31 agosto 2012

A culpa é das estrelas


É inevitável não esperar muito de alguns livros. Seja pelo autor, por comentários ou pelo tema: às vezes fica impossível não colocar as expectativas lá em cima, e, por vezes torná-las irreais.

Queria ser capaz de não criar expectativas assim, tão altas: é garantia de uma decepção, ainda que leve. Mas é possível se decepcionar com algo muito bom (desde que se esperasse algo estelar) e esse foi o caso de A culpa é das estrelas.

Hazel tem dezesseis anos e foi diagnosticada com câncer há três. Sua vida gira em torno da doença: as funções de sua família (a mãe parou de trabalhar para cuidar dela), a sua (falta de) amigos e o fato de ir para todo canto com um cilindro de oxigênio, atraindo olhares do que acredita ser um dos piores sentimentos existentes – a pena. A morte prematura é certa para nossa jovem heroína – o capítulo final de sua vida foi escrito no momento do diagnóstico – e alguns poucos anos a mais são sua máxima esperança.

Orações melosas, testemunhos deprimentes e frases motivacionais mal-feitas se tornam parte do cotidiano de Hazel graças a um dos principais efeitos colaterais de se estar morrendo: a depressão. Não há nada que a ajude no grupo de apoio para crianças com câncer que participa uma vez por semana além de Isaac, garoto sem um olho que também parece reparar quão piegas são as falas de seu líder.

Até que Augustus Waters aparece.



Augustus perdeu uma das pernas graças ao câncer e é o melhor amigo de Isaac. Augustus gosta de videogames e está longe do arquétipo de mocinho de livro para adolescentes, mas tem um ótimo senso de humor e ama trocadilhos infames. Augustus é, enfim, o herói perfeito para um livro como esses – estando muito, mas muito longe dos clichês.

Passei um dia inteiro grudada com A culpa é das estrelas: na menor brecha, eu o abria e lia algumas linhas que fossem. Passar uma parte considerável do tempo em público lendo suscita questões, e se o livro do momento for um de “aparência YA”, mais ainda. Geralmente me embolo toda ao explicar o enredo: não gosto de resumos muito resumidos. Com esse não foi diferente, mas um pequeno estranhamento surgiu: como um livro que trata de adolescentes com câncer poderia ser bom, na verdade, maravilhoso?

Antes dessa resenha de Fernanda, eu nunca havia parado para pensar sobre isso, mas é verdade: não é incomum que autores (de muito sucesso, aliás) coloquem o câncer como mero obstáculo para um grande amor – não só o câncer, mas outras coisas igualmente sérias como abuso sexual no passado, guerra e até mesmo a morte de um dos pombinhos (as vezes, tudo isso em um mesmo livro. Ou capítulo.).

Não que eu não ache que o amor não é importante, mas reduzir algo tão devastador a um mero contratempo é de uma estupidez imensa. Esse tipo de livro é tão comum nos Estados Unidos (muitos já tem tradução para português – não vou citar nomes, mas sei que vocês são capazes de pensar em uma meia dúzia) que até um termo foi criado para eles: cancer book.

Aí que vem o maior trunfo de John Green: ele fez algo que passa quilômetros e quilômetros luz longe de um cancer book. É só um livro sobre adolescentes que por acaso tem câncer. E é isso que é fantástico.
O fato de que realizei a leitura em um dia (letivo e cheio de atividades) já revela o quão facilmente a leitura flui, então agora vamos para os defeitos: de vez em quando, a “coolness” de Augustus e Hazel é levemente forçada. Sei que falo isso em basicamente todas as resenhas, mas a criação de personagens reais (não noventa e nove por cento reais, e sim por inteiro, nos momentos bons e ruins, na dor e na alegria) é uma perfeição literária que poucos autores tem o privilégio de atingir.

Em todos os outros quesitos, John Green conseguiu. Conseguiu, e assim como fui alertada pela crítica hiperbólica na capa, quero mais.



