Matadouro cinco
despertou minha atenção graças ao site de tatuagens literárias Contrariwise:
não é raro encontrar lá tatuagens de pessoas que se inspiraram na que é
considerada maior obra de Kurt Vonnegut e o melhor livro anti guerra feito por
um americano.
No capítulo inicial, conta-se a história do próprio escritor,
um veterano de guerra que se vê há anos tentando escrever um livro sobre o
terrível bombardeio de Dresden (135 mil mortos) na segunda guerra mundial, o qual presenciou
por ser prisioneiro dos alemães. Ao ir a casa de um ex colega de regimento para
trocar lembranças, o autor vê a esposa de seu amigo inquieta. Eis a razão:
“Vocês eram só bebês
na guerra – como os que estão lá em cima[os filhos dela]! (...) Mas você não vai escrever assim, vai? (...) Você
vai fingir que vocês eram homens ao invés de bebês, e vocês vão ser interpretado
em filmes por Frank Sinatra e John Wayne ou um desses homens glamorosos, sujos
e amantes da guerra. E a guerra vai parecer somente maravilhosa, então nós
teremos mais um monte delas. E elas vão ser lutadas por bebês como os bebês lá
em cima.”
[Se você ler o livro e não chorar lendo esse trecho, você
não tem coração.]
O aviso da jovem senhora, real ou não, entrou bem na cabeça
de Vonnegut: Matadouro cinco faz tudo,
exceto exaltar a guerra. Billy Pilgrim, seu protagonista, é uma das figuras
mais risíveis que você já viu segurando um rifle, uma brincadeira com o perfil
real dos combatentes. Além de oftomologista e ex preso de guerra, ele é também
um viajante do tempo.
Sim, viajante do tempo. Depois de ser seqüestrado por alienígenas,
Billy adquire essa estimada habilidade. Mas não, Matadouro cinco não é ficção científica: a raça extra-terrestre que
seqüestra Billy acredita que não há morte – todos vivemos na eternidade, e a
viagem do tempo é uma forma de reviver tudo.
Eis o recurso que torna Matadouro
cinco brilhante: a viagem no tempo. É impressionantemente mais verossímil
que flashbacks (quem se lembra de todos os detalhes de algo que aconteceu há
muito tempo, mesmo que esse algo tenha sido importante?), e com isso Kurt
Vonnegut costura uma crítica aos seus compatriotas, um manifesto anti-guerra e a
história de vida do patético Billy.
Para um livro nesse
estilo, é o melhor tipo de personagem que poderia haver – mostra que os
horrores não acontecem só com os super-homens/mulheres que seguramente podem agüentar
e liderar o caminho para fora da escuridão, e sim com qualquer um.
Literalmente. É a mesma coisa que me atraiu no filme Melancolia: é impressionante a tendência de escritores e roteiristas
de só retratar os fortes e valentes, como se o fim do mundo, guerra ou
situações extremas só ocorressem com eles. Sim, quero a coragem e o altruísmo,
mas também a covardia, o egoísmo e a sorte. A arte é humana, e as três últimas características
também.
Não posso também deixar de falar de “so it goes” ou “e assim
continua”, a frase repetida 127 vezes no livro. Vonnegut narra coisas terríveis
e elas são invariavelmente seguidas dessa frase, para sinalizar o quanto nossas
catástrofes (pessoais e coletivas) são pequenas para a imensidão do universo ou
até mesmo a curta história da humanidade. Como diria Tyler Durden, você não é
um floco de neve especial.
O título alternativo para Matadouro cinco é A cruzada
das crianças, fazendo alusão ao mito de que crianças teriam lutado uma das
guerras entre católicos e mulçumanos pela terra santa graças a inspiração
divina. E, se você parar para pensar, não é que o tal título faz sentido?
A nota A + me atiçou a curiosidade: Matadouro 5 vai para a minha lista- que já está enorme- de futuras leituras.
ResponderExcluirSempre quis ler algo desse cara. É o tipo de autor que eu sei que preciso ler pelo menos um livro alguma vez na vida, então já coloquei esse livro na minha lista.
ResponderExcluirVocê comentou no blog sobre o Sob a Redoma, tô lendo devagar, então a resenha dele deve sair lá pro meio de novembro. E obrigada pela confiança. Foi o elogio mais legal que eu já recebi sobre o blog <3
Olá :)
ResponderExcluirNão conhecia o livro. Boa resenha, mas sei lá, não me interessei tanto não. Mas poxa, foi uma boa que você deu para o livro... se eu tiver uma oportunidade, talvez eu possa ler. Nunca se sabe UHSUAHSUAHSUAH
Beijos, Vanessa.
This Adorable Thing
Kurt Vonnegut tá na minha lista faz tempo, mas nada de eu conseguir lê-lo. Este é um daqueles livros que você tem de ler, e quem já o fez sempre me falou coisas boas sobre ele. Partindo da sua resenha, