21 julho 2012

Clube da luta (livro)

Por melhor que uma adaptação para o cinema seja, não tem jeito: livros ainda têm uma magia especial. Já assisti algumas muito boas (provavelmente a melhor delas foi Jane Eyre), mas nenhuma que superasse seu original. Há algo que se perde na passagem de uma linguagem para outra – isso descontando eventuais mancadas do diretor – algo especial que só um livro pode trazer. A falta de rédeas das nossas imaginações, talvez?

Pois bem: assisti ao filme Clube da Luta (resenha aqui) no início do ano e agora me aventurei com o livro (do maravilhoso Chuck Palahniuk, de quem já li e resenhei Sobrevivente). Como adaptação, o filme é muito bom: nenhum aspecto principal é mudado e o enredo não é “mutilado” para se tornar mais palatável – admirável, principalmente com uma obra que traz violência como carro chefe: a classificação "somente maiores de 17 anos" (16, no Brasil) assusta e diminui a bilheteria. Contudo, mesmo que tudo (com tudo leia-se a tudo) aquilo fosse brutalmente familiar, o livro me pareceu mais reflexivo, profundo, com mais significados e críticas – não sei se fui eu que mudei nesse curto período de tempo ou se a diferença existe de fato, mas foi essa a impressão que ficou.

O nosso protagonista não tem nome, e é um homem comum, que procura diariamente maneiras de se “completar”. Primeiro, foram as compras para a casa: aparentemente, redecorações são uma fonte abundante de paz de espírito. Como se aquilo não mais funcionasse – com a insônia zumbindo em seus ouvidos e olhos em cada segundo do dia – ele começou com uma prática bastante curiosa: freqüentar, sete dias por semana, grupos de apoio a pessoas com doenças fatais.

Mas como tudo que é bom dura pouco, Marla, outra “falsária”, aparece, estragando todo o efeito calmante e sonífero que ouvir histórias de pessoas a beira da morte causa em nosso personagem. Essa situação complicada, porém, se resolve, com uma solução bastante inusitada, conveniente e mágica: Tyler Durden.

Tyler é provavelmente um dos personagens mais interessantes que já li: ele entende um punhado de coisas de química (incluindo como fazer explosivos e cosméticos de banha humana), tem dois trabalhos completamente não-relacionados (fazendo tudo que há de errado neles) e é um líder brilhante – tudo que nosso protagonista, preso no seu emprego chato e vida metódica, gostaria de ser. Talvez por essa parte de ser alguém “admirável” – embora de um jeito bem não-convencional – retire de Tyler aquela aura da qual já falei (e falarei muito ainda) de singularidade forçada, daquela impressão que estou diante de um pré-adolescente que quer descobrir uma banda desconhecida não pela música, e sim pela vontade de se sentir “diferente”.

Começou com uma luta – Tyler não queria morrer sem uma cicatriz de verdade – mas aquilo era simplesmente atraente demais: é fundado então o primeiro clube da luta, que vem rapidamente a se tornar uma rede de homens frustrados e entediados tentando encontrar algo no qual investir sua energia. O clube da luta não é só uma maneira de escapar: é se sentir Deus por alguns minutos, mandar ao invés de obedecer, substituir com dor física e berros de incentivo todos os problemas – na maior parte, imbecis e completamente evitáveis – que se tem.

Quando o livro estourou (graças a sua adaptação cinematográfica) a caixa de entrada de Chuck Palahniuk foi inundada de emails de vários homens perguntando: onde eu encontro um clube da luta? Clube da Luta é um manifesto contra a noção de “macho” (de forma bastante irônica – afinal, o tema central é algo que canaliza isso), as regras e convenções sociais.

Falando em Chuck Palahniuk, sua escrita de novo me anestesiou. Não há ordem cronológica no livro – é como se ele houvesse recortado tudo, parágrafo por parágrafo, e depois montado de volta aleatoriamente – mas nenhuma ponta fica solta, nada é deixado sem resolução. A linguagem, o ritmo, tudo é perfeito, tudo se encaixa.

Não consigo, aliás, saber o que é melhor no autor: suas idéias ácidas, inusitadas e críticas, seus personagens únicos ou a supracitada forma de se escrever.  É assim que você sabe que achou um autor extremamente especial.

Nota: 5/5

17 comentários:

  1. Não sabia do filme nem do livro, já super me recomendaram o livro, mas não sabia do que se tratava, confesso. Achei bem interessante o livro, claro que vou dar prioridade a ele do que ao filme, mas quero ter a experiência dos dois.

    Beijos ><

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  2. Já assisti o filme e gostei muito! Sou louca para ler o livro, falam tão bem desse escritor. Eu também acho essa capa muito legal :D

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  3. Bel, eu não vou saber opinar muito sobre, pois não vi o filme, e nem o livro eu li. Ainda! Porém, a adaptação é minha opção mais próxima... estava até ontem mesmo procurando um download bacana. Tô muito ansiosa para conferir esse enredo, e pelo que eu tô vendo vou amar. Enfim, a única coisa que eu sei mesmo é que você arrebentou na resenha. Excelente!

