Desde que foi para Madri, Raimunda evita ao máximo o povoado onde nasceu: os intensos e desconfortáveis ventos de Alcanfor de las Infantas lhe trazem memórias indesejadas.
Mas três anos depois da morte de seus pais, Raimunda se vê
obrigada (juntamente com sua irmã Soledad e sua filha Paula) a se por na
estrada rumo ao povoado a fim de realizar o pitoresco ritual de limpar a
sepultura da família – feito pelas mulheres do lugar com uma alegria
contida, tomando leves ares de evento social.
Depois que brilhou o epitáfio, as três foram visitar a
fragilizada tia Paula (irmã da finada Irene, mãe de Raimunda e Soledad) e Agustina – uma
velha amiga que lhes segreda entre baforadas de maconha correr em Alcanfor o
boato de que tia Paula, depois de adoecer, vem sido amparada pelo
fantasma de Irene.
Raimunda não dá muita importância ao fato: entre dois
empregos, o serviço doméstico e Paco – seu marido desempregado que passa o dia
inteiro em frente à TV – o tempo para crendices é limitado. A solitária
Soledad, embora mais crente nesse tipo de coisa, também desvia-se para o seu
salão de beleza clandestino, não retomando-o até sua próxima visita a Alcanfor.
Como Murphy previu, tudo desaba ao mesmo tempo: ao voltar de
um dia de trabalho, Raimunda encontra Paula esperando-a na calçada de casa,
desesperada. O motivo: ao tentar se defender de uma tentativa de estupro por
parte de Paco – que ela acreditava ser seu pai, embora durante o assédio este afirmasse ao contrário – Paula acabou por matá-lo. Uma ligação de Sole algumas
horas depois a informa de que sua tia também havia morrido – o que também
acontecerá com Agustina (portadora de um câncer terminal) caso ela não consiga
um bom tratamento.
Há algo de mágico em algumas cenas de Volver: como uma
mulher limpando uma cozinha ensangüentada pode parecer algo encantador? Não
sei, mas pequenas “banalidades” como essas inseridas durante todo o longa
tocaram meu coração profundamente. Qualquer um dos aspectos de Volver – seja roteiro,
fotografia ou elenco – poderia carregar o filme nas costas, mas eu elejo esses
pequenos recortes de humanidade como meu preferido. É como se esses pedacinhos fossem
preenchidos com sentimentos e reflexões individuais, tornando o filme algo tão
próximo do espectador que uma visita de Raimunda e Soledad para um café não
seria recebida com surpresa por mim.
Gosto de livros e filmes que se passem em mundos alternativos
bem construídos (resultantes de uma dose cavalar de abstração e uma pitadinha
de loucura de seus autores), mas filmes como Volver me fazem perguntar por quê.
Por que gosto do distópico, do fantástico e do sobrenatural quando a humanidade
por si só já é tão complexa e intensa? Qual a necessidade de criar mundos além
se esse daqui foi precariamente explorado?
Acredito que haja uma pequena confusão nas sinopses de
Volver (a minha inclusa): se tem a impressão de que é Raimunda que protagoniza
o filme. Embora a corajosa mulher de fato apareça na maior parte das cenas, é
um disparate: há uma personagem que toma as rédeas do enredo completamente – a morte.
Sei que soa estranho dar tamanha importância a algo não-personificado mas de
forma única, a última partida – e o folclore em torno da mesma – comanda o
destino das personagens, estando presente do início ao fim. O tema central de
Volver pode soar as vezes como mimimi de novelinha, mas graças a sua ilustre
personagem, as voltas do filme são imprevisíveis – embora pareçam lógicas
depois que ocorrem. Isso é de todas as qualidades do filme a mais genial: qual
melhor protagonista para um filme recheado de humanidade do que a nossa única
certeza?
Nota: 5/5
Eu amo Almodovar - já cheguei a matar trabalho para assistir uma estreia de filme dele- mas não gosto de Penélope Cruz, acho que super dimensionam a beleza dela. Mas este filme, como sempre, é muito acima dos demais de qualquer outro diretor!
ResponderExcluirObrigada pela visita ao blog e pelos elogios! Também acho que vc escreve sempre bem!
Bem interessante o filme, normalmente não gostaria dele depois de ler sua descrição sobre, mas ver muito sobrenatural pra mim ás vezes me deixa meio alienada e não me agrada, mesmo gostando de estórias assim, acho que esse filme tem tudo pra soar estranho e esquisito aos meus olhos, mas no final, eu posso gostar de vê-lo ;}
ResponderExcluirBeijos
Meu outro lado
Olá!
ResponderExcluirJá ouvi falar na produção, principalmente pela atriz, mas nunca tive o interesse em parar para assistir. Não sou muito voltada para essa temática, na verdade. Sua concepção, no entanto, me despertou curiosidade. Quem sabe eu não acabe vendo, então?
Um abraço!
http://universoliterario.blogspot.com.br/
Oii (:
ResponderExcluirEstou louca pra ver esse filme, mas meu pai vive falando pra eu não assistir, que não é o meu tipo de filme.
Mas a curiosidade MATA HAHAHA
Beijos,
Marinah | Blog Marinah Gattuso
estou louco para assistir esse filme. já ouvi flar muito bem dele, quero assistir ele kkkk
ResponderExcluiramei teu blog, super legal. já estou seguindo.. da uma passadinha no meu
>> http://estilo4u.blogspot.com.br/
bjuss
O Almodóvar é simplesmente FODA. Praticamente todos os filmes dele são absolutamente geniais, e volver não é excessão. Adorei o post rs
ResponderExcluirVc viu o mais recente dele, A pele que eu habito?
Oi Isabel!
ResponderExcluirAh os filmes do Almodóvar não me atraem... Acho que não meu estilo :/
Mas gostei da sua resenha, interessante isso de uma mulher limpando sangue ser poético.
Beijos,
Sora - Meu Jardim de Livros
Eu ainda não conhecia esse filme, mas ele parece ser realmente muito bom!
ResponderExcluirAchei estranho, porque nunca ouvi ninguém falar dele. :x
Um beijo,
Luara - Estante Vertical