O herói perdido

Algo comum a todo aspirante a [insira coisa aqui]:

demorar para perceber que você só aprende a fazer fazendo.

perceber que a prática, jovem Padawan, não leva a perfeição, mas te deixa mais longe da completa inabilidade.

Enfim, me toquei há pouquíssimo tempo que o próximo bestseller não ia somente se materializar em um arquivo Word de duzentas páginas com espaço duplo em Times New Roman 12 – mas isso é outra história. O ponto principal (do qual, como sempre, me distraio) é que a escrita, como qualquer outra coisa, evolui com o tempo caso você continue praticando.

Percebi isso como nunca lendo O herói perdido. Rick Riordan, seu autor, também é o papai de Percy Jackson e os olimpianos, série literária de sucesso tão grande que com certeza foi fator motivador para essa nova empreitada.

Como todo bom escritor de literatura de entretenimento, Rick tem uma linguagem bastante simples e acessível, além de um jeito bem interessante de distribuir os acontecimentos. Isso percebi desde Percy Jackson, mas a fluidez do texto (que já era boa) melhorou. Não gosto muito da maneira com que ele faz capítulos – terminar em uma parte bombástica, estilo Goosebumps, é quase sempre possível e nunca feito – mas bom, a perfeição é muito para se pedir, certo?

Embora algumas caras conhecidas apareçam em O herói perdido, os protagonistas são outros: Jason, Piper e Leo. Os três são alunos da Escola da Vida Selvagem (que trocando em miúdos, é nada mais que um reformatório) e estão indo para uma excursão no Grand Canyon. Já nas primeiras páginas, aparece o primeiro problema: embora Piper e Leo afirmem que sejam, respectivamente, namorada e melhor amigo, Jason não lembra de nada de sua vida pregressa nem como foi parar ali. Ele nem sabe quem é.

Os três são semideuses, e, aos quinze anos, já passaram bastante da idade de serem reclamados por seus respectivos pais divinos – coisa possível graças ao pacto dos deuses gregos com Percy Jackson no verão anterior. Abismada com o fato de seus novos companheiros terem sobrevivido aos monstros (que se atraem pelo cheiro de semideus) Annabeth os leva até o Acampamento Meio-Sangue, local onde serão treinados e protegidos.

Mas é óbvio que a amnésia de Jason não é algo normal, e mais coisas estranhas vão aparecendo sobre o garoto – ele tem uma estranha mania de se referir aos deuses por seus nomes romanos e fala latim. A resposta está em Hera: a poderosa e invejosa deusa roubou as memórias de Jason – e só as devolverá caso ele a resgate.

Piper e Leo também enfrentam seus problemas. A primeira graças ao seu pai mortal: ele foi capturado por um terrível gigante, que só o soltará caso Piper traia seus amigos. Já Leo carrega a culpa de algo que ocorreu anos atrás, relacionado a um dom lhe concedido por seu pai olimpiano. Os dois são os personagens mais interessantes de toda a série – além de uma “história de fundo” muito boa, ambos não tem nada de heróico em suas personalidades, coisa que vai se desenvolvendo de forma muito leve e natural ao curso do livro – e, ainda assim, nenhum vira o Rambo. Não gostei muito de Jason, mas em geral não simpatizo com heróis. Prefiro perdedores.

O herói perdido é literatura de entretenimento de primeira. Ainda que haja bastante informação sobre mitos gregos embutidos no livro, não espere grandes ensinamentos, moral ou inovação – como um filme de Hollywood, o único objetivo é entreter o leitor.

Isso é bom, de vez em quando, mas limita a nota máxima que atribuo – em um mundo com tantos livros bons, não posso dar A+ para algo que leio só para relaxar.