21 dezembro 2012

Os irmãos Karamazov




Já deletei essa resenha umas três vezes, por simplesmente não conseguir expressar o que quer. Detesto não saber o que pensar sobre um livro mesmo depois de refletir por algum tempo (quase um mês, no presente caso) mas preciso registrar a minha opinião (ou falta de) para a posterioridade.

Os irmãos Karamazov quase me vencia, confesso. Por muitas vezes pensei em abandonar a leitura (arrastada ao longo de quase dois meses) mas a sensação de que algo legal me esperava ali era forte. E eu não gosto de simplesmente abandonar livros porque eles são obras complicadas – não me sinto bem depois.




Se eu tivesse que descrever a personalidade de Fiodor Pavlovitch Karamazov com uma palavra moderna, colocaria, com certa resistência, “playbozinho”. Apesar de já apresentar idade avançada quando o livro se inicia, o abastado morador de uma cidadezinha russa do século dezenove apresenta a mesma inconseqüência e egoísmo que geralmente atribuímos aos pitboys, mauricinhos ou qualquer outra alcunha preferida.

Nem mesmo o casamento, o primeiro filho, Dimitri, e a conseqüente viuvez mudam isso: o garotinho é cuidado nos seus primeiros anos por um criado, Gregório, e logo depois é prontamente enviado para protetores. Os filhos do segundo casamento, Ivã e Aliocha (os nomes podem mudar um pouquinho de acordo com a tradução) sofrem destinos semelhantes.

Não ocorre o mesmo com suas personalidades: os três irmãos acabam sendo completamente diferentes. Como um peixinho, Dimitri apresenta semelhante nível de degeneração ao do seu pai, vivendo somente para seu próprio prazer. Ivã, por necessidade de dinheiro, vira um intelectual, publicando artigos aclamados em vários jornais importantes. Já Aliocha – o nosso herói – desenvolve uma personalidade sensível, pouco compatível com o mundo, e tranca-se em um mosteiro, servindo a um líder religioso inspirador de fanatismo.

Com um patriarca desses e filhos tão distintos entre si, os conflitos familiares obviamente não seriam muito leves. Dimitri clama pela herança de sua mãe, que Fiodor afirma já ter sido gasta no ápice da sua recém começada juventude (ele tem vinte e tantos anos). Uma reunião a fim de lidar com esse assunto delineia muito bem a personalidade de cada um dos Karamazov, mostrando pai e primogênito (cujas idades mentais parecem mal somar dez anos) em pé de guerra com outras variáveis no meio.

Rascunho de Os irmãos Karamazov.

Quando comecei a ler, achei curioso que uma das tidas como grandes obras da literatura universal fizesse algo freqüentemente não recomendado: “listasse” (falta palavra melhor no vernáculo agora) as características de seus personagens. Quando essa tal “listagem” se confirma por ações, porém, é óbvia a complexidade de cada um deles, até mesmo aqueles secundários.

Dois pontos fizeram com que eu “empacasse”. O primeiro deles é a escrita de Dostoeivky, prolixa de um jeito bom mas que torna impossível ler mais do que trinta páginas por dia ou uma sequer depois de aulas cansativas.

Fan art da família Karamazov.

Na primeira metade, não é incomum que os personagens parem ao menor gancho e tenham discussões filosóficas sobre Deus, religião, a vida ou qualquer um dos “grandes temas” de Os irmãos Karamazov. São discussões enriquecedoras e até certo ponto interessantes, mas não estou muito acostumada a esse tipo de coisa – até mesmo os livros mais “cabeçudos” que já li inseriam tais debates em seu enredo, não em uma conversa no bar.

Esse “hábito” quase cessa na segunda metade, quando as tramas paralelas se delineiam melhor assim como o drama central: Fiodor e Dimitri se encontram apaixonados pela mesma mulher, uma jovem manipuladora e interesseira. E não, não é novelão: as razões de cada um são expostas de maneira tão crível que é impossível achar a situação forçada.


Mais fan art.


Não sei se gostei, não sei se odiei; acho que os dois. Se o mundo não acabar até lá, já marquei minha releitura de Os irmãos Karamazov para 2022: talvez o tempo clareie minha percepção.

OBS.: Sou uma re-escritora compulsiva, editando os posts ao extremo antes de coloca-los no ar. Com esse, porém, percebi se relesse uma linha qualquer nunca o postaria, portanto desculpem qualquer erro crasso, falta de fluidez ou algo do gênero.

16 comentários:

  1. Eu honestamente amo os clássicos, e amo a Rússia, mas nunca peguei Os Irmãos Karamazov pra ler - talvez por falta de tempo, ou de disposição, ou de pura e simples preguiça. Embora eu seja adepta a todas as questões filosóficas, não acho que teria, com o perdão da palavra, saco para um livro como esse.
    Sinceramente, sinto desânimo só de pensar.
    Gostei bastante da sua resenha, aliás. ^^
    Beijos.

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  2. Oi Isa
    adoro esses livros complexos, que nos deixa sem saber se gostamos ou odiamos rs
    Não li este clássico, mas faz tempos que está na minha mira, porém, não me encontro no melhor momento para tramas com linguagem complicada rs
    Lembro que o meu primeiro livro da Jane Austen que li, foi difícil me acostumar com a linguagem, mas depois de algumas páginas eu já estava completamente familiarizada com a narrativa da autora. Creio que com este livro também seria assim. Como adoro dramas familiares, e tenho uma quedinha por russos rs, será leitura futura.
    bjos

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    1. Sim, eu também demorei um pouco para me acostumar ao estilo de Jane também. Para mim o "pior" nessa fase de transição foi a velocidade da narrativa e a sutileza da ironia, que são um pouquinho dificeis de pegar para um leitor inciante.

