Creio que ainda mais importante do que conhecer bem as coisas que você gosta ou com as quais você concorda é conhecer o que você critica. Sem isso, a crítica perde completamente a propriedade e a autoridade, se tornando algo pouco pior do que uma fofoca.
É por isso que leio a revista Veja.
Em geral, espero abobrinhas e absurdos (e raramente me frustro nessa minha expectativa), mas algumas se superam - como esta matéria, na qual a pesquisadora
inglesa Catherine Hakim desfila suas teses excêntricas (estou sendo gentil). Uma delas, por exemplo, é que a utopia feminina moderna é ser uma dona de casa
ociosa.
Como se isso não fosse estapafúrdio o suficiente, outra coisa me
chamou ainda mais atenção: para Hakim, pessoas “bonitas” devem ser valorizadas tanto quanto (ou até mesmo mais que) pessoas inteligentes e
esforçadas. Os “feios”, portanto, devem ser excluídos dos cargos de chefia, por mais competentes que sejam - uma pequena sanção por deixar o mundo mais visualmente desagradável.
Não vou entrar nessa questão: a subjetividade da beleza é algo óbvio e tenho quase certeza que você ergueu suas sobrancelhas em uma expressão confusa no paragrafo anterior. Contudo, se
substituímos “ser bonito” por “atender determinados padrões” o sonho de
Catherine Hakim é a mais pura realidade – inclusive na
vida do protagonista do livro Bel Ami
(recentemente adaptado para o cinema, filme do qual falarei em breve), Georges
Duroy.
Depois de servir algum tempo no exército Francês, o filho de camponeses Georges Duroy de Cantaleu se
muda para a cidade, esperando lá conseguir fama e fortuna. Não estamos falando de qualquer cidade, e sim da Paris de 1885, que acaba se revelando ao nosso
personagem muito mais cruel do que o esperado: graças ao seu espírito pouco
frugal (e portanto incompatível com sua condição de empregado de escritório)
Duroy sobrevive à duras penas.
Mas eis que acontece com Georges um estranho encontro que acaba mudando seu destino de forma
irreversível: em um bar ele
se encontra com Forrestier, um antigo colega de regimento (agora jornalista,
bem de vida e casado com uma mulher de nome Madeleine) que depois de alguns drinques,
o convida para jantar em sua casa.
Duroy se assusta: afinal, ele não tem roupas para tal ocasião,
muito menos sabe como se portar nela. A insistência de seu ex-colega vence e no
jantar ele conhece Madeleine Forrestier, uma mulher extremamente inteligente e
astuta que não se deixa limitar ao papel social da mulher na época, guiando o
destino e a vontade de seu marido (portanto o seu próprio) – inclusive o convencendo a arrumar um
emprego para o belo Duroy.
Mesmo não tendo sequer concluído o ensino médio (curso que
seus pais lutaram por pagar, mas que não foi concluído por indisciplina do
filho) Georges vira então jornalista. No início lento e desajeitado, o rapaz
acaba percebendo do que era capaz e consegue, através da sedução, dinheiro e
cargos melhores, desvendando fofocas e segredos de estado, se tornando então o maior alpinista social que Paris já viu.
Fantástico, fantástico e fantástico. Não há um tema central
em Bel Ami, apenas Duroy e sua caçada
por mais e mais e mais dinheiro, status e fama. Apesar de ser o que poderíamos considerar
um clássico, a linguagem não é complicada (embora seja rica) e as situações são
tão presentes no cotidiano que é difícil não entender, ou até mesmo se
identificar. Para aqueles que torcem o nariz para livros do gênero (mas sabem
que não deviam) é uma ótima pedida.
Uma das coisas que mais gosto no Realismo é que esse
movimento literário não separa as pessoas entre vilões e mocinhos; bonzinhos e
monstros. Embora Duroy tenda na maior parte do tempo para a maldade e a
ganância, nada que ele faz é calculadamente cruel - .Não há nada tão libertador
quanto pensar que não há mal ou bem absoluto, do que ver a vida em tons de
cinza e não em preto e branco. É calmante, sim, pensar que a boca do mesmo
personagem (que poderia ser uma pessoa, e com certeza é representativo de
várias delas) cospe e beija. Talvez tenhamos a necessidade da figura do herói,
mas renunciar dela é tão real e às vezes, extremamente necessário.
