28 março 2013

[FILME] A outra história americana


                                       


Passei mais ou menos metade do filme A outra história americana com um gosto amargo na boca, a vontade de matar ou morrer, soltando suspiros de ódio contido. Sei que o ódio não cura o ódio, mas é meio complicado amar (ou sequer tolerar) neonazistas. Se tenho problemas com homofóbicos (abundantes na nossa sociedade), machistas (todos nós, em um grau ou outro) e racistas enrustidos (produto em excesso número dois) alguém que professa sua visão de mundo distorcida de forma tão intensa e perigosa não poderia me inspirar lá muitos sentimentos positivos.

Graças a deus existe a arte para mudar isso.

Depois de matar dois rapazes negros (um deles com requintes de crueldade) o brilhante líder de uma gangue de skinheads Derek é condenado a três anos de prisão. No dia de sua saída, incidentalmente, o seu irmão mais novo, Danny, é expulso permanentemente da aula de história por ter escrito uma resenha literária de Mein Kampf (a famosa obra na qual Hitler expôs seus ideais) exaltando o exposto no livro. O paciente professor de inglês, o Dr.Sweeney, propõe uma troca: caso escrevesse uma redação sobre seu irmão, ele não teria de repetir a matéria.



Danny tem vinte e quatro horas para fazer a redação, e sua escrita é permeada pelas lembranças antes entupidas de ódio, mas vão se tornando mais claras com o passar do filme e a realização de sua mudança interna. É difícil conter a ânsia de vômito nas cenas em que Derek e sua gangue destroem uma loja e humilham as suas funcionárias latinas; as lágrimas ácidas durante uma briga familiar e o nó na garganta ao escutar seus discursos que fazem lógica – mas só para uma classe dominante que se vitimiza de tal forma a transgredir todos os valores de civilização e humanidade em prol do medo de perder seus privilégios.



Mais do que isso: é angustiante detectar tal padrão escondido em propagandas políticas, debates de Facebook e comentários de portais de notícias – o tal do “não sou homofóbico/racista/machista, mas...”. Vejo o futuro em grande perigo, e fico feliz toda vez que descubro que não vejo sozinha.



Os primeiros meses na cadeia nada mudam Derek – depois de encontrar um grupinho de neonazistas, a proteção e tranqüilidade lhe é garantida. Depois de descobrir que seus novos amigos tatuam suásticas não por ideal fervoroso como ele mesmo, mas por identificação, o isolamento é a única saída, e seu colega de tarefas dentro da prisão seu único contato – Lamont, um negro com o dobro do tempo de Derek para cumprir por ter roubado uma televisão.



Nem todos os Dereks terão um Lamont, mas o final do filme – lógico, porém desconfortável – dá uma sensação agridoce de esperança misturada com nilismo. Por mais contraditório que isso possa soar, se aplica à vida, e a opção dependerá do espectador. Pessoalmente, fico com a primeira – que outro jeito há?


18 comentários:

  1. Oi Isabel, tudo bom?
    Esse filme parece ser tenso e ao mesmo tempo, muito bom!
    Adoro filmes com um tema assim, e que tentem passar uma lição de uma modificação na sociedade sabe?
    Como se desejassem mostrar que aquilo está errado.
    Só pela sua resenha, percebo a crítica que o filme faz à sociedade como um todo, demonstrando que ela também é racista e preconceituosa (vide o tempo muito maior de Lamont por ter roubado uma televisão, um ato capitalista, quanto o de Derek, um ato mais social...)
    Vou procurar agora mesmo!!
    Tem post novo lá no blog!
    Beijão
    endless-poem.blogspot.com.br

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  2. Oi Isabel!
    Ainda não conhecia esse filme. Mas gostei da indicação.
    Vou procurar assisti-lo.

    BjO
    http://the-sook.blogspot.com.br/

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  3. Nossa adorei a dica!!!
    Beijos
    Rizia - Livroterapias
    http://livroterapias.blogspot.com.br/

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  4. Muito interessante a resenha. O filme parece bem tenso e até revoltante, mas precisamos ver pra compreender algumas manifestações no mundo. Fiquei com muita vontade de ver.
    Um filme que tambem fala sobre o nazismo e outros regimes ocultos dentro de escolas é o A Onda, ja assistiu? muito bom, recomendo.
    Ah, ja estou seguindo aqui :)
    boa semana
    ;*

    www.redbehavior.com

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    1. Já assisti A onda sim (em uma aula na escola, uns dois anos atrás)e é realmente muito bom!