    Um abraço!
    http://universoliterario.blogspot.com.br/

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  4. Eu escuto vários elogios a esse livro e também ao filme - é mais comum ouvir elogios do filme do que do livro, pois o filme é mais conhecido - mas ainda não li o livro e nem assisti ao filme, o que preciso fazer urgentemente!

    Beijos, Milena.
    Livros na Cabeça

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  5. Oie!

    Não sabia que o filme tinha sido adaptado de um livro, mesmo já tendo ouvido falar muito a respeito dele (filme). Apesar do enredo parecer bem diferente e até mesmo intrigante, não sei se eu encararia a ler o livro, assistir ao filme talvez porque, no caso, seria mais fácil de acompanhar. Vou procurar assistir ao filme da próxima vez, assim quem sabe eu até possa me interessar.

    Bjins

    www.dicasoutravessuras.blogspot.com

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  6. Oi Isabel!
    Eu não me interessei em ler esse livro muito menos em ver o filme. :(
    Não é nada que faça meu estilo, então mesmo que você tenha gostado muito, não vou ler esse livro ou ver o filme.

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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  7. Ai que vergonha, não conhecia o livro nem o filme! As cenas de luta devem ser bem fortes no filme, né? Achei bacana isso do personagem querer se "encontrar"... Mas não sei, não estou animada pra ler o livro ainda. Talvez isso mude, vai saber... =P
    Ótima resenha! Com certeza, os livros são mil vezes melhores que as adaptações cinematográficas, hahahaha

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  8. Olá.
    Eu não assisti o filme, mas também não me interesso em vê-lo ou ler o livro. Mas enfim, vai que um dia, né? Enfim, boa resenha e que bom que tenha gostado tanto assim :)

    Beijos, Vanessa.
    This Adorable Thing

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  9. Assisti ao filme muito por acaso, pois minhas primas alugaram e sempre que eu ia na casa delas eu assistia a filmes que provavelmente eu nunca veria por conta própria e até que me surpreendi, pois gostei do filme. Agora ler o livro, isso eu já não me imagino fazer, mas me conta uma coisa: é verdade que as regras do clube do livro são diferentes das do filme? Li alguns blogueiros falando sobre isso e achei estranho.

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    1. Ah, outra coisa: como assim você não tem um banner pra te linkar? hahahah
      Daqui a pouco me darei a liberdade de fazer um :p

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  10. Tive a oportunidade de ver somente o filme, mas não troco o livro pelo filme nunca!
    Pela resenha deve ser super show, participei de uma promoção com esse livro, mas não ganhei.
    Novo post lá no blog.
    Passa lá!
    manuscritodecabeceira.blogspot.com
    Bjs.

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  11. Oi Isabel!
    Nem sei o que pensar desse livro, mesmo vc tendo falado tão bem dele, acho que não o leria. Acho que pelo enredo e temática. Cosmético com banha humana,eca! O filme eu nunca vi também e não sabia que tinha o livro antes desse post.

    beijos :D

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  12. Oi, Isabel :) Desde fiquei sabendo do relançamento do livro fiquei com vontade de ler.
    O filme não assisti ainda, mas li muitas críticas positivas e lembro de comentários excelentes sobre o mesmo. Eu também admiro muito as atuações do Brad Pitt.

    Mas, em geral, eu prefiro ler o livro antes.

    Bjs ;)

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  13. Oi Isabel ^.^ Não sabia que esse livro tinha ganhado uma adaptação cinematográfica, sempre tive curiosidade por saber do que se tratava mas nunca cheguei a ler nem ao menos a sinopse, depois de ler a sua resenha fiquei animada com a leitura, parece um livro muito bem escrito em que você se envolve completamente com tudo nele! Com certeza irei lê-lo e só depois ver o filme, porque com certeza os livros são melhores do que os filmes, SEMPRE!

    Agente já postou outra resenha lá, quer ler? http://falleninme.blogspot.com/ desde já obrigada!
    - Mica

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  14. Realmente, livros tem uma magia especial. Como diz o nome de um blog "quem lê faz seu filme".
    Li a resenha e uau! Excelente. Eu não sei se leria o livro, como já conheço a história, perco a vontade de ler.

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  15. Tou loooouca pra ler Clube da Luta! Mas na biblioteca sempre tá emprestado, hauhua. Li Snuff e fiquei apaixonada pelo Chuck. Isso que dizem que Snuff não é tão bom assim, hein? Mas o livro não me deixou dormir antes de terminar a leitura! Estava morrendo de dor de cabeça, mas não conseguia ler "só mais um capítulo" sempre terminava com grandes promessas, haha.
    E quanto ao comentário no blog, acredita que eu já perguntei à Rocco o motivo dos livros serem tão caros e me responderam que NÃO SABEM? Pois é, aconteceu...

    Beijos!
    Sobre Café e Livros

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  16. Opa!
    Olha.. eu me sinto tão out quando vejo gente elogiando (muito!) o Pallaniuk.. Acho que falta na minha percepção algo mais, e talvez se eu renovar a leitura do Clube da Luta, depois de ter lido mais resenhas, me faça acordar pra outros detalhes... mas enfim, fica minha humilde e não tão cult resenha hehe Um grande abraço.. achei vc por meio do LITERATORTURA!

    http://companhiadepapel.blogspot.com.br/#!/2013/05/clube-da-luta-de-chuck-palahniuk.html

    Cami

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