14 dezembro 2012

O colapso de tudo




Não sei por que gosto tanto de histórias sobre o fim do mundo ou a vida após ele. Talvez todos gostem, e eu só um pouco mais: às vezes ficamos tão aparentemente à beira do colapso que ele se torna algo quase desejável, para que a incerteza acabe e a corda bamba entre civilização e caos finalmente se rompa.

Embora isso soe contraditório graças ao tom distópico de muitas obras do gênero, não sou muito fã de ficção científica. Poucos livros já caíram nas minhas mãos, confesso, mas em geral os achei pouco didáticos na hora de explicar os elementos componentes do tal futuro, diferindo bastante da distopia política ou Young Adult, que são claras e práticas.

“Pouco didático” é uma crítica que não podemos fazer ao livro que resenho, O colapso de tudo. Torci o nariz quando vi na orelha do livro que o autor, John Casti, é matemático – não me dou exatamente muito bem com essa área e os conceitos embutidos nela – mas ele cumpre muito bem a promessa feita na sinopse de manter a parte técnica nas notas, para eventuais curiosos. A teoria da complexidade, que Casti usa para embasar as onze possibilidades de fim de mundo que apresenta, é explicada com exemplos recentes ou historicamente relevantes, tornando a leitura leve, o diferindo bastante dos livros de não ficção que já li.


Depois de nos apresentar o básico de sua teoria, vamos à parte dois – a mais divertida: os onze casos. Apagão na internet, a falência do sistema global de abastecimento de alimentos, um ataque por pulso eletromagnético (mais ou menos o que ocorre em Revolution, destruindo todos os circuitos eletrônicos), o fracasso da globalização, a destruição provocada por partículas exóticas, a desestabilização de programas nucleares, o esgotamento das reservas de petróleo, uma pandemia global, pane no sistema elétrico e/ou abastecimento de água potável, robôs inteligentes que dominam a humanidade (éé) e uma crise no sistema financeiro global.

Ufa.

Dessas possibilidades, a única que não foi argumentada o suficiente para despertar uma pontadinha de medo em mim foi a destruição provocada por partículas exóticas – simplesmente irreal demais, maravilhoso para ficção científica, não para O colapso de tudo. De resto, foi tudo muito bem fundamentado, usando exemplos em menor escala do passado e embasando-se em pesquisas e relatórios expostos em linguagem simples – até mesmo a parte dos robôs dominadores.

A maior parte das hipóteses é velha conhecida do grande público: não é de hoje que futuristas, escritores de ficção científica e roteiristas de Holywood as usam e divulgam. A pesquisa extensa e exemplos dão uma luz diferente aos acontecimentos, e o que eu achava ser impossível se torna uma espécie de ameaça ou, no mínimo, material criativo. Enquanto mais ou menos metade dos casos são desastres anunciados  (já ocorridos no passado ou ocorrendo em alguma parte do globo, com grandes probabilidades de se espalhar) o resto é pura especulação, cuja não-ocorrência dependerá de como irão as coisas. Ufa.

Porém devo dizer que tenho alguns problemas digamos que ideológicos (na falta de palavra melhor) com O colapso de tudo. Casti tem aquele velho defeito dos americanos de achar que o mundo gira em torno deles de maneira positiva, o que o faz até mesmo entrar em contradição em alguns (poucos) pontos. Também é estranho não ver a palavra “desperdício” mencionada na parte sobre escassez de alimentos – talvez seja porque isso é uma grande pedra no sapato dos compatriotas de John Casti e seu estilo de vida pouco sustentável? Vemos isso de novo ao falar de armas nucleares e culminando no fracasso da globalização: em alguns pontos, me parece que ele gosta do status americano de “xerifão do mundo”.

Esses são defeitos quase pessoais, cujo nível de incomodo é variável de pessoa para pessoa. No mais, O colapso de tudo é um bom vislumbre em possíveis futuros – ninguém sabe se os maias só erraram por alguns anos, não é?



19 comentários:

  1. Isabel, estou com este livro para ler e não sei muito bem o que esperar dele, gosto de teorias e previsões - quanto mais maluca melhor - mas não sei se estou no momento certo para ler.

    Dois abraços ;)

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  2. Gostei da ideia por trás do livro (o título e o subtítulo com certeza chamam atenção!), mas as ressalvas que você fez me broxaram um pouco na curiosidade de ler.

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  3. Lendo a sua resenha não pude deixar de lembrar de uma sobrinha preocupada com o fim do mundo este ano. Então eu disse pra ela: " O mundo vai acabar um dia sim pra vc, mas só qdo vc morrer" Ela ficou meio assustada- ela tem 7 anos- mas remendei: "Vai demorar bastante, não se preocupe!"
    Acho que é por isso que livros assim, temas de fim de mundo chamam a atenção: é um total desaforo imaginar que o mundo continue depois que morrermos. Então, acho que inconscientemente, desejamos que o mundo acabe para todos, ao mesmo tempo. Uma justiça meio torta...

