[LIVRO] O processo

                                               

Como blogueira, meço pessoalmente a qualidade de um livro, série ou filme só por um aspecto: o quanto eu me diverti.

Acredito que não sou a única – afinal, qual seria o sentido dos blogs se não fosse esse? Ainda que se fale sobre desenvolvimento de personagens, o conhecimento que se ganhou e a riqueza ou inovação da trama, diversão é o melhor termômetro. Para quê ver a opinião de um leigo, então, se existe a opinião de vários profissionais por aí? Pela existência dessa óbvia diferença entre um blogueiro e um crítico cultural que expõe o que acha em um jornal ou revista, nunca consegui compreender muito bem a opinião desse cara aqui sobre os blogs literários.

Segundo o tal crítico inglês, um cidadão qualquer que expõe suas opiniões em um diário virtual é uma ameaça a qualidade da literatura. Depois de ter lido o texto umas trinta vezes (ele está nos meus favoritos – do computador, não do coração –  desde o dia que foi posto no ar no site do The Guardian), levantei algumas possibilidades:

a) estou sofrendo de uma séria falta de capacidade interpretativa ou

b) o tal crítico não sabe bulhufas sobre blogs ou (o mais provável)

c) ele quis chamar a atenção

Não estou dizendo que o mundo dos blogs literários é lindo e colorido – tem gente que corta uma mão por livro de graça, muda magicamente de opinião só para agradar autor/editora e coisas assim – mas lê quem quer. E se todos os relacionados a produção de livros fossem tecnofobos, o número de jovens leitores seria bem menor.

Maas devo admitir que existe uma pressãozinha para não maldizer determinados livros (sejam as modinhas literárias, sejam os clássicos). Os que os fazem não recebem tomates, mas um certo ar de heresia os ronda. Digo isso não porque irei dizer que O processo é ruim. Não, não é isso. Eu só não gostei da leitura, e vejamos meus porquês.

“Alguém certamente havia caluniado Josef K.”. Certamente mesmo: Josef, nosso protagonista sem sobrenome, é acordado no seu trigésimo aniversário por dois inspetores que tem como tarefa detê-lo. O motivo? Ninguém parece saber, e é algo escondido do leitor – não até o último momento como um suspense, mas de forma definitiva.

Por que, afinal, acaba não sendo lá tão importante: O processo é todo sobre os emaranhados fios da justiça que não é tão justa, algo tão absurdo que me fez correr para São Google e perguntar sobre a existência do surrealismo na literatura.

Assim como Dostoeivsky (uma de suas influencias segundo o posfácio da minha edição de bolso linda da Cia. Das Letras), Kafka tem a estranha mania de retirar páginas e páginas dedicadas à reflexão de um determinado tema levemente relacionado, dando um ar de não ficção.

Tenho um professor sensacional na escola, mas as aulas dele me geram certa irritação – não porque sejam chatas, mas porque sua matéria não me interessa e boa parte dela será inútil até mesmo no vestibular. Não, não estou aderindo a corrente que diz que a educação deve ser meramente utilitarista, mas não consigo evitar de me sentir como uma piloto de Kart em uma Ferrari. Tantos outros aproveitariam todo aquele conhecimento melhor do que eu! Não tenho empolgação, base ou interesse para lembrar qualquer uma daquelas coisas daqui a três anos, nem paixão para entende-las a fundo agora.

Lendo O processo me senti da mesma maneira que nessas aulas. Não é uma leitura particularmente difícil (em termos de linguagem, por exemplo, é bem simples) mas passei o livro quase todo com uma sensação de que eu estava perdendo algo.