31 comentários:

  1. Esse livro me surpreendeu mt porque eu realmente esperava que seria um cancer book.
    Amei o modo sarcástico que eles lidam com a doença. Tem uma parte do livro que realmente me tocou (fiz questão de copiar, rsrs)que é a hora que o Gus fala: "Estou em guerra contra o quê? O meu câncer. E o que é o meu câncer? Meu câncer sou eu. Os tumores são feitos de mim. Eles são feitos de mim tanto quanto meu cérebro e meu coração são feitos de mim. É uma guerra civil, Hazel Grace, a gente já sabe quem vai vencer."
    Me deu um novo olhar sobre a doença.

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  2. Oie Isabel!
    Na Bienal esse livro estava em super ênfase! Eles estavam dando marcadores, livretos e outras coisas no stand da Intrínseca, você comprando algum livro lá, ou não. E me pareceu bem interessante.
    Várias pessoas já postaram frases e eu fiquei um pouco curiosa pra ler! A capa é linda e a história também parece ser...!

    Bjs,
    Ariane;)

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  3. Fui citada na resenha! COOL! Então. Eu acho que você já sabe o que eu acho desse livro...? E, pela sua resenha, acho que você gostou de várias coisas que gostei também.
    Quanto a parte da 'coolness' ser forçada: concordo discordando ou discordo concordando - no sentido em que acredito que em alguns momentos é um pouquinho além da conta. Mas não acho que deixem de ser reais por causa disso. São como aquelas pessoas que são, sim, muito legais, mas às vezes exageram no que as torna tão cool. E elas existem (enfim. é tipo a discussão sobre as personagens da Meg Cabot - pensamos diferente).

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  4. ESTOU LOUCA PARA LER ESSE LIVRO. Está todo mundo falando dele, sem falar que acho o título e capa uma graça. Sempre que penso em livros que abordam câncer, penso em tragédia, que um dos principais vai morrer no final. Mas, pela forma que todos estão falando, parece que o livro é bem mais do que isso. Não faço ideia de como terminar, se alguém morre ou não, mas acho que vale a pena ler só para se encantar com uma história linda dessas. Queria ter comprado na bienal ):

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  5. Tbém fiquei curiosa em ler este livro. Acho que meus alunos gostarão dele!
    Parabéns, Isabel, por sempre estar lendo!!!

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  6. Sabe que eu via esse livro e nada me convidava nele, NADA, na verdade eu não tinha nem lido a sinopse, e na verdade o "nada" é só a capa mesmo e o título. Mas aí houve um surto e de repente todo mundo começou a falar que esse livro é maravilhoso, tinha como eu não ficar com vontade de ler? Aí agora eu estou louquinha, mas ainda tem alguns na frente dele. <3

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  7. Oi Isa
    as minhas expectativas estavam bem altas para ler o livro, ainda mais porque gostei bastante do livro anterior do autor que eu li, e queria sentir o mesmo com esse.
    Realmente Jonh foi além de todas elas, tanto que foi difícil demais resenhá-lo
    ótima resenha
    bjos

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  8. Adorei a resenha, me deu vontade de ler
    mesmo que não faça muito meu tipo preferido de livro e tal.
    Adoro seu blog, sempre to por aqui olhando os historicos e tal
    E ah, lá no meu blog, vc perguntou de que filme era a foto do dragão, é da segunda parte de Harry Potter e as Relíquias da Morte.
    Enfim, vou nessa...
    Beijos

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  9. Aiiin Isa, me deixou mais curiosa ainda para ler este livro!! Parabéns pela resenha, eu adoro elas, você é sempre muito sincera. Realmente esse negocio de autores Americanos investirem no Câncer Book, acaba fazendo a gente colocar certos livros na lista de espera, esperando o momento ideal para a leitura que irá nos tirar algumas lagrimas. Estava com vontade de ler 'A Culpa é das estrelas', mas comecei associa-lo com alguns livros de Nicholas Sparks, por isso achei melhor esperar o momento ideal para esta leitura. Porém agora lendo esta resenha, comecei ter uma nova visão do livro, não que a anterior fosse negativa, mais sei que encontrarei muito mais que adolescentes apaixonados e com câncer.

    xoxo
    http://amigadaleitora.blogspot.com.br/

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  10. O livro parece ser belíssimo (já vi a diagramação nas livrarias), mas nunca levei, principalmente porque a sinopse não me chamou a atenção!

