23 maio 2012

Agosto

Bota o retrato do velho outra vez,
Bota no mesmo lugar,
o sorriso do velhinho,
faz a gente trabalhar.”
— Haroldo Lobo e Marino Pinto-1951

1954. Mais uma vez o presidente Getúlio Vargas se vê ameaçado: tanto a imprensa – encabeçada pelo crítico, audaz e persuasivo jornalista Carlos Lacerda – quanto os militares não medem esforços para expulsa-lo do poder mais uma vez. Os meios de comunicação anunciam persistentemente um suposto “mar de lama” para qual o amado “velhinho” teria arrastado o país. A pressão é imensa: o antes vigoroso líder se curva impotente, enfraquecido diante da cruzada que lhe tem como maior alvo. As circunstâncias ainda dão aos opositores de Vargas munição extra: um atentado contra a vida de Carlos Lacerda (que é frustrado em matar o jornalista, mas atinge o major Vaz, um dos simpatizantes das Forças Armadas que faziam a sua segurança) parece ser a razão perfeita para um golpe disfarçado de Impeachman.

É nesse cenário que Rubem Fonseca ambientou Agosto: o comissário Mattos investiga o assassinato de um rico empresário – cujo sócio é marido de sua complicada ex, Alice. Além dos problemas comuns da vida de um policial, a personalidade de Mattos ainda faz com que ele arrume mais alguns para si: incorruptível, Mattos recusa-se a ganhar dinheiro dos bicheiros ou dispensar tratamento diferenciado para as classes sociais mais elevadas. Ao invés de admiração, Mattos atraí ódio: não são muitos na polícia que recusariam sua cabeça em uma bandeja. O comissário escapou por pouco de algumas situações bem desagradáveis; mas quando os fatos apontam que o crime que ele investiga – o assassinato do empresário –  está intimamente ligado ao Palácio do Catete, a periculosidade desse rótulo de “incorruptível” fica ainda mais clara.

Agosto me divide.

Os poucos romances históricos que li seguiam uma das duas linhas: ou eram registros de memórias de alguém ou eram completamente ficcionais, usando uma determinada época histórica como pano de fundo. Já Agosto não: de forma maravilhosamente bem orquestrada, o livro mescla a ficção – a investigação do comissário Mattos – com a realidade – os fatos que desencadearam o suicídio de Getúlio Vargas. Aliás: a riqueza de detalhes com que todo o contexto desse último é narrado me fez duvidar de sua veracidade muitas vezes – mas o retorno do Google foi positivo sempre que chequei.
Todo leitor ávido, de uma maneira ou outra, “se apega” aos personagens, por vezes tratando-os como se fossem pessoas reais – mas quando esses personagens foram de fato reais e marcantes de alguma maneira, as distantes imagens congeladas entre as linhas de um livro de História se tornam vivas e mais reais.

A minha supracitada divergência interna de opinião sobre esse livro vem pelo fato de que em muitos pontos ele é enfadonho. Tanto a corrida de Mattos em busca de um culpado quanto o jogo político envolvendo imprensa, políticos e militares envolvem pessoas demais – algumas delas cuja citação foi desnecessária – o que torna o livro cansativo e de desenvolvimento confuso.

Não leio livros por sua utilidade e espero que o dia que eu o faça nunca chegue; mas, como aula de História do Brasil, Agosto cumpre bem seu papel.

Nota: 3.5/5


10 comentários:

  1. Oi Isa
    Eu gosto de ler livros históricos, mas evito os que abordam a política , but, livros que envolvem a morte de políticos, esses muito me interessam rs
    Mas por abordar a história do Brasil (que eu fugi muito no período escolar), este livro vai entrar para a minha listinha.
    bjos

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  2. Adoro livros que se baseiam em fatos históricos. Não conhecia esse livro e gostei bastante da história! Ainda mais por mesclar investigação e suspense.
    Ahh e quanto tirar as fotos, obrigada pela informação, não sabia mesmo disso. No caso do meu celular, ele não tem flash, então não fez nenhum mal.

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  3. Acho que Rubem Fonseca escreveu coisa muito melhor, como por exemplo, "O caso Morel" ou o conto " o Cobrador"- aliás, eu adoro os contos violentos e explícitos dele. Se vc aceitar uma simples opinião de uma professora,acredite: o que há de melhor em Fonseca são os contos. O resto, são só experimentos.

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  4. Livros que abordam temas históricos estão entre meus favoritos, mas confesso que de história do Brasil foram poucos os lidos. Gosto quando o autor consegue mesclar sua ficção com a realidade, sempre nos fazendo questionar se tal passagem foi real ou não. Gostei desse livro, quem sabe eu o leia futuramente. =*

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  5. Isabel, tenho um forte apreço por livros históricos, mas nem sempre a leitura flui com tamanha agilidade. Apesar do não compromisso que estes nos propõe, a necessidade de realizar um estudo cuidadoso ainda é preciso. Mesmo assim a leitura, de modo geral, é bem interessante.. Deveríamos nos propor a isso mais vezes.

    Adorei a resenha.

    Um abraço!
    http://universoliterario.blogspot.com.br/

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  6. Eu nunca tive a oportunidade de ler este livro
    Mas quando estava no Ensino Medio, um amigo leu e super recomendou
    Além da curiosidade de conhecer mais sobre Vargas

    Beijos
    @pocketlibro
    http://pocketlibro.blogspot.com

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  7. eu não conheço muitos livros de ficção que envolvam o panorama histórico do Brasil - na real, acho que esse é o primeiro de que eu ouço falar. parece interessante, mas ao mesmo tempo cansativo. não sei se é o tipo de livro que eu leria.

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  8. Aaahhh essas musiquinhas são tão legais, sempre me pego sorrindo ao escutá-las pois lembro de um professor de história que tive no cursinho e ele vivia cantando essas músicas e era muito engraçado ele cantando, sério. Outra música que eu rio é aquela da vassourinha pra varrer a corrupção ahhaahhaahhahahahahhahah
    Enfim, adoro livros que abordam temas históricos! Mas não senti muita vontade em ler esse, pelo menos não no momento :/

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  9. Olá, Isabel (: Bem, gostei do assunto abordado no livro. Espero lê-lo em breve. Porém não leio bastante sobre livros sobre a história do Brasil, mas parece ser bem interessante, pois conta um romance também, né? rs E acho uma ótimo forma de estudar para a história haha
    Beijão http://doceescrita.blogspot.com.br/ x

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  10. Hey Isobel, que interessante esse livro! Primeiro por que amo História, ainda mais a do Brasil, segundo, um livro que traz ficção junto com fatos históricos com certeza me interessa, mas o fato de ter personagens desnecessários e a narrativa ser enfadonha, irá atrasar minha busca por esse livro, mas com certeza quero lê-lo.
    Aliás, preciso dizer, suas resenhas são mais do que ótimas!

    Beijos
    Meu outro lado

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