06 março 2013

[SÉRIE] My mad fat diary

                 

É difícil falar sobre as coisas que você gosta muito. Por maior que seja o seu vocabulário, a única coisa que se consegue pensar é: “porra, isso é muito bom!”.

OK, mas eu vou tentar.

Assisti a primeira temporada (composta de seis episódios de 45 minutos) de My mad fat diary em dois dias. Não sou muito de fazer maratonas de seriados, mas eu queria saber o que iria acontecer com Rae – a protagonista apaixonada por música e (de uma maneira meio estranha) pela vida me encantou, alçando aquele patamar de que me preocupei com seu futuro não como um personagem ficcional, mas como uma pessoa de verdade, uma amiga. É cômico, mas é verdade – e um dos maiores elogios que se pode fazer a ficção.

Em meados dos anos 90, Rae, de dezesseis anos, acaba de levar alta do hospital psiquiátrico onde passou quatro meses graças a uma tentativa de suicídio. Como o título da série diz, Rae é gorda – as cinco letras, sem eufemismos nem inhas – e seus problemas com sua auto-imagem levaram-na ao extremo. Agora acompanhada de um diário, onde escreve cada um de seus desejos, planos e pensamentos, Rae tem a dificílima missão de começar de novo.

É uma mania bem grande das séries mainstream americanas “enfeitar” um pouquinho as coisas – sejam os relacionamentos, seja o que se põe na tela. Meu primeiro elogio vai aí: além de ser gorda “de verdade” (e não uma magrela de ossos grandes ou usuária de tamanho 40 com enchimentos) Rae não tem papas na língua, como geralmente se é em um diário. Há algum tempo eu havia me posto a comparar meus próprios com aqueles de ficção, e mesmo que eu não guarde grandes segredos ou tenha aquela vergonha mortificante de alguma coisa, nunca ponho nada tão bonitinho quanto Mia Thermopolis. É algo íntimo, com as conseqüências de tal. Nele, Rae oscila entre a esperança de uma felicidade plena e o risco de cair de novo nos abismos da depressão, com um bom humor louvável no primeiro caso e uma tristeza profunda e genuína no segundo.


Esses “enfeites” não só são da linguagem e do corpo dos atores, mas também das relações interpessoais. A mãe de Rae (que a criou sozinha) é amorosa e preocupada, mas não tem a resposta para tudo, frases de efeito em momentos difíceis e comete erros homéricos as vezes.

Antes de ir para o hospital, Rae tinha basicamente uma amiga – a lindíssima Chloe – e a relação delas não é aquele estilo conte-comigo-para-sempre bonitinho: povoada de inveja ocasional e acusações mútuas, se aproxima bastante da realidade. Afinal, qual de nós está isento de ouvir ou falar “você é um amigo de merda de vez em quando”?

Acreditando que a ausência dos últimos meses se deveu a uma viagem à França, Chloe apresenta Rae a seus novos amigos: Archie, obcecado por música e bonitinho; Finn, o calado; Izzie, uma garota fofissima e Chop, o palhaço. Levando uma vida dupla com a nova turma, a terapia e as visitas ao hospital, Rae tenta ao máximo se encaixar, ser “normal” – mas sobretudo, descobrir o que “normal” significa.

Nas minhas andanças no Facebook, me deparei com esse artigo d’O globo sobre a chamada sick-lit – a literatura que tem como protagonistas adolescentes com problemas como depressão, transtornos alimentares, câncer etc. Sob uma ótica completamente desfavorável, a reportagem era tendenciosa quanto a dizer que a “sick-lit” é ruim, influenciando jovens a desenvolver os tais problemas.



Compreendo a desconfiança: Os sofrimentos do jovem Werther, por exemplo, foi gatilho para o suicídio de muitos na época de seu lançamento, sendo proibida a sua impressão em vários países por tal. Mas acho completamente ingênuo acreditar que alguém desenvolverá algum tipo de doença somente por causa de um livro, sem possuir algum problema anterior. Falando agora pela “sick-lit” (ponho em aspas porque não gosto muito do termo) contemporânea, acredito piamente que ela pode inclusive ser um auxílio, não só para aqueles com problemas sérios, mas para os que têm problemas cotidianos. Rae não se define só por sua depressão, mas também por seus problemas banais e cotidianos. Se ela consegue superá-los, porque o espectador não conseguiria?

[Não vou me alongar muito no assunto, mas quem quiser saber um pouco mais sobre essa discussão em torno da “sick-lit”, recomendo a leitura deste texto. Eu não acrescentaria nem uma linha.]

My mad fat diary é como um doce: comi rápido demais, e agora me arrependo de não ter guardado mais para depois – até 2014, Rae.


16 comentários:

  1. Estou acompanhando a série, boa indicação!

    Beijos *-*
    clicandolivros.blogspot.com.br

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  2. Ola, gostei da série, mais tá tão difícil eu acompanhar alguma série, nem as minhas preferidas eu to vendo :(

    beijos Mila
    http://www.dailyofbooks.blogspot.com.br/

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  3. Eu assisti os dois primeiros episódios e gostei muito - em parte por Rae ser uma adolescente gorda de verdade, como você bem disse - e também por tratar de problemas de imagem, que todos nós temos de um jeito ou de outro. Destaque pra mãe dela e seu romance, quem não piraria em uma situação daquelas? Eu não a questiono.

    Deu vontade de terminar logo de ver, quem sabe ponho em dia este fim de semana.

    E, quanto à sick-lit, ela é de doer mesmo, e lida com emoções de um jeito que pessoas mais suscetíveis podem se sentir mais impressionadas, mas não é por isso que se deve moldá-las, é um gênero e, no fim, lê quem quer. Minha preocupação é as pessoas saberem distinguir se a estão lendo por desejo ou por curiosidade mórbida.

