquer outra alcunha preferida.
Nem mesmo o casamento, o primeiro filho, Dimitri, e a
conseqüente viuvez mudam isso: o garotinho é cuidado nos seus primeiros anos
por um criado, Gregório, e logo depois é prontamente enviado para protetores.
Os filhos do segundo casamento, Ivã e Aliocha (os nomes podem mudar um
pouquinho de acordo com a tradução) sofrem destinos semelhantes.
Não ocorre o mesmo com suas personalidades: os três irmãos
acabam sendo completamente diferentes. Como um peixinho, Dimitri apresenta
semelhante nível de degeneração ao do seu pai, vivendo somente para seu próprio
prazer. Ivã, por necessidade de dinheiro, vira um intelectual, publicando
artigos aclamados em vários jornais importantes. Já Aliocha – o nosso herói –
desenvolve uma personalidade sensível, pouco compatível com o mundo, e tranca-se
em um mosteiro, servindo a um líder religioso inspirador de fanatismo.
Com um patriarca desses e filhos tão distintos entre si, os
conflitos familiares obviamente não seriam muito leves. Dimitri clama pela
herança de sua mãe, que Fiodor afirma já ter sido gasta no ápice da sua recém
começada juventude (ele tem vinte e tantos anos). Uma reunião a fim de lidar
com esse assunto delineia muito bem a personalidade de cada um dos Karamazov,
mostrando pai e primogênito (cujas idades mentais parecem mal somar dez anos)
em pé de guerra com outras variáveis no meio.
Rascunho de Os irmãos Karamazov. |
Quando comecei a ler, achei curioso que uma das tidas como
grandes obras da literatura universal fizesse algo freqüentemente não
recomendado: “listasse” (falta palavra melhor no vernáculo agora) as características
de seus personagens. Quando essa tal “listagem” se confirma por ações, porém, é
óbvia a complexidade de cada um deles, até mesmo aqueles secundários.
Dois pontos fizeram com que eu “empacasse”. O primeiro deles
é a escrita de Dostoeivky, prolixa de um jeito bom mas que torna impossível ler
mais do que trinta páginas por dia ou uma sequer depois de aulas cansativas.
Fan art da família Karamazov. |
Na primeira metade, não é incomum que os personagens parem
ao menor gancho e tenham discussões filosóficas sobre Deus, religião, a vida ou
qualquer um dos “grandes temas” de Os
irmãos Karamazov. São discussões enriquecedoras e até certo ponto
interessantes, mas não estou muito acostumada a esse tipo de coisa – até mesmo
os livros mais “cabeçudos” que já li inseriam tais debates em seu enredo, não
em uma conversa no bar.
Esse “hábito” quase cessa na segunda metade, quando as
tramas paralelas se delineiam melhor assim como o drama central: Fiodor e
Dimitri se encontram apaixonados pela mesma mulher, uma jovem manipuladora e
interesseira. E não, não é novelão: as razões de cada um são expostas de
maneira tão crível que é impossível achar a situação forçada.
Não sei se gostei, não sei se odiei; acho que os dois. Se o
mundo não acabar até lá, já marquei minha releitura de Os irmãos Karamazov para 2022: talvez o tempo clareie minha percepção.
OBS.: Sou uma re-escritora compulsiva, editando os posts ao
extremo antes de coloca-los no ar. Com esse, porém, percebi se relesse uma
linha qualquer nunca o postaria, portanto desculpem qualquer erro crasso, falta
de fluidez ou algo do gênero.
Eu honestamente amo os clássicos, e amo a Rússia, mas nunca peguei Os Irmãos Karamazov pra ler - talvez por falta de tempo, ou de disposição, ou de pura e simples preguiça. Embora eu seja adepta a todas as questões filosóficas, não acho que teria, com o perdão da palavra, saco para um livro como esse.
ResponderExcluirSinceramente, sinto desânimo só de pensar.
Gostei bastante da sua resenha, aliás. ^^
Beijos.
Oi Isa
ResponderExcluiradoro esses livros complexos, que nos deixa sem saber se gostamos ou odiamos rs
Não li este clássico, mas faz tempos que está na minha mira, porém, não me encontro no melhor momento para tramas com linguagem complicada rs
Lembro que o meu primeiro livro da Jane Austen que li, foi difícil me acostumar com a linguagem, mas depois de algumas páginas eu já estava completamente familiarizada com a narrativa da autora. Creio que com este livro também seria assim. Como adoro dramas familiares, e tenho uma quedinha por russos rs, será leitura futura.
bjos
Sim, eu também demorei um pouco para me acostumar ao estilo de Jane também. Para mim o "pior" nessa fase de transição foi a velocidade da narrativa e a sutileza da ironia, que são um pouquinho dificeis de pegar para um leitor inciante.
