Feita de fumaça e osso + sorteio!

Tive dois motivos especiais (e extremamente pessoais) para passar Feita de fumaça e osso na frente das minhas listas de leituras e de resenhas. Os dois deles foram relacionados a protagonista Karou, porque ela:

a) tem cabelo azul e

b) mora em Praga.

O primeiro é bestinha, mas fez com que eu me identificasse já que tive cabelo azul, acho lindo e provavelmente voltarei a ter em breve. O segundo justifica-se não só porque Praga é uma cidade de sonho, mas também porque é a capital da República Tcheca (oooh), país que escolhi para fazer meu intercâmbio – um ano letivo de ensino médio, iniciando-se em agosto do ano que vem. Como uma típica pré-intercambista, anseio bastante pelo dia de deixar o ninho e por enquanto vou me resumindo a procurar o máximo possível sobre o país que chamarei de casa por dez meses.

Mas nem o cabelo azul nem estudar arte em Praga são a coisas mais peculiares sobre Karou: a garota foi criada por quatro Quimeras, donas de uma loja de desejos cuja moeda franca são dentes de animais e humanos.

Karou quer saber mais sobre os desejos, as quimeras e sua própria origem, mas Bramstone, chefe da loja e forjador dos desejos não lhe revela sequer uma vírgula. A curiosidade só aumenta quando algo estranho começa a acontecer: Karou realiza desde que tinha idade suficiente algumas tarefas ao redor do globo, buscando dentes com negociantes que não podem por uma razão ou outra ir na loja. Suas tarefas só aumentam, mas o estoque de dentes continua baixíssimo – o mais baixo que a garota se lembra. O que está acontecendo com os dentes? E para que eles servem, afinal?

Uma coisa que detesto em alguns filmes e livros é o jeito com que as regras do universo paralelo ou os elementos fantásticos são introduzidos: mesmo escritores habilidosos falham miseravelmente em colocá-los de forma natural. Por isso o trope (personalidade constante em filmes, livros, séries etc) do newbie é tão freqüente – é mais fácil introduzir um universo fantástico quando um personagem está fazendo o mesmo.

Foi isso que mais amei em Feita de fumaça e osso. A originalíssima mitologia do livro é colocada de forma tão natural e fluida para nós quanto é para Karou. As descrições de Praga ficam somente um pouco atrás: já li um pouco sobre a cidade, mas os parágrafos em que Laini Taylor fala dela são melhores do que os de qualquer guia de viagens.

No auto-biográfico Comer, rezar, amar, Elizabeth Gilbert relata o quão pasma uma amiga psicóloga ficou ao atender refugiadas cambojanas, que haviam cruzado o oceano em barcos fugindo da chacina que ocorria em seu país. Preparada para traumas e relatos terríveis da guerra, a profissional em questão foi bombardeada com problemas banais casos amorosos falidos, amigas fofoqueiras e filhos rebeldes.

Onde quero chegar com isso tudo é que, querendo ou não, alguns sentimentos (ou todos eles, mas com uma percepção diferente) aparentam ser universais. E amo quando um autor percebe isso e faz seu personagem assim: ainda que Karou viaje para quatro países diferentes em um dia, com dentes de elefantes trocados por desejos de conhecimento na mala, ela é real. Sim, suas tarefas e mistérios são boa parte de sua vida – mas as brigas com a família quimera, almoços com a melhor amiga Zuzana e o coração partido por Kas também.

A escrita da autora é maravilhosa em todos os pontos, exceto nos diálogos. Não sei se inspirada por cenas de ação hollywodianas, os diálogos do livro durante cenas de luta foram tão artificiais como os dos supracitados filmes. Esse foi o único ponto que faltou para que o livro ficasse “redondo”, A+.

A Ed.Intrínseca gentilmente cedeu um exemplar do livro para sorteio (o primeiro sorteio do blog mas vou fingir que sou madura e nem estou soltando fogos de artifício com isso). Para participar, é só seguir as instruções do aplicativo abaixo. A promoção termina no dia 13/10, e o(a) ganhador(a) terá dois dias para responder o email. O envio do livro será realizado pela própria editora.

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