Tudo começa com uma aposta: no ano novo, Lia e Cassie
começam a competir – quem será a mais magra? Lia desenvolve anorexia, Cassie,
bulimia. E não é só isso: bebedeiras e auto-mutilação são comuns na vida das
garotas que, sem saber lidar com os problemas do dia-a-dia, buscam se anestesiar
dos mesmos.
Um acidente de carro muda tudo: a doença de Lia é descoberta,
e ela é enviada por sua mãe e seu pai – ambos extremamente bem sucedidos e
exigentes – para uma clinica de tratamento. No seu retorno, nada é o mesmo:
Cassie já não mais a apóia, e todos os seus amigos se afastaram da “garota
morta”. Depois de algum tempo e mais uma temporada na clínica, Lia recebe
trinta e três ligações de Cassie em uma só noite – as quais ela obviamente não
atende – e no dia seguinte recebe a notícia.
Cassie morreu.
Lia não reconhece a gravidade de sua doença: mesmo que tenha
consciência de que pode morrer graças a ela, a morte soa melhor do que voltar a
engordar. Morando com o pai ausente, a madrasta ocupada e a meia-irmã pequena,
não se torna uma tarefa muito difícil enganar a todos quanto a seu peso e a sua
dieta – que, por ela ser anoréxica, deveriam estar sob controle diário. O ciclo
de auto-destruição da nossa protagonista é ainda mais acelerado graças a morte
de Cassie – e não é só pelo sentimento de culpa: o fantasma da sua ex-melhor
amiga a persegue.
Eu tinha grandes expectativas para Garotas de Vidro: já havia lido alguns trechos em inglês e sabia
que a maneira de escrever de Laurie Halse Anderson era fascinante. Minhas
expectativas, porém, foram superadas: a intensidade da escrita da autora é parecidíssima
com a de Estilhaça-me, de Tahereh
Mafi, descrevendo o turbilhão de emoções de Lia de maneira que o leitor consiga
se por no lugar da personagem, sofrer com ela e compartilhar um pouquinho de
sua felicidade – mesmo que seja algo estúpido e destrutivo como comer só 500
calorias por dia. A linguagem é rica, assim como suas metáforas e comparações –
tudo isso para mostrar um mundo que, aos olhos da narradora, não tem muitos
atrativos.
O tema também torna o livro interessante: afinal, comida não é só combustível. Comida é tradição, prazer, coletividade. Assim como percebi em Maus hábitos, não é só o corpo de uma pessoa com anorexia que é prejudicado - a sua "alma" também sofre. Lia não tem muitas razões claras para ser tão "machucada" - mas e precisa?
Alguns trechos são enervantes: a teimosia de Lia quanto a
não se recuperar é terrível – embora real, já que, segundo os médicos, o que
dificulta o tratamento de pacientes com anorexia é a sua crença de não estar
doente. Em prol de perder peso, Lia machuca a todos: seus pais (que embora
ausentes, não merecem tanto), sua madrasta e Emma, sua dócil meio-irmã. Li em
algum lugar que Laurie Halse Anderson escreve, principalmente, sobre coisas que
a indignam – uma lógica maravilhosa e louvável, que torna sua escrita e seu
posicionamento devastadoramente convincente.
Sendo Lia a narradora, a anorexia é muitas vezes colocado
como algo difícil, porém compensador. Depois de pensar sobre a leitura, porém,
percebi que é exatamente ao contrário – de uma maneira bem torta, Garotas de Vidro é um alerta.
Afinal, como a própria Lia fala, não é legal quando garotas
morrem.
Nota: 5/5
Oi Isabel!
ResponderExcluirTambém adorei o livro. Gostei d narrativa da autora, assim como as metáforas. Essa capa é linda, adoro! Se vc leu trechos em inglês, tem um livro dela Speak, que aborda um outro tema polêmico. Eu vi o filme e gostei muito(O silêncio de Melinda) então acredito que o livro deve ser muito bom. Mas acho que o livro não foi traduzido aqui no BR.
Ah eu te linkei lá no blog, na área de blogs baianos(lateral esquerda).
Beijos :D
Hey
ResponderExcluirVishe eu acho que esse livro deveria ser indicado na escola, ein
Pelo menos na literatura da sétima ou oitava série...
Minha prima leu, e disse que é meio forte mesmo.! Qualquer dia desses pego com ela :D
Ótima resenha!
beijos e uma ótima terça
NANA - OBSESSION VALLEY
Também acho que este livro deveria ser indicado nas escolas. Vou ver se o encontro. Como sempre, fiquei interessada nele.
ResponderExcluirOi Isabel!
ResponderExcluirSua resenha está perfeita!
Não sabia que a autora costuma escrever sobre coisas que a indignam, vou procurar outros livros dela para ler.
Beijos,
Sora - Meu Jardim de Livros
Eu adorei sua resenha!!!
ResponderExcluirSério, adorei mesmo!
Eu já queria esse livro pq achei a capa e o titulo lindos, mas não sabia sobre oq se tratava, eu acho o assunto anorexia/bulimia realmente muito interessante, acho q são doenças sérias e mais psicológicas do que físicas e de alguma maneira é um assunto que chama muito minha atenção (talvez seja minha vontade de estudar psicologia)
Mas voltando pra resenha, Amei o fato de ser narrado em primeira pessoa, agora quero muito mais ler esse livro!
Tem post novo lá no blog, quer ler?
http://falleninme.blogspot.com/ Desde já obrigada!
-PatyScarcella
Lia irrita com toda a teimosia dela de não se cuidar, de não querer comer, e é como você disse, não só o corpo de quem tem anorexia fica deteriorado, mas também a alma.
ResponderExcluirBeijos
Meu outro lado
Já tinha ouvido falar desse livro e li algumas resenhas, mas ele não tinha me chamado atenção, até agora. Adorei sua resenha! Na verdade, adoro grande parte das suas resenhas! Acho que finalmente achei graça nesse livro e fiquei com vontade de ler.
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