07 maio 2012

Paraísos Artificiais


 “As pessoas acham que é tudo sofrimento, desespero, morte... O que não pode se ignorar. Mas elas esquecem que há prazer nisto. Caso contrário, não faríamos isso. Afinal, não somos idiotas. Pelo menos não tanto.”.

O dito por Mark Renton sobre seu vício em heroína no filme Trainspotting talvez resuma bem porque é uma tarefa tão infeliz retratar o mundo das drogas. Um erro tão grande quanto esquecer os efeitos devastadores sobre a saúde e a vida em sociedade é ignorar os porquês de existirem tantos viciados: há uma dose cavalar de imbecilidade (ou desespero) em começar a se drogar; mas não parece que a continuação do hábito necessite de muito. Enfim, a linha entre o moralismo chato, repetitivo (e até certo ponto inútil) e a apologia é tênue, mas quando um escritor ou cineasta consegue caminhar em cima dela, sem pender para nenhum dos dois lados, o efeito é (no bom sentido) destruidor.

Eu estava decepcionada com o último filme sobre drogas que assisti – Meu nome não é Jonhnny, que resenharei em breve – e nada no enigmático trailer de Paraísos Artificiais chamou de fato a minha atenção. Em geral, trailers costumam ser uma compilação interessante e inteligente dos melhores momentos de um filme – um trailer bem feito faz o pior filme parecer digno de aplausos – mas o de Paraísos Artificiais não me disse nada sobre sua qualidade ou falta de.

Mas graças aos bons comentários, fui assisti-lo. Pois bem, há uma razão pela qual o trailer e sinopses são enigmáticos: a maior parte dos spoilers estragaria o pouco de roteiro que o filme dispõe.

A sensação de já conhecer a DJ Érika ao encontrá-la em um clube noturno em Amsterdã – onde ele foi à “negócios” -  não sai da cabeça de Nando. Não é surpresa que não se lembrasse: ele estava "anestesiado" durante (por ter tomado seu primeiro comprimido de ecstasy) e depois (pela dor da perda do pai) da festa onde se conheceram dois anos antes, a rave Shangri-lá.Mas Érika lembra bem – e carrega as conseqüências e culpa de seus atos durante o que deveria ter sido o seu momento de glória, a primeira rave onde tocou – e se encontra em um impasse: refrescar ou não a memória do rapaz?

Paraísos Artificiais não é moralista ou faz apologia; muito menos caminha na gloriosa corda bamba entre ambas instâncias. Se o trailer é vazio, o filme é mais ainda; desprovido de qualquer provocação ou convite a reflexão.

É de fato um defeito imperdoável, mas não completamente repelente: a execução geral do filme é magnífica, e se esta não tapa os buracos no roteiro, ao menos desvia a atenção. A combinação de bons atores e uma ótima fotografia fez com que o retrato do efeito das drogas alucinógenas fosse arrebatador: as “viagens” dos personagens com ecstasy e peyote ao mesmo tempo assustam e encantam. Isso sem falar do cenário: se uma rave já é uma explosão de cores, sons e sentidos, uma rave em uma praia paradisiaca de Pernambuco é mais ainda.

Um verdadeiro espetáculo visual. É uma pena que não tenha sido também de ideias.

Nota: 4/5

8 comentários:

  1. depois de ter me decepcionado assitindo Federal nos cinemas, fiquei com o pé, a cabeça e todo corpo atrás rs
    Mas, esse meu marido quer muito assistir, então vou correr o risco rs
    bjos

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  2. Outro dia vi uma pessoa falando sobre esse filme, mas nem procurei para saber mais sobre ele.
    Concordo com você, esse assunto de um modo geral é retratado de um modo chato e geralmente é inútil. Acho que todo mundo já sabe o que precisa saber sobre o assunto e aí vai da escolha de cada um em usar ou não drogas. Ficar batendo na mesma tecla não resolve o problema, como podemos ver, afinal temos muitos dependentes no mundo.

    Ahh! Fiz os brownies daquele site que eu te passei e ficou uma delícia ;9

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  3. Oi Isabel!
    Eu tinha visto o cartaz desse filme no cinema, mas não sabia sobre o que era. Mas agora que li sua resenha, concluí que não vou assistir... O assunto não me atraiu :/

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  4. Eu tenho um pouco de aversão sobre filmes que abordam drogas, quer dizer,a colocam como tema central. Tbém não gostei do filme do Meu nome não é Jhony. Acho quue, como a Sora disse acima, tbém não fiquei com vontade de ver este...
    Boa quarta-feira!

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  5. Eu evito ver filmes ou ler livros que falem sobre drogas, por que... Bem, por que isso me dá vontade de usar drogas. Pode parecer idiota, pode parecer inconsequente, (o meu próprio pscicólogo diz que, no meu caso, basta um pequeno impulso pra que eu faça alguma grande loucura), mas eu acho que das opções que você deu se encaixa mais em desespero mesmo. Eu sou muito desesperado, e radical. Talvez isso não esteja fazendo nenhum sentido pra você ("como ele quer e não quer fazer merda ao mesmo tempo?"), mas é fato.
    De qualquer forma, eu posso até tentar ver o filme.

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  6. Hey
    Não sou de assistir filme nacional haha
    Mas esse fiquei curiosa, esse poster me lembrando avatar...

    Não curtiu Meu nome não é Johnny? Nossa o pessoal fala tãããão bem!

    beijos e uma ótima quarta
    Nana - Obsession Valley

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  7. Uma pena que o filme tenha sido tão ruim nessa parte das ideias. Quando eu vi o trailer, imaginei um enredo totalmente diferente na minha cabeça e estava esperando por isso.
    Sinceramente? Não estou mais com vontade de assisti-lo não. :/

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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  8. PRECISO ver! Adoro drogas no campo das ideias. Só. Já fumei maconha, já tomei Benflogin e adoro beber. Quero experimentar outras. Quero sim. E o filme parece uma delícia.

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