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  4. Antes de qualquer coisa tenho que dizer que só o nome do seu blog já me disperta, distopia é um genero que me agrada demais, rs. Sobre a resenha admito que me deixou muito curiosa sobre o livro, a questão de como o mundo vai acabar é um mistério para todos, e nessa onda de 2012 fim do mundo, todo mundo fica mais atento a esses temas não é ? gostei bastante e anotei o nome do livro, rs. Nunca li um livro sobre teorias do fim do mundo, mas admito que essa coisa de o pós fim do mundo me agrada bastante.
    To começando um blog literário essa semana, espero que de certo, rs. Sucesso, beijos.
    http://leiitorasonhadora.blogspot.com.br/

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  5. Não gosto muito desse tipo de livro, a ficção cientifica por ela própria não me agrada. Prefiro as distopias legais que a gente vê por aí, assim como você, e então nós duas somos contraditórias.
    Não fiquei com vontade de ler o livro, apesar de as onze histórias me chamarem atenção. O problema está no fato de o autor colocar o Estados Unidos "como xerife do mundo". Não me agrada isso, eu tenho grandes problemas com os americanos, acho errado o jeito deles se acharem a capital do mundo (o que eu costumo dizer quase toda hora quando quero me referir a eles e apesar de tentar ser irônica acho que não estou muito longe da verdade). Não vou tentar ler um livro que de cara vai já me irrita. :x

    Gislaine,
    atualizado, comenta?
    Jeito Inédito

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  6. Mais um livro que não fazia ideia que existia. Gosto tanto de distopias quanto de ficção científica. Sou apaixonada por robôs e gostei de saber que uma das teorias falam sobre eles. Acho que esse livro é bom para dar inspiração a escritores e leitores que gostam desse tema. Eu adoraria lê-lo!

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  7. haha, também não sabia da existência desse livro. Não acredito no fim do mundo, mas em mudanças constantes, e creio que quanto mais "evoluímos", mais possível é atingir o caos, já que nos tornamos mais dependentes de uma ou de outra coisa. Li algo sobre essa série Revolution hoje, e determinantemente preciso assistir.

    Beijos

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  8. Olá, boa tarde ^^
    Não conhecia esse livro; achei interessante. A capa é um tanto quanto "diferente" (curti ^^')

    Beijinhos
    Isabelle - http://attraverso-le-pagine.blogspot.com.br

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  9. Não me animei. Você escreve bem, mas a temática não me atrai. Sempre acabo encontrando mais fenda não amarrada, espaço pra contradição, que interesse na história.
    Não gosto dos papos sobre fim do mundo, nem das teorias, embora, de forma contraditória, ame os Maias!
    Estranho, eu sei, mas este livro ainda vai demorar pra despertar meu interesse.

    Beijos
    Pâmela Rodrigues
    Blog: Liste & Realize
    Página no Facebook

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    1. Respeito sua falta de interesse Pamela pelo assunto.Mas te aconselho ler um pouco mais sobre o assunto.Por tras de tudo isso estão as profecias biblicas e ciencia.Leia tambem sobre os illuminats e vc vai ver que alguns desses eventos estao muito mais ligado ao ser humanos do que a propria natureza...

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  10. Hmm... ao contrário de você Isa (posso te chamar de Isa?Rsrs) eu adoro ficção cientifica. Não é o meu gênero favorito, mas eu gosto bastante. ;)
    Essas histórias sobre o fim do mundo nos fazem refletir, tem umas tão absurdas que você dá risada, agora tem outras mais sérias que te faz pensar e ficar um pouco assustada.

    Beijokas Isabel :*
    Blog da Mylloka

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  11. Apesar dos defeitos o livro parece ser bom! Adorei essa capa porque passa um ar de mistério. Ah...Americanos realmente acham que o mundo gira em torno deles.
    Beijos!
    Paloma Viricio-Jornalismo na Alma

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  12. Ainda não conhecia esse livro e, por gostar bastante de distopias, fiquei bem curiosa sobre ele. Realmente parece ser muito interessante. E, mesmo com os defeitos citados, ainda fiquei com vontade de dar uma chance. :)
    Beeeijos

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  13. nossa, não conhecia esse livro. Bom ver gente comentando sobre livros diferentes, ultimamente todos os blogs falam sobre os mesmos livros ...

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  14. Esse livro é maravilhoso, e a sua resenha é muuuuito boa! Parabéns!!

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  15. Ainda to no começo do livro mas mesmo no começo já se percebe esse ponto que voce ressaltou, a ideologia que John Casti não faz nem menção de esconder; vou citar um trecho do livro que confirma isso: "Voltando algumas décadas, vemos o mesmo padrão de lógica pós-fato ser empregado para explicar o colapso da URSS, o final infeliz da guerra do vietnã[...]" pg.67. De boa, a guerra do vietã foi infeliz por si só porque matou não só os vietnamitas como também os soldados americanos mas o final foi bem merecido para os norte-americanos, eles acham que só porque tem uns comuna no vietã podem entrar lá e destruir tudo??
    wbs.

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    1. Siim! Pensei que isso fosse influenciar mais o livro, felizmente, não é uma coisa tão pesada. Só fica chato mesmo...

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  16. Estou lendo esse livro agora. Estou simplesmente achando incrível!!

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    1. ja li ,e sao simplismente eventos apocalipticos que podem acontecer a qualquer momento

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