As vantagens de ser invisível e tatuagens literárias

Sou louca para fazer uma tatuagem, e quase todas nas quais já pensei são frases de livros que, de alguma maneira, marcaram a minha vida. Por isso o Contrariwise – que reúne tatuagens literárias de várias pessoas ao redor do globo – é um dos meus sites favoritos na internet. As minhas preferidas são as do poeta e.e. cummings (sim, se escreve com letra minúscula). Alguns tatuam estrofes inteiras, mas as palavras desse poeta são fortes o suficiente para funcionarem como frases soltas.

Jack Kerouac, ícone da geração beat, também inspira muita gente.

Kurt Vonnegut é bastante popular por lá, e isso me influenciou a comprar o seu livro Slaughterhouse Five, tido como um dos maiores livros anti-guerra de todos os tempos. A frase “so it goes” (algo como “assim vai” em português) é repetida 127 vezes em todo o livro, fato que incentivou os blogueiros do Contrariwise a procurar o mesmo número de tatuagens com essas três palavrinhas. Já conseguiram 44.

Três pequenos e significativos fatos acabam atrasando meus planos: a) não tenho dezoito anos (nem permissão paterna para fazê-lo antes disso); b) tenho um medo razoavelmente grande de agulhas para vencer e c) quero ter certeza, daquelas absolutas e irredutíveis, de valer a pena escrever permanentemente alguma frase no meu corpo.

Mas As vantagens de ser invisível me deu uma nova tatuagem para pensar em fazer e um desejo tão calmo e tranqüilo de vê-la na minha pele que meu medo de agulhas foi para escanteio. Sofro enquanto faço essa resenha: sei que minhas palavras nunca descreverão o que senti enquanto lia esse livro, mas vou tentar – afinal, coisas boas devem ser compartilhadas.

Charlie é invisível. Não literalmente, mas quase: extremamente observador, o garoto prefere tecer suas observações sobre o mundo na arquibancada, sem nunca se envolver.Isso até conhecer Patrick e Sam, os amigos que qualquer um gostaria de ter: divertidos e estranhos, gentis e sinceros, os dois meio-irmãos tiram pouco a pouco Charlie do seu casulo, apresentando-o ao “mundo real”.

Não faz meu estilo resumir o enredo de um livro em basicamente cinco linhas (por isso que detesto a maioria das sinopses e trailers) mas dizer qualquer coisa a mais do que isso seria arriscar dar spoilers preciosos.

As vantagens de ser invisível é o retrato mais real da adolescência que já vi – e considerando que praticamente respiro livros que tentam sê-lo, isso é bastante coisa. A historinha do menino introspectivo que faz amigos e muda sua vida completamente com isso pode parecer clichê, clichês não seriam clichês se não acontecessem freqüentemente – e, lhes garanto, é um clichê extremamente bem elaborado e, sobretudo, bem escrito. O livro é estruturado na forma de cartas para alguém desconhecido a Charlie e ao leitor, que escreve de uma forma sem floreios ou enfeites que eu gostaria de aprender.

Li este livro em uns dois dias, e foi quase como uma dor quando terminei. Me arrependi de ter feito a leitura tão rápido: gostaria de tê-lo feito como uma degustação, lentamente, aproveitando o máximo possível o sabor de suas linhas. Sei que já falei isso umas duas vezes aqui no blog, mas As vantagens de ser invisível é provavelmente o melhor livro que já li. E isso, assim como uma tatuagem, é realmente para valer.