Eu já vi algumas coisas sobre o filme, mas não tinha lido nada sobre o livro.
ResponderExcluirAchei a história interessante, ainda mais por que gosto de histórias que mostram personagens com sentimentos reais, que amam e sentem raiva. Não gosto muito dessa coisas de ou seja excessivamente bom, ou excessivamente mal.
Beijos
Hey Isa...
ResponderExcluirHum, me lembrou aquele filme Alfie, O Sedutor.. será que se basearam nessa história.. também?
Engraçado no filme ele pega a mulher do amigo :x
Fiquei curiosa para ler, e se passa em Paris.. adoro!
Ótima resenha, ah e parabéns pela parceria com Intrínseca.. não sei se comentei antes <3
beijos
Nana - Obsession Valley
Eu quase li este livro. Mas me deu preguiçinha, algmas histórias mesmo sendo interessante me causam isso:) O filme está aqui e não estou muito interessada em assistir...
ResponderExcluirBom fim de semana.
Esse livro não faz muito meu estilo, mas confesso que sua resenha me deixou bastante interessada em lê-lo. Além de ter uma história aparentemente interessante, gostei de saber que o livro "quebra" essa ideia de bem e mal absoluto.
ResponderExcluirBeeeijos
Isabel, sempre que leio uma resenha sua dá vontade de parar tudo que estou fazendo para ir ler o tal livro haha E não foi diferente com esse. Você escreve muito bem, viu? Quer participar do Doce Escrita não? hahahahah Achei interessante a história! Apesar de não ter ouvida falar nada sobre o filme ou o livro antes... "pessoas “bonitas” devem ser valorizadas tanto quanto (ou até mesmo mais que) pessoas inteligentes e esforçadas." realmente mudei a expressão quando livro rs Parabéns pela parceria com a Intrínseca... não tinha visto antes (: Você merece! Beijos http://doceescrita.blogspot.com.br/
ResponderExcluirEu já tinha ouvido falar do filme, mas não me chamou atenção por causa do Robert Pattison. É, puro preconceito. Porém, não sabia que era de um livro. Sua resenha me deu muita vontade de ler, principalmente porque é uma história de época. Vou tentar assistir o filme também, vai que me surpreende?
ResponderExcluirEu já tinha ouvido falar do filme, mas eu realmente não sabia que tinha o livro. D:
ResponderExcluirPra você ter gostado tanto, o livro deve ser realmente fantástico. Mas não é o tipo de leitura que eu estou procurando agora. :/
Um beijo,
Luara - Estante Vertical
Que horror essa matéria da veja, onde as mulheres não buscam a independência financeira? Se não buscam o que sou então? Nem consegui terminar de ler a matéria de tanta abobrinha que tinha lá.
ResponderExcluirE quando ao livro não é meu tipo de leitura favorita, mas estou realmente tentando ler de tudo, acho importante, então quando eu tiver uma oportunidade irei ler, pra variar e sair dos romances e sobrenaturais.
Beijos Bruna.
Sweet Shyness
Juuuura que tinha uma matéria assim? UHAuahUIA Acho que ela quer fazer das idéias dela algo generalizado, e só.
ResponderExcluirEu não conhecia a história do livro, mas já tinha ouvido algo sobre o título do filme. Não é uma das histórias que mais me atrai, mas parece ser interessante.
Beijinhos
Bel, o filme tem sido bastante comentado, mas é a primeira vez de fato que leio comentários sobre o livro. Confesso não ter tanto interesse pelo enredo (ainda), mas não desconheço o valor. Imagino, inclusive, na qualidade e nas ideias que ele transmite. Só espero que a adaptação faça jus a obra, o que eu acho que seja difícil... enfim.
ResponderExcluirUm abraço!
http://universoliterario.blogspot.com.br/
Apesar de o filme ter aparecido em todos os lugares, eu ainda não o assisti e nem senti vontade, mas lendo esse seu post super inteligente, eu realmente senti vontade. Você tem opinião formada e cultura. Adoro isso.
ResponderExcluirBeijos. Tudo Tem Refrão
triste geração...leitura e mais leitura. Clássicos são ótimos e a mente gosta. Comecem cedo para não se arrepender depois. ( Não há poder maior no mundo que o tempo..." Padre Antonio Vieira - 1608" por Ivone Andrade Camargo
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