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  4. Já acompanhei metade dessa série só por gifs no tumblr. Até hoje, só vi elogios, mas ainda não consegui me motivar a ver.

    Eu não vejo tanto problema em enfeitar um pouco as coisas. Às vezes isso me incomoda, mas às vezes eu também penso que de muito realista já serve a vida (daí eu fico no eterno dilema de abandonar ou continuar vendo Girls, que é uma dessas séries que não maquia as situações).

    Quanto à história do "sick-lit": por favor. De novo, gente que provavelmente nunca nem vai ler nenhum desses livros criticando literatura escrita principalmente para jovens (assim como Jogos Vorazes é "muito violento". E os romances são "muito bobinhos". E a lista segue). "Muito pesado, muito obscuro"? A vida pode ser bem pesada e obscura às vezes. Tenho *certeza* de que não é um livro (série, filme, etc) que vai tornar uma pessoa depressiva.

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    1. Girls me deprime as vezes. Sério! Por retratar essa fase tão idealizada de forma tão real, é impossível não ficar meio cabisbaixa. Também gosto da "maquiagem" de vez em quando, mas me questiono se isso é saudável, sabe? Estilo menina que cresceu assistindo Disney e fica a vida adulta inteira a espera do principe encantado...

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  5. Li em um blog sobre essa série há pouco tempo e achei bem interessante.
    Achei ela mais pro lado drama do que comédia, mas ainda não me motivei a procurar e assistir.

    6 episódios só? Acho que vou procurar agora haha não gosto de séries muito longas (tipo uma série com 10 temporadas e quase 30 episódios de 45min cada... isso me irrita e cansa bastante).

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    1. Odeio do fundo do meu coração séries longas demais! A associação de roteiristas ou algo assim deveria proibir! É um milagre enorme quando não perde a qualidade...

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  6. Engraçado, sempre da-se um jeito de menosprezar esse lado melancólico da vida, talvez por isso ele esteja tão pouco presente, e às vezes censurado, superficial, na ficção. Somos "incentivados" (odeio usar esse termo, mas por falta de melhor) a entupir a mente de romances água com açúcar e livros de auto-ajuda, já que a primeira vista essa é a receita correta para superar os pequenos porém desgastantes desafios cotidianos. A ajuda pode vir, contudo, da observação de desvios e superações alheias, afinal, perceber que todos temos conflitos e nos sentimos insatisfeitos com relação a algum aspecto da vida, cria, ou meu ver, um tipo de conforto. Até então desconhecia esse termo sick-lit, mas creio, que atualmente meus filmes e livros favoritos se encaixam nele. Juro, tenho de por minha lista de séries em dia, e me aventurar pelas sugeridas aqui. Sempre saio desse blog com um novo item na minha lista de pendências, como pode uma coisa dessas?

    Beijos =*

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  7. Concinidade essa semana li uma post sobre essa serie e já tinhas marcado ela para ver futuramente.
    Achei interessante o tema e estou bem curiosa para saber como vai ser o rumo da historia.
    Beijos!

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  8. Quero muito assistir essa série. Pode me indicar um site bom para ver online?

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    1. Poxa, ver online é complicadinho :// Mas ó, baixei no BaixandoFácil ( http://www.baixandofacil.com/my-mad-fat-diary/ ) e aparentemente não tem nenhum vírus, nem aqueles protetores de link chatos. Por ser RMVB, não é pesado também...

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  9. Olá Isabel, tudo bom?
    Lembra de mim do Endless Poem?
    Nunca ouvi falar dessa série, até abrir seu blog e ficar lendo seu texto totalmente concentrada! Amei a história, amei a personagem e quero muito assistir, tá passando em algum lugar ou você baixou? Gosto muito das "sick lits", mesmo não gostando do termo, porque mostra uma realidade. Nem só de mocinhas bobinhas apaixonadas que tudo que desejam é correr atrás de um namorado vive a literatura. E a literatura é um retrato da sociedade, dependente de sua época, né?

    Mudei tudo lá no blog, e gostaria muito da sua presença por lá, para conferir e contar o que achou!
    Também tem post novo!

    http://endless-poem.blogspot.com.br/

    Beijos

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    1. Obrigada pelos elogios! Então, no Reino Unido passa no canal E4, que não existe no Brasil, e aparentemente não compraram os direitos ainda. Baixei no BaixandoFacil, e é bem tranquilo (sem protetores de link chatos nem vírus aparentes).

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  10. Olá
    Não conhecia a série, vou ver se procuro ela depois...
    Obrigada pela dica.
    Beijos

    cocacolaecupcake.blogspot.com.br

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  11. Vi tanto sobre essa série no tumblr que acabei ficando bastante curiosa. Mas não me atrevi à adicionar mais um seriado na minha lista de quase vinte. Vou esperar um pouquinho, mas ei de assistir! E essa história da "sick-lit"... também não gosto do termo. É pejorativo e maldoso demais. Concordo quando diz que a leitura desse tipo de livro não influenciaria alguém sem uma bagagem de problemas, é a mesma coisa que dizer que os games violentos irão influenciar alguém a matar. Acredito não há nada de errado em ler e gostar de tais histórias, e é até muito bom que esse tipo de literatura esteja fazendo sucesso. Aquelas que são bem escritas de fato fazem diferença. Precisamos de leitura de qualidade, e vários desses livros são muito bons. Ah, vou te adicionar no Skoob, tá? E no twitter! HAHA, beijo!

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  12. Eu soube da série pelo Tumblr e amei! Já assisti todos os 6 ep. da 1ª temporada e já estou super super ansiosa pela 2ª! Mas soube que eles já estão gravando mas, só vai estrear no início de 2014 )))): Até lá... ;/

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