05 janeiro 2015

Expresso do amanhã (filme)


Eu sempre me pergunto por que me entretenho tanto com obras pós-apocalípticas.

Quando falamos de distopias puras e simples, a resposta é óbvia: as mesmas são alegorias poderosas para críticas de problemas atuais. Mas quando falamos de um filme ou livro no qual toda a humanidade é destruída, por que isso é tão atraente?

Segundo o filme Jogos do apocalipse, um evento de destruição mundial varre, para os sobreviventes, todo o universo e cultura no qual seus planos se basearam. O diploma, o emprego e o acesso ao wi-fi não possuem mais nenhuma importância, visto que o sistema no qual sua essencialidade foi determinada não mais existe. Como esse crítico muito bem apontou, a morte de um só ser humano é um desastre, de toda a humanidade é entretenimento. Afinal, como não se atrair com um universo cheio de possibilidades?

Em o Expresso do amanhã, esse mundo de possibilidades se desmembrou de forma bastante criativa. Como forma de conter o aquecimento global, cientistas lançaram na atmosfera um agente químico que deveria estabilizar a temperatura terrestre. Seu efeito, contudo, foi contrário: o congelamento completo do planeta, levando a extinção de quase toda a vida.



Quase por que um riquissimo e astuto engenheiro, Wilford, projetou uma locomotiva, o Snowpiercer, que além de manter seus passageiros abrigados, seguros e alimentados, nunca para. Isso mesmo: o homem, graças a seu dinheiro e talento, conseguiu construir trilhos de trem que percorriam todo o planeta devastado, e o Snowpiercer é, além de tudo, autossuficiente graças a chamada máquina eterna, que o mantém.

Mesmo com todo conforto disponível a bordo, surge no trem desde a sua partida um sistema de classes: passageiros da primeira com tudo que há de melhor, da segunda com conforto o suficiente e alguns pequenos luxos, e os do fundo empilhados e maltrapilhos, sem água para banho, luz do dia e nada para comer além de uma barra proteíca gelatinosa e de aparência nojenta.



Todas as revoltas dos passageiros do fundo até a data – o filme se inicia quando o Snowpiercer já está rodando por aí há quase dezoito anos – deram errado, mas Curtis (um irreconhecível Chris Evans – quase não se pode dizer que ele e o cara de Capitão América são a mesma pessoa) diz possuir a solução: tomar o carro da frente, onde viaja Wilford.



É difícil dizer o que faz Expresso do amanhã fantástico sem entregar muita coisa do seu enredo. O filme é o melhor que o cinema comercial pode oferecer: ao mesmo tempo que entretêm públicos de gostos diversos com cenas de ação bem orquestradas – afinal, tudo ocorre dentro do claustrofóbico espaço dos vagões do trem – oferece também imagens de referências poderosas e doses cavalares de reflexão.

Cada compartimento do trem traz um mundo contido em si próprio: depois da primeira parte passada inteiramente no compartimento do fundo, um mar apertado de sujeira onde os passageiros planejam sua revolta, passamos por aquários, clubes noturnos e grupos de senhoras tricotando enquanto nossos protagonistas avançam em direção ao seu objetivo final. Alguns desses cenários – como um compartimento cheio de ninjas e outro com uma escola infantil – são cheias de pitadas inteiramente surreais, como uma pintura de Dalí inserida ali, no literal fim do mundo.

Por que eu gosto tanto de obras pós apocalípticas? A questão ainda permanece parcialmente sem resposta. Agora, só digo que aprecio as suas possibilidades – como, por exemplo, o trem sem paradas de Expresso do amanhã.

Essa animação mostra os desastres que levaram ao universo do filme e o embarque no Snowpiercer (legendada em inglês): 

8 comentários:

  1. Eu também não sei por que, mas adoro obras pós apocalípticas também, mas geralmente quando não envolvem zumbis ;x rsrs
    Gostei do enredo do filme, não conhecia, mas se tiver um tempo, procurarei assistir.

    Beijos

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    1. Também não sou fã de zumbis hihi Tô assistindo uma série que tem eles agora e viro a cara toda hora que eles começam a comer o cérebro de um...

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  2. Isabel!!! eu achei incrível esse filme só por ler sua postagem. eu me interesso também por pós apocalíticos, e esse ai, caracas, parece ser realmente demais!


    gabryel fellipe - quimeras mirabolantes

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  3. Olá Isabel, fiquei ainda mais afim de assistir esse filme, ele tem tudo para me conquistar *-*

    Beijos, Paradoxo Perfeito

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    1. Veja mesmo, é muuito bom! Dá tanto para "se entreter" quanto pra tirar umas reflexões legais...

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