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  3. Sou louca para ler esse livro. Li O Jogador de Dotoievski e adorei (o que nem se compara ao Irmãos Karamazov. O livro é pequenininho e você lê em um dia). Já sei que vou enfrentar dificuldades com esse livro. Não só pelo tamanho, como também, o jeito prolixo da escrita como você falou. Mas aceito esse desafio! Como ele nunca parou em minhas mãos, ainda não tive oportunidade. É bom que demore um pouquinho para chegar até minha pessoa, porque com o tempo, vou amadurecendo minha leitura.

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  4. Você acabou de ganhar minha vez minha admiração. Apesar de nunca ter lido o livro, sei que não é uma leitura fácil, muito complexa.
    Tem que ter muita coragem para ler. Espero ler algum dia, quando estiver com a cabeça mais apropriada para as coisas entrarem.
    Aahh e sua resenha ficou perfeita ;D

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  5. Resenha perfeita, palavras lindas, tu arraza escrevendo aqui..
    Nunca tinha ouvido falar do livro, mas poxa... QUE NOME: Fiodor Pavlovitch Karamazov já quero nos meus filhos kkkkkkkkkkkkk
    Espero ler algum dia
    Gostei

    Beijos

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  6. oi
    nunca tinha ouvido falar desse livro, parece ser uma leitura bem dificil, mas interessante, mas a verdade é que eu normalmente n tenho interesse tanto por livros assim (os livros de mestrado já exigem mto e nas hrs vagas prefiro coisas mais leves)
    parabens por n ter desistido da leitura!
    tem postagem nova no blog
    bjinhus

    TÍTULOS DE LIVROS

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  7. Ainda não li esse e confesso que desanimei um pouco após a sua resenha. rs
    Parabéns pela insistência. Talvez eu tivesse desistido. Me irrito facilmente. rs
    Sua resenha está ótima!
    Beijos!
    http://critiquinha.com/

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  8. Hey Isa
    Primeiro: Parabéns por não ter desistido da leitura :D

    Adorei a resenha, preciso ler mais clássicos e um russo seria... 'supimpa'? haha
    Pois é, acho que os clássicos não são para leituras rápidas...o único que consegui fazer isso foi Drácula. Mas mesmo assim, eram muitas páginas e demorei uma semana, apesar que virava toda noite lendo xD haha

    Feliz Natal e Feliz 2013!!
    Obrigada por estar com Obsession esse ano.
    Equipe Obsession Valley

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  9. Oi Isabel! É mesmo muito estranho quando não amamos nem odiamos um livro. Li recentemente "A Culpa é das Estrelas" e fiquei com essa mesma sensação... E é super difícil escrever uma resenha assim, com certeza.
    Enfim, acho que você passou o que queria passar. Não sei se eu teria coragem para me jogar numa literatura que exigisse tanto assim, pelo menos não agora. Mas dizem que é um autor-filósofo muito bom, então talvez, mais a frente, eu leia este livro sim.

    Beijinhos!

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  10. Isabel, amo os russos, eles escrevem como ninguém, e sabem como nos encantar - e a Rússia por si só já é fascinante na medida em que é diferente de nosso país. Ainda não li "Os Irmãos Karamazov", mas posso te dizer que a resenha ficou maravilhosa, antes não sei se teria coragem de encarar o livro, mas agora fiquei tentado, e Dostoiévski não é uma leitura fácil, longe disso.

    Fica minha admiração, quero muito ter um tempo com Dostoiévski.

    Grande abraço.

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  11. Oie Isabel!

    Ainda não tive oportunidade de ler obras de autores russos (pelo menos que eu me lembre rs...), mas sei bem como é ter essa relação de amor e ódio com um livro. Passo bastante por isso XD

    Ótima resenha!

    bjus e feliz natal;***

    anereis.
    mydearlibrary | bookreviews • music • culture
    @mydearlibrary

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  12. Eduardo Vianna de Lima31 de março de 2013 às 01:37

    Segundo Freud, trata-se do melhor romance de todos os tempos. Para mim, é a maior obra-prima de Dostoievski. As outras, pela ordem, Crime e Castigo, O Eterno Marido e o Jogador.

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  13. Acredito que o personagem Fiodor Pavlovitch Karamazov, se tivesse que ser definido por meio de uma palavra, esta palavra seria "fanfarrão"!

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  14. Olá! Você descreve mais ou menos como me sinto, mas ainda estou na página 267. Seu comentário sobre a mudança de rumo na escrita (na segunda parte) me deu mais esperanças e vontade de prosseguir.

    Acho que tenho dificuldade de gostar também porque alguns personagens são super dramáticos e alguns diálogos parecem forçados. Mas deve ser porque é outra cultura, outro país, outro século... Melhor eu me acostumar com isso e me permitir viajar para essa cultura tão distante e às vezes meio estranha para mim.

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  15. Olá!!!

    Adoro a arte da capa!
    Por favor, você não teria o nome do artista?

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