10 novembro 2012

Gattaca




Vincent queria ser astronauta.

No seu tempo, a tecnologia já está tão avançada que explorar outros planetas e lá estabelecer missões não é um sonho distante, e sim uma realidade diária. Os anos passam e a vontade de Vincent não. Na sua candidatura, entre notas perfeitas nos testes e uma determinação sem igual, há um problema: Vincent é um filho do acaso.

Além de conseguir explorar outros planetas, a tecnologia também levou a possibilidade de melhorias genéticas inacreditáveis. O jeito comum de se nascer na época de Vincent é por proveta, com genes escolhidos para saúde perfeita, inteligência e até mesmo talentos específicos – futuros pianistas, por exemplo, são gerados com doze dedos.





Por ter sido concebido “naturalmente”, Vincent é a escória, os inválidos, para quem são reservados os trabalhos mais duros e nenhum avanço ou oportunidade. Vivendo assim durante anos (uma sombra do irmão gerado na proveta e depois um invisível na empresa que gostaria de trabalhar um dia) ele finalmente consegue um jeito de burlar o sistema: um traficante de material genético, um negociante de sangue, cabelo, urina e identidade dos geneticamente perfeitos que, por alguma razão, caíram em desgraça.

Vincent passa a viver com Jerome, um ex-nadador alcoólatra, amargo e paraplégico considerado nível 9.3 – ou seja, tão próximo da perfeição física e intelectual quanto se pode estar. Com um “currículo” desses, como Gattaca, a empresa que realiza as missões espaciais, recusaria Vincent?

O empregado-modelo, em pouco tempo Vincent já está escalado para uma missão de um ano em outra galáxia, sobrevivendo às verificações diárias de saúde física e autenticidade genética. A morte do diretor, porém, muda um pouco as coisas: Gattaca se enche de policiais, tornando a tarefa de fingidor de Vincent cada vez mais difícil.

Gattaca é assustador, por representar uma questão que divide tanto as pessoas. A aflição de pais com propensão a doenças crônicas em seus genes deve ser sem igual, na vontade de saber se seus rebentos terão a mesma sina mortal de seus parentes, mas como estabelecer um limite? Se não há um problema em excluir doenças que perseguem a humanidade desde a sua origem não seria hipócrita negar aos futuramente nascidos pele perfeita, concentração sem igual ou excelente resistência física? O pianista de doze dedos só é um mínimo exemplo: em Gattaca, homens e mulheres escolhem seus parceiros baseados em suas propensões genéticas – isso sem falar na falta de perspectivas dos “filhos do acaso”. Discriminação por raça, gênero ou identidade sexual é coisa do passado nesse filme – como Vincent falou, o preconceito é elevado a um nível científico.



Foi feita em Gattaca uma ótima escolha de cenário: embora o filme tenha sido filmado no final dos anos noventa, toda a estética (carros, locais, roupas) é anterior aos anos sessenta, algo retrô com grandes toques tecnológicos, indicando um certo saudosismo e fazendo com que o mostrado no filme dificilmente pareça obsoleto.



A mensagem final puxa bem mais para a típica auto-ajuda americana – você pode ser o que quiser – do que para os danos de tentar uma experiência tão eugenista, mas não liguei muito desta vez – correndo o risco de reproduzir esse tal discurso que acabei de condenar, refletir ou não sobre o tema só depende do espectador.




12 comentários:

  1. Isabel, não conhecia esse filme. Gosto muito quando as obras de ficção científica abordam questões éticas/sociais/filosóficas, que, mesmo falando de um futuro muitas vezes distante, faz com que repensemos o nosso hoje. É mesmo aflitivo pensar que, em um futuro próximo, pessoas serão discriminadas por suas aptidões.

    Excelente post, como sempre ;)

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  2. Hey!!
    Assisti a esse filme na escola, rs. Meu professor de biologia o passou para nós, e eu achei super interessante e concordo com o A+, haha
    Beijo!!

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  3. Achei esse filme sensacional quando assisti, adorei a criatividade e também a distopia apresentada. Sem falar que é um tema delicado, mexe com as pessoas.

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  4. Ainda não assisti esse filme, mas fiquei bem curiosa, parece ser bem interessante ;)

    Beijos,
    Marinah | Blog Marinah Gattuso - @blogmarinah_g - INSTAGRAM: marinahgattuso

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  5. Esse filme é SENSACIONAL. Incrível, maravilhoso. Sem mais.

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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  6. uau, não conhecia o filme, mas por tratar de um assunto tão delicado, super fiquei om vontade de assistir.
    bjos

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  7. OI Isabel ^^

    Fiquei com um duplo sentimento, eu não o vi, mas pelo que vc falou, parte de mim ficou curiosa em ver pela parte que descreve o Vicent, mas por outro lado, parece-me uma história intensa. Ultimamente estou recorrendo aos mais leves e até mesmo bobinhos..NO momento eu passo, mas claro que se tivesse passando eu sentaria pra ver.

    Beijos :D

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  8. Oi Isabel!

    Nunca vi esse filme, mas adorei a estória, ou como a sua resenha retratou ela. Parece ser um ótimo filme! Meio louco isso né... e essa coisa das roupas, da época, em se tratando de uma coisa que imaginamos como 'futuro'... rs

    Beijos,

    Marcelle
    bestherapy.blogspot.com

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  9. Genteeeeeeeeeeee! Eu nunca ouvi falar desse filme, juro pra você, mas me interessei imensamente, ainda mais com todos os elogios e com a sua notinha ali no final pra matar a gente de vontade de ver :) Adorei!

    Beijos. Tudo Tem Refrão

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  10. Mais um que nunca ouviu falar desse filme e se sente um bicho por isso! Ainda mais com esse elenco e a estética toda lindona. A+? Valeu, vou baixar AGORA.

    @enriquecoimbra (Enrique-Sem-H), da Terra do Nunca.
    www.discipulosdepeterpan.com.br

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  11. Bel, acho que já ouvi falar desse filme... na verdade, não estou bem certa, mas adoro demais a temática e acho super válido conferir produções que tratem essa temática. Vou pesquisar mais e ver se consigo assistir, hein!

    Um abraço!
    umdiaacadalivro.blogspot.com.br

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  12. Oi Isabel, assisti a esse filme há muitos anos, em uma aula no ensino médio - não consigo nem lembrar qual a disciplina.
    Achei, na época, muito bom, apesar de não ter toda essa visão crítica que você teve, ou que teria agora.

    Beijos

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