    Um beijo,
    Vinícius - Livros e Rabiscos

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  11. Mas que resenha linda Isabel! Não li resenha negativa deste livro. Todo mundo ama Hazel e Augustus!:) Sem dúvida, pretendo ler este livro.

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  12. Oi Isabel!
    Não sabia que havia todo um segmento chamado "cancer book" O_o
    Bom, como eu já perdi 3 parentes para essa doença, evito ler esse tipo de coisa... Então vou ficar longe desse livro.

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  13. Bel, adorei os pontos técnicos apresentados em sua resenha. Ainda sustento as minhas expectativas sob este livro, mas graças a você irei trabalhar essa ansiedade toda... às vezes isso poderá ocasionar em decepções que eu (sinceramente) não quero passar. Amei a resenha.

    Um abraço!
    http://universoliterario.blogspot.com

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  14. Ah, Jesus, também quero mais de Hazel e Gus!
    Eu também achei que a leitura de John Green flui muito facilmente - acho que todos que leram esse livro pensam a mesma coisa - porque eu, assim como você, não consegui desgrudar do livro até terminá-lo. E sim, num dia cheio de outras coisas a se fazer.
    Sempre que alguém me pede porque eu gosto tanto desse livro, eu não sei explicar. Esse é um daqueles livros que você precisa LER pra entender. É só uma história de câncer, mas cara. É A história. E não dá pra explicar isso! Só lendo.
    Como sempre, a sua resenha está invejável, haha! Senti pena da minha xD
    Beijos e parabéns.

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  15. Que bom que não se decepcionou com esse livro, eu me emocionei, A culpa é das estrelas foi o livro que me fez amar de cara a narrativa e a criatividade de John Green em um livro :3 Não sabia da onda de cancer books no EUA, mas A culpa é das estrelas não é mesmo um livro assim, à la Nicholas Sparks pelo que li sobre os livros dele. rs

    Beijos ><
    Meu outro lado

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  16. Realmente não há como não criar expectativas para alguns livros, e esse é realmente um dos que se encaixam nesse quadro. Tenho até medo de lê-lo e não ser aquilo que estava esperando, talvez até por isso esteja deixando essa curiosidade louca passar um pouco.
    Mas que bom que John conseguiu passar esse nível crítico de um "cancer book", acho que isso mostra como o autor consegue ou não ir além de suas próprias histórias.

    Beijos

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  17. Eu preciso ler A Culpa é das Estrelas, são muitos os elogios.
    Minha expectativa para ele é enorme e sei que isso é perigoso, muita expectativa pode ter grande decepção.
    Também tenho vontade de ler outro do livro do autor, que infelizmente, não estou conseguido achar disponivel.

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  18. Só pra variar um pouco adorei sua resenha, de verdade!
    Estou com muita vontade de ler A culpa é das estrelas, mas ao mesmo tempo estou receosa, pois "odeio" coisas muito divulgadas e elogiadas já que as chances de me decepcionar são grandes, sabe? Já encontrei o e-book e uma amiga tem o livro e inclusive já perguntou se eu queria emprestado, mas acho que vou deixar pra depois...
    Sinceramente, eu nem sabia que eles tinham o nome de "cancer book" e realmente pensei em alguns, eles me fazem chorar, mas gosto deles :/ heheeh
    Quanto a leitura rápida, com a minha amiga foi a mesma coisa, ela leu em 1 dia e olha que ela é a lerdezinha em pessoa no quesito leitura! hahahaah :p

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  19. Li várias resenhas e nenhuma me deixou com vontade de ler esse livro. Agora tudo mudou, nossa que resenha. Parabéns.

    Beijos :)

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  20. Amei o livro e adorei sua resenha....Obrigada pelo livro Bel!!! Me fez pensar em muita coisa!! :)

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  21. Gostei da sua resenha, esse livro realmente parece ser incrível e emocionante, eu tinha começado a ler ele a um tempo atrás na versão PDF, mas não tive muita paciência. Mesmo assim tentarei ler ele novamente.

