“Bota o
retrato do velho outra vez,
Bota no mesmo lugar,
o sorriso do velhinho,
faz a gente trabalhar.”
Bota no mesmo lugar,
o sorriso do velhinho,
faz a gente trabalhar.”
— Haroldo
Lobo e Marino Pinto-1951
1954. Mais uma vez o presidente Getúlio Vargas se vê
ameaçado: tanto a imprensa – encabeçada pelo crítico, audaz e persuasivo
jornalista Carlos Lacerda – quanto os militares não medem esforços para expulsa-lo
do poder mais uma vez. Os meios de comunicação anunciam persistentemente um
suposto “mar de lama” para qual o amado “velhinho” teria arrastado o país. A
pressão é imensa: o antes vigoroso líder se curva impotente, enfraquecido
diante da cruzada que lhe tem como maior alvo. As circunstâncias ainda dão aos
opositores de Vargas munição extra: um atentado contra a vida de Carlos Lacerda
(que é frustrado em matar o jornalista, mas atinge o major Vaz, um dos
simpatizantes das Forças Armadas que faziam a sua segurança) parece ser a razão
perfeita para um golpe disfarçado de Impeachman.
É nesse cenário que Rubem Fonseca ambientou Agosto: o
comissário Mattos investiga o assassinato de um rico empresário – cujo sócio é
marido de sua complicada ex, Alice. Além dos problemas comuns da vida de um
policial, a personalidade de Mattos ainda faz com que ele arrume mais alguns
para si: incorruptível, Mattos recusa-se a ganhar dinheiro dos bicheiros ou dispensar
tratamento diferenciado para as classes sociais mais elevadas. Ao invés de
admiração, Mattos atraí ódio: não são muitos na polícia que recusariam sua
cabeça em uma bandeja. O comissário escapou por pouco de algumas situações bem
desagradáveis; mas quando os fatos apontam que o crime que ele investiga – o assassinato
do empresário – está intimamente ligado
ao Palácio do Catete, a periculosidade desse rótulo de “incorruptível” fica
ainda mais clara.
Agosto me divide.
Os poucos romances históricos que li seguiam uma das duas
linhas: ou eram registros de memórias de alguém ou eram completamente ficcionais,
usando uma determinada época histórica como pano de fundo. Já Agosto não: de
forma maravilhosamente bem orquestrada, o livro mescla a ficção – a
investigação do comissário Mattos – com a realidade – os fatos que
desencadearam o suicídio de Getúlio Vargas. Aliás: a riqueza de detalhes com que
todo o contexto desse último é narrado me fez duvidar de sua veracidade muitas
vezes – mas o retorno do Google foi positivo sempre que chequei.
Todo leitor ávido, de uma maneira ou outra, “se apega” aos
personagens, por vezes tratando-os como se fossem pessoas reais – mas quando
esses personagens foram de fato reais e marcantes de alguma maneira, as
distantes imagens congeladas entre as linhas de um livro de História se tornam
vivas e mais reais.
A minha supracitada divergência interna de opinião sobre
esse livro vem pelo fato de que em muitos pontos ele é enfadonho. Tanto a
corrida de Mattos em busca de um culpado quanto o jogo político envolvendo
imprensa, políticos e militares envolvem pessoas demais – algumas delas cuja
citação foi desnecessária – o que torna o livro cansativo e de desenvolvimento
confuso.
Não leio livros por sua utilidade e espero que o dia que eu
o faça nunca chegue; mas, como aula de História do Brasil, Agosto cumpre bem
seu papel.
Nota: 3.5/5
Oi Isa
ResponderExcluirEu gosto de ler livros históricos, mas evito os que abordam a política , but, livros que envolvem a morte de políticos, esses muito me interessam rs
Mas por abordar a história do Brasil (que eu fugi muito no período escolar), este livro vai entrar para a minha listinha.
bjos
Adoro livros que se baseiam em fatos históricos. Não conhecia esse livro e gostei bastante da história! Ainda mais por mesclar investigação e suspense.
ResponderExcluirAhh e quanto tirar as fotos, obrigada pela informação, não sabia mesmo disso. No caso do meu celular, ele não tem flash, então não fez nenhum mal.
Acho que Rubem Fonseca escreveu coisa muito melhor, como por exemplo, "O caso Morel" ou o conto " o Cobrador"- aliás, eu adoro os contos violentos e explícitos dele. Se vc aceitar uma simples opinião de uma professora,acredite: o que há de melhor em Fonseca são os contos. O resto, são só experimentos.
ResponderExcluirLivros que abordam temas históricos estão entre meus favoritos, mas confesso que de história do Brasil foram poucos os lidos. Gosto quando o autor consegue mesclar sua ficção com a realidade, sempre nos fazendo questionar se tal passagem foi real ou não. Gostei desse livro, quem sabe eu o leia futuramente. =*
ResponderExcluirIsabel, tenho um forte apreço por livros históricos, mas nem sempre a leitura flui com tamanha agilidade. Apesar do não compromisso que estes nos propõe, a necessidade de realizar um estudo cuidadoso ainda é preciso. Mesmo assim a leitura, de modo geral, é bem interessante.. Deveríamos nos propor a isso mais vezes.
ResponderExcluirAdorei a resenha.
Um abraço!
http://universoliterario.blogspot.com.br/
Eu nunca tive a oportunidade de ler este livro
ResponderExcluirMas quando estava no Ensino Medio, um amigo leu e super recomendou
Além da curiosidade de conhecer mais sobre Vargas
Beijos
@pocketlibro
http://pocketlibro.blogspot.com
eu não conheço muitos livros de ficção que envolvam o panorama histórico do Brasil - na real, acho que esse é o primeiro de que eu ouço falar. parece interessante, mas ao mesmo tempo cansativo. não sei se é o tipo de livro que eu leria.
ResponderExcluirAaahhh essas musiquinhas são tão legais, sempre me pego sorrindo ao escutá-las pois lembro de um professor de história que tive no cursinho e ele vivia cantando essas músicas e era muito engraçado ele cantando, sério. Outra música que eu rio é aquela da vassourinha pra varrer a corrupção ahhaahhaahhahahahahhahah
ResponderExcluirEnfim, adoro livros que abordam temas históricos! Mas não senti muita vontade em ler esse, pelo menos não no momento :/
Olá, Isabel (: Bem, gostei do assunto abordado no livro. Espero lê-lo em breve. Porém não leio bastante sobre livros sobre a história do Brasil, mas parece ser bem interessante, pois conta um romance também, né? rs E acho uma ótimo forma de estudar para a história haha
ResponderExcluirBeijão http://doceescrita.blogspot.com.br/ x
Hey Isobel, que interessante esse livro! Primeiro por que amo História, ainda mais a do Brasil, segundo, um livro que traz ficção junto com fatos históricos com certeza me interessa, mas o fato de ter personagens desnecessários e a narrativa ser enfadonha, irá atrasar minha busca por esse livro, mas com certeza quero lê-lo.
ResponderExcluirAliás, preciso dizer, suas resenhas são mais do que ótimas!
Beijos
Meu outro lado