10 agosto 2012

Bel ami (livro)



Creio que ainda mais importante do que conhecer bem as coisas que você gosta ou com as quais você concorda é conhecer o que você critica. Sem isso, a crítica perde completamente a propriedade e a autoridade, se tornando algo pouco pior do que uma fofoca.

É por isso que leio a revista Veja.

Em geral, espero abobrinhas e absurdos (e raramente me frustro nessa minha expectativa), mas algumas se superam - como esta matéria, na qual a pesquisadora inglesa Catherine Hakim desfila suas teses excêntricas (estou sendo gentil). Uma delas, por exemplo, é que a utopia feminina moderna é ser uma dona de casa ociosa.

Como se isso não fosse estapafúrdio o suficiente, outra coisa me chamou ainda mais atenção: para Hakim, pessoas “bonitas” devem ser valorizadas tanto quanto (ou até mesmo mais que) pessoas inteligentes e esforçadas. Os “feios”, portanto, devem ser excluídos dos cargos de chefia, por mais competentes que sejam - uma pequena sanção por deixar o mundo mais visualmente desagradável.

Não vou entrar nessa questão: a subjetividade da beleza é algo óbvio e tenho quase certeza que você ergueu suas sobrancelhas em uma expressão confusa no paragrafo anterior. Contudo, se substituímos “ser bonito” por “atender determinados padrões” o sonho de Catherine Hakim é a mais pura realidade – inclusive na vida do protagonista do livro Bel Ami (recentemente adaptado para o cinema, filme do qual falarei em breve), Georges Duroy.

Depois de servir algum tempo no exército Francês, o filho de camponeses Georges Duroy de Cantaleu se muda para a cidade, esperando lá conseguir fama e fortuna. Não estamos falando de qualquer cidade, e sim da Paris de 1885, que acaba se revelando ao nosso personagem muito mais cruel do que o esperado: graças ao seu espírito pouco frugal (e portanto incompatível com sua condição de empregado de escritório) Duroy sobrevive à duras penas.

Mas eis que acontece com Georges um estranho encontro que acaba mudando seu destino de forma irreversível: em um bar ele se encontra com Forrestier, um antigo colega de regimento (agora jornalista, bem de vida e casado com uma mulher de nome Madeleine) que depois de alguns drinques,  o convida para jantar em sua casa.

Duroy se assusta: afinal, ele não tem roupas para tal ocasião, muito menos sabe como se portar nela. A insistência de seu ex-colega vence e no jantar ele conhece Madeleine Forrestier, uma mulher extremamente inteligente e astuta que não se deixa limitar ao papel social da mulher na época, guiando o destino e a vontade de seu marido (portanto o seu próprio) – inclusive o convencendo a arrumar um emprego para o belo Duroy.

Mesmo não tendo sequer concluído o ensino médio (curso que seus pais lutaram por pagar, mas que não foi concluído por indisciplina do filho) Georges vira então jornalista. No início lento e desajeitado, o rapaz acaba percebendo do que era capaz e consegue, através da sedução, dinheiro e cargos melhores, desvendando fofocas e segredos de estado, se tornando então o maior alpinista social que Paris já viu.

Fantástico, fantástico e fantástico. Não há um tema central em Bel Ami, apenas Duroy e sua caçada por mais e mais e mais dinheiro, status e fama. Apesar de ser o que poderíamos considerar um clássico, a linguagem não é complicada (embora seja rica) e as situações são tão presentes no cotidiano que é difícil não entender, ou até mesmo se identificar. Para aqueles que torcem o nariz para livros do gênero (mas sabem que não deviam) é uma ótima pedida.

Uma das coisas que mais gosto no Realismo é que esse movimento literário não separa as pessoas entre vilões e mocinhos; bonzinhos e monstros. Embora Duroy tenda na maior parte do tempo para a maldade e a ganância, nada que ele faz é calculadamente cruel - .Não há nada tão libertador quanto pensar que não há mal ou bem absoluto, do que ver a vida em tons de cinza e não em preto e branco. É calmante, sim, pensar que a boca do mesmo personagem (que poderia ser uma pessoa, e com certeza é representativo de várias delas) cospe e beija. Talvez tenhamos a necessidade da figura do herói, mas renunciar dela é tão real e às vezes, extremamente necessário.