    Abraços
    www.entrepaginasdelivros.com

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  22. Acho que foi o melhor livro que eu já li, de verdade. Eu não sou muito de chorar ou me emocionar com livros ou filmes, mas com esse eu realmente me emocionei muito e chorei pra caramba! Depois de o ler, considerei meu livro favorito. E mesmo que tenha o lido a dois dias atrás, já estou com vontade de ler novamente :)))

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  23. Parabéns, adorei a resenha e amei esse livro, como estava escrito na capa: eu ri, eu chorei e ainda quero mais... rs

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  24. Já li algumas resenhas sobre este livro e fiquei muito interessada, principalmente por causa do enredo do livro e pela belíssima história que ele envolve

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  25. Dizem que esse livro é muito bom, mas ainda não tive a oportunidade de ler. Sua resenha está maravilhosa, e ainda por cima nos faz querer mais ainda ler o livro!

    Beijos.

    Bia - @escrevendomundo

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  26. Eu simplesmente amei esse livro.
    Após ler algumas resenhas eu resolvi comprar e assim que chegou comecei a ler desesperada, chegou em um dia que era véspera de uma prova da pós, eu quase desisti da prova pra poder ler o livro em paz...em dois dias o livro estava lido e eu estava inconsolável porque queria que tivesse umas 30 vezes o número de páginas. Fico enchendo o saco de todo mundo pq quero que todo mundo que gosto leia!!

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  27. Pra mim, esse não é um daqueles livros que te atraem pela capa, só depois de algumas resenhas como a sua que a gente sente vontade de ler, porque são sinceras e mostram o que realmente o livro tem a te oferecer.Quero ler, mas não é uma prioridade de leitura.

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  28. Nunca tinha ouvido falar neste termo cancer book mas realmente pela descrição do termo consigo pensar em alguns do gênero. Acho que explorar assuntos delicados como a morte e doenças sempre leva a um drama emocional mas como já foi dito na resenha já existe algo assim e polo visto esse livro é uma revolução nesse sentido. Espero poder conferi-lo em breve.

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  29. Eu confesso que quando li, não cheguei a chorar um "rio de lágrimas" como as pessoas andavam falando por aí mas sim, escorreram algumas lagriminhas pois toda a situação de Hazel, Isaac e Augustus é antes de mais nada, muito sofrível. Como a Karoline aqui em cima citou, eu também desconhecia o termo "cancer book" e justamente por isso fui ler A culpa é das Estrelas sem qualquer tipo de conceito prévio, o que acho que foi bom. E como você falou em sua resenha, eles simplesmente são jovens com câncer e a gente sente isso com o passar das folhas, a gente sabe que é eminente, que por mais que gostemos da Hazel o fim dela é certo pois nas primeiras páginas ficamos ciente de que o estado dela é terminal mas o Green vem e nos surpreende com um baque que foi quase como cortar nossas pernas fora, do nada. "Eu acendi como uma árvore de natal." Isso mexeu comigo, teve um impacto enorme em mim, tão grande quanto o da Hazel no instante em que ouviu essas palavras. O admirável nisso tudo é que por mais que se trate de adolescentes o câncer não foi em nenhum momento, romantizado. Era o "vilão" e nossa heroína simplesmente não podia com ele. Está em minha prateleira, nunca iriei emprestar e foi uma das melhores leituras que fiz esse ano.
    ps: E não sei vocês, mas eu adoraria ler uma aflição imperial. ;)

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  30. Nunca tinha lido uma resenha como a sua, o seu ponto de vista, é bem interessante e me fez pensar, fiquei ainda mais curiosa quanto a esses dois personagens e seus cancers..
    Sei que vai ser uma história triste, amor.. Mais eu quero muito ler!!

    beijos
    http://dailyofbooks.blogspot.com.br/

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  31. Pra mim o câncer não deve sobressair numa história, porque ficaria muito chato, mas abordando como tu disses por acaso, é algo que o autor conseguiu conquistar o leitor. Pelo visto a narrativa dele que deve ser boa. Não a história em si. Essa é minha opinião. Beijos.

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