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  5. Pela resenho eu acho que já vi esse filme! Mas com certeza vou conferir esse final de semana, gostei muito do que escreveu!
    Beeijos!

    http://primasxavier.blogspot.com.br/

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  6. Filme excelente, e ainda mais resenha ótima. Tá de parabéns. A pouco tempo também resenhei ele no blog, mas vejo que o fiz de maneira tão amadora perto da sua.

    Com certeza, espero passar mais aqui, para aprender também.

    http://sobrecafeelivros.blogspot.com.br/

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  7. Menina, esse tipo de filme de deixa totalmente desconfortável. Por mais que seja muito bom, eu fico desconfortável. Sempre fico com filmes mais lights como comédias românticas, animações.. é um meio de "entrar no meu mundo" kkkkkkk
    Mas você resenha muito bem mesmo!
    Obrigado pelos elogios feitos no meu blog <3 fiquei super feliz.
    http://www.valeuapenaesperar.com/

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  8. Morro de vontade de ver esse filme...

    Curiosidade: às vezes (bem de vez em quando, é incomum, mas acontece) aparece alguém na livraria procurando esse livro do Hitler, aí a gente explica que a pessoa não vai encontrar isso em livraria nenhuma porque né. Mas uma vez eu expliquei isso pra um cara e ele achou "um absurdo que a censura tivesse chegado numa livraria como aquela". True story.

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    1. Pô, que tenso. Fico meio divida quanto a isso: ao mesmo tempo que pode influenciar negativamente muita gente (como influenciou o Danny) tem uma certa relevância histórica, né? Para ser estudado e tal... Não sabia que era de venda proibida, embora devesse ter imaginado hihi

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  9. Isabel, assisti ao filme há alguns anos e gostei muito, apesar de ter me sentido incomodado em diversos momentos, apesar de a gente saber que muito daquilo ainda acontece, quando nos deparamos ficamos incomodados, não tem jeito.

    Deu vontade de assistir novamente, acho que estou mais maduro pra encará-lo.

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    1. A sensação de incomodo, nesse caso, é até positiva: mostra que nos importamos...

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  10. Nossa, amei sua forma de escrever,
    a resenha ficou ótima, clara e culta ao mesmo tempo, quanto ao seu sentimento com relação ao filme apesar de não tê-lo assistido, pela sua descrição eu compartilho com você. Sou amplamente contra o movimento nazista e não aceito a saturação de preconceitos de todos os tipos em que a nossa sociedade está mergulhada.

    http://soubibliofila.blogspot.com.br/

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  11. UAU..
    Não conhecia este filme, mas confesso-te que me deixou sem ar.
    Muito bom!

    Beijos
    Luizando

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  12. Oi, Isabel!
    Tudo bem?
    Sua resenha, como sempre, excelente!
    Não conheço este filme e, na verdade, prefiro nem ver pois fico revoltada com certas coisas.
    Beijos, flor.
    Nataly Nunes
    http://critiquinha.com/

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  13. Eu não curto muito filmes assim. Sou uma boba e cega por filmes românticos e dramáticos, haha.

    Xx
    www.likeparadise.com.br

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  14. Oi!!
    Esse filme é fantástico (a sua mode claro) mas realmente o filme deixa esse gosto amargo em determinadas cenas, além de uma revolta momentânea, com uma vontade de entrar no filme e fazer alguma coisa por não entender o que levam as pessoas a pensarem dessa forma, a tratarem os outros com tamanha crueldade.
    A atuação de Edward Norton é impressionante, passei a olhar o trabalho dele com outros olhos depois de ver esse filme e Clube da Luta no qual ele tb tem uma atuação fenomenal.
    Esse é daqueles filmes que te dão dor de estômago, uma certa náusea mas que todos temos de assistir.
    Abraços
    Melissa Padilha
    decoisasporai.blogspot.com.br

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  15. Nossa, esse filme surpreendeu, vi ontem, rsrs. Quanta coincidência, com certeza faz você pensar no que fez e no que faz. Adorei!
    Beijos.
    clicandolivros.blogspot.com.br

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