12 comentários:

  1. Eu já vi algumas coisas sobre o filme, mas não tinha lido nada sobre o livro.
    Achei a história interessante, ainda mais por que gosto de histórias que mostram personagens com sentimentos reais, que amam e sentem raiva. Não gosto muito dessa coisas de ou seja excessivamente bom, ou excessivamente mal.

    Beijos

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  2. Hey Isa...
    Hum, me lembrou aquele filme Alfie, O Sedutor.. será que se basearam nessa história.. também?
    Engraçado no filme ele pega a mulher do amigo :x

    Fiquei curiosa para ler, e se passa em Paris.. adoro!

    Ótima resenha, ah e parabéns pela parceria com Intrínseca.. não sei se comentei antes <3

    beijos
    Nana - Obsession Valley

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  3. Eu quase li este livro. Mas me deu preguiçinha, algmas histórias mesmo sendo interessante me causam isso:) O filme está aqui e não estou muito interessada em assistir...
    Bom fim de semana.

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  4. Esse livro não faz muito meu estilo, mas confesso que sua resenha me deixou bastante interessada em lê-lo. Além de ter uma história aparentemente interessante, gostei de saber que o livro "quebra" essa ideia de bem e mal absoluto.
    Beeeijos

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  5. Isabel, sempre que leio uma resenha sua dá vontade de parar tudo que estou fazendo para ir ler o tal livro haha E não foi diferente com esse. Você escreve muito bem, viu? Quer participar do Doce Escrita não? hahahahah Achei interessante a história! Apesar de não ter ouvida falar nada sobre o filme ou o livro antes... "pessoas “bonitas” devem ser valorizadas tanto quanto (ou até mesmo mais que) pessoas inteligentes e esforçadas." realmente mudei a expressão quando livro rs Parabéns pela parceria com a Intrínseca... não tinha visto antes (: Você merece! Beijos http://doceescrita.blogspot.com.br/

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  6. Eu já tinha ouvido falar do filme, mas não me chamou atenção por causa do Robert Pattison. É, puro preconceito. Porém, não sabia que era de um livro. Sua resenha me deu muita vontade de ler, principalmente porque é uma história de época. Vou tentar assistir o filme também, vai que me surpreende?

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  7. Eu já tinha ouvido falar do filme, mas eu realmente não sabia que tinha o livro. D:
    Pra você ter gostado tanto, o livro deve ser realmente fantástico. Mas não é o tipo de leitura que eu estou procurando agora. :/

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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  8. Que horror essa matéria da veja, onde as mulheres não buscam a independência financeira? Se não buscam o que sou então? Nem consegui terminar de ler a matéria de tanta abobrinha que tinha lá.

    E quando ao livro não é meu tipo de leitura favorita, mas estou realmente tentando ler de tudo, acho importante, então quando eu tiver uma oportunidade irei ler, pra variar e sair dos romances e sobrenaturais.

    Beijos Bruna.
    Sweet Shyness

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  9. Juuuura que tinha uma matéria assim? UHAuahUIA Acho que ela quer fazer das idéias dela algo generalizado, e só.

    Eu não conhecia a história do livro, mas já tinha ouvido algo sobre o título do filme. Não é uma das histórias que mais me atrai, mas parece ser interessante.

    Beijinhos

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  10. Bel, o filme tem sido bastante comentado, mas é a primeira vez de fato que leio comentários sobre o livro. Confesso não ter tanto interesse pelo enredo (ainda), mas não desconheço o valor. Imagino, inclusive, na qualidade e nas ideias que ele transmite. Só espero que a adaptação faça jus a obra, o que eu acho que seja difícil... enfim.

    Um abraço!
    http://universoliterario.blogspot.com.br/

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  11. Apesar de o filme ter aparecido em todos os lugares, eu ainda não o assisti e nem senti vontade, mas lendo esse seu post super inteligente, eu realmente senti vontade. Você tem opinião formada e cultura. Adoro isso.

    Beijos. Tudo Tem Refrão

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  12. triste geração...leitura e mais leitura. Clássicos são ótimos e a mente gosta. Comecem cedo para não se arrepender depois. ( Não há poder maior no mundo que o tempo..." Padre Antonio Vieira - 1608" por Ivone Andrade Camargo

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