ExcluirSou louca para ler esse livro. Li O Jogador de Dotoievski e adorei (o que nem se compara ao Irmãos Karamazov. O livro é pequenininho e você lê em um dia). Já sei que vou enfrentar dificuldades com esse livro. Não só pelo tamanho, como também, o jeito prolixo da escrita como você falou. Mas aceito esse desafio! Como ele nunca parou em minhas mãos, ainda não tive oportunidade. É bom que demore um pouquinho para chegar até minha pessoa, porque com o tempo, vou amadurecendo minha leitura.
ResponderExcluirVocê acabou de ganhar minha vez minha admiração. Apesar de nunca ter lido o livro, sei que não é uma leitura fácil, muito complexa.
ResponderExcluirTem que ter muita coragem para ler. Espero ler algum dia, quando estiver com a cabeça mais apropriada para as coisas entrarem.
Aahh e sua resenha ficou perfeita ;D
Resenha perfeita, palavras lindas, tu arraza escrevendo aqui..
ResponderExcluirNunca tinha ouvido falar do livro, mas poxa... QUE NOME: Fiodor Pavlovitch Karamazov já quero nos meus filhos kkkkkkkkkkkkk
Espero ler algum dia
Gostei
Beijos
oi
ResponderExcluirnunca tinha ouvido falar desse livro, parece ser uma leitura bem dificil, mas interessante, mas a verdade é que eu normalmente n tenho interesse tanto por livros assim (os livros de mestrado já exigem mto e nas hrs vagas prefiro coisas mais leves)
parabens por n ter desistido da leitura!
tem postagem nova no blog
bjinhus
TÍTULOS DE LIVROS
Ainda não li esse e confesso que desanimei um pouco após a sua resenha. rs
ResponderExcluirParabéns pela insistência. Talvez eu tivesse desistido. Me irrito facilmente. rs
Sua resenha está ótima!
Beijos!
http://critiquinha.com/
Hey Isa
ResponderExcluirPrimeiro: Parabéns por não ter desistido da leitura :D
Adorei a resenha, preciso ler mais clássicos e um russo seria... 'supimpa'? haha
Pois é, acho que os clássicos não são para leituras rápidas...o único que consegui fazer isso foi Drácula. Mas mesmo assim, eram muitas páginas e demorei uma semana, apesar que virava toda noite lendo xD haha
Feliz Natal e Feliz 2013!!
Obrigada por estar com Obsession esse ano.
Equipe Obsession Valley
Oi Isabel! É mesmo muito estranho quando não amamos nem odiamos um livro. Li recentemente "A Culpa é das Estrelas" e fiquei com essa mesma sensação... E é super difícil escrever uma resenha assim, com certeza.
ResponderExcluirEnfim, acho que você passou o que queria passar. Não sei se eu teria coragem para me jogar numa literatura que exigisse tanto assim, pelo menos não agora. Mas dizem que é um autor-filósofo muito bom, então talvez, mais a frente, eu leia este livro sim.
Beijinhos!
Isabel, amo os russos, eles escrevem como ninguém, e sabem como nos encantar - e a Rússia por si só já é fascinante na medida em que é diferente de nosso país. Ainda não li "Os Irmãos Karamazov", mas posso te dizer que a resenha ficou maravilhosa, antes não sei se teria coragem de encarar o livro, mas agora fiquei tentado, e Dostoiévski não é uma leitura fácil, longe disso.
ResponderExcluirFica minha admiração, quero muito ter um tempo com Dostoiévski.
Grande abraço.
Oie Isabel!
ResponderExcluirAinda não tive oportunidade de ler obras de autores russos (pelo menos que eu me lembre rs...), mas sei bem como é ter essa relação de amor e ódio com um livro. Passo bastante por isso XD
Ótima resenha!
bjus e feliz natal;***
anereis.
mydearlibrary | bookreviews • music • culture
@mydearlibrary
Segundo Freud, trata-se do melhor romance de todos os tempos. Para mim, é a maior obra-prima de Dostoievski. As outras, pela ordem, Crime e Castigo, O Eterno Marido e o Jogador.
ResponderExcluirAcredito que o personagem Fiodor Pavlovitch Karamazov, se tivesse que ser definido por meio de uma palavra, esta palavra seria "fanfarrão"!
ResponderExcluirOlá! Você descreve mais ou menos como me sinto, mas ainda estou na página 267. Seu comentário sobre a mudança de rumo na escrita (na segunda parte) me deu mais esperanças e vontade de prosseguir.
ResponderExcluirAcho que tenho dificuldade de gostar também porque alguns personagens são super dramáticos e alguns diálogos parecem forçados. Mas deve ser porque é outra cultura, outro país, outro século... Melhor eu me acostumar com isso e me permitir viajar para essa cultura tão distante e às vezes meio estranha para mim.
Olá!!!
ResponderExcluirAdoro a arte da capa!
Por favor, você não teria o nome do artista?