A fertilidade humana, no mundo do filme Children of Men, não passa de uma lembrança dolorosa: o último bebê
nasceu há pouco mais de dezoito anos e quatro meses e, desde então, nenhuma mulher engravidou. Os
cientistas dos mais avançados centros de estudos médicos tentam entender o que
aconteceu, mas não parece haver explicação plausível.
Como esperado, o desespero toma conta da humanidade, e
somente alguns países – geralmente os mais desenvolvidos, usando-se de forte
poder militar e autoritarismo – conseguiram manter seus prédios de pé e seus
cidadãos vivos – bom, ao menos
literalmente vivos – metaforicamente, as pessoas morreram com o choro do
último bebê, os sons das últimas cantigas de roda, algo tão forte ao ponto de tornar
necessária a distribuição de um kit suicídio, o Quietus, incluído na ração do
governo assim como pasta de dente e biscoitos.
Theo não liga muito para tudo isso – bom, pelo menos na
medida do possível: é difícil ignorar os ataques terroristas de organizações
com várias bandeiras, as “jaulas” onde os imigrantes ilegais (fugindo de
conflitos devastadores em seus países) foram postos e as lagrimas de seus
colegas pelo Bebê Diego – o ser humano mais jovem do mundo – morto recentemente
por um fã. A apatia geral de Theo quanto a vida é impressionante, e é isso que
cria um fascínio quanto ao personagem – quem é aquele homem que não parece se
importar com nada em meio ao caos?
Mas, precisando de dinheiro, Theo aceita trabalhar para o
grupo Fish – que luta por melhores condições aos imigrantes e do qual sua
ex-mulher faz parte. Sua tarefa é ajudar a levar Kee,uma jovem fugitiva, até o
litoral – mesmo as fronteiras
intermunicipais estão fechadas – mas a aparentemente simples missão se complica
por um simples fato: Kee está em estado avançado de gravidez. Repentinamente,
tudo muda, e se torna objetivo do antes apático Theo levá-la em segurança até o
navio do Projeto Humano, que irá protegê-la de governos tiranos e grupos que
querem usar o seu bebê como bandeira.
O filme é fantástico: há muito tempo eu não via nada que
balanceasse tão bem ação, reflexão e emoção. Children of Men cutuca algumas feridas e curiosamente nenhuma delas
tem relação direta com a infertilidade, e sim com suas conseqüências. Como, por
exemplo, o fato de que sempre nos voltamos ao lado mais “radical” da coisa em
situações ruins – é só ver o crescimento de partidos extremistas em época de
crise econômica. As religiões que surgem no filme, por exemplo, ao invés de
utilizarem os velhos métodos para o conforto de seus fieis, os transformam em
verdadeiros mártires, fazendo com que carreguem “o peso do mundo” nas costas.
A imigração é outro tema recorrente: enquanto milhares de imigrantes
são expulsos de suas pátrias adotivas de maneira desumana na atualidade, Children of Men faz sua versão distópica,
nos apresentando uma situação tão crítica que cidades inteiras são
transformadas em campos de refugiados para ilegais. O clima de perseguição é
completo: os anúncios alienantes do governo – presentes em cada segundo do dia
de seus cidadãos – lembram que alimentar, contratar ou ajudar imigrantes é
igual a alimentar, contratar e ajudar terroristas – ironicamente, a maior parte
dos “terroristas” do grupo Fish são britânicos.
São tantos temas, referências e críticas feitos por Children of Men que refleti por algum
tempo se não foi ambicioso demais – são só duas horas de filme! Contudo,
cheguei a conclusão que não: de certa forma, sem os flashes do que se tornou a
vida em sociedade – que dão curiosidade e vontade de que estes fossem melhor
desenvolvidos; ainda que tal feito seja literalmente impossível – haveria o
sentimento de estarmos diante de algo incompleto.
Children of Men
partiu, esfarelou meu coração em mil pedaços, colando-o de volta com pura
esperança. Estou ansiosa quanto a ler o livro do qual o filme foi adaptado –
afinal, todo bookaholic sabe o quão errado está o ditado que diz que uma imagem vale mais do que mil palavras.
Nota: 5/5
Ao ler a sua resenha, me deu saudades da época em que eu via filmes na estreia, não na prateleira de uma locadora...rs. Realmente é um filme muito bom, mas me senti meio deprimida no final das contas. Sem crianças,não há esperanças e tudo vira caos.Gostei muito da cena dos soldados e todo o pessoal daquele prédio, em choque, ouvindo o choro de um bebê: pra mim, foi a melhor cena do filme.
ResponderExcluirOMG, necessito assistir esse filme, até porque Clive Owen é meu ator queridinho.
ResponderExcluirAdorei a resenha. Angustiante imaginar um mundo sem crianças..
bjos
Oi Isabel..
ResponderExcluirNão conhecia este filme. Ele te marcou mesmo ein. Pelo que você citou ele trás muitas coisas juntas. Ultimamente estou vendo os filmes mais atuais. Eu vi um título que me deixou curiosa pra ver, mas não achei pra baixar legendado, mas depois procuro direito, fala sobre bullying, orientação sexual, suicídio, acho que parece legal os temas, nome (Room suicide), parece bem drama, mas me interessei em ver rs.
Beijos :D
Hey, não conhecia o filme, nem sonhava que tinha o livro, mas lendo sobre ele, com certeza quero assistir, ainda mais com Clive Owen no elenco e toda a estória que vi narrada aqui em suas palavras!
ResponderExcluirBeijos
Meu outro lado
Isabel, você sempre trazendo filmes que eu não conheço. E também não sabia que existia um livro. :O Agora eu fiquei boba mais uma vez.
ResponderExcluirGostei muito da proposta de enredo e com certeza o livro deve ser MARAVILHOSO.
Um beijo,
Luara - Estante Vertical
Oi Isabel!
ResponderExcluirEu já vi esse filme e também gostei bastante!
Não sabia que tinha livro... Se você ler não deixe de resenhar pra gente ;)
Beijos,
Sora - Meu Jardim de Livros
Hey
ResponderExcluirAdoro o Clive Owen... Rei Arthur haha
Esse filme no Br.. se chama Filhos da Esperança, né?
Tenho vontade de assistir esse filme, vive passando nos canais aqui, mas nunca assisto haha
Não sabia do livro, também!
Ótima dica, Isa.
beijos e bom final de semana
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Tenho visto o trabalho de Clive Owen neste e em outros filmes, eu acho que a sua personalidade enigmática sempre acompanhar seus personagens, como no caso da série em que o protagonista faz um papel extraordinário como o médico viciado na série The Knick é muito bom e vale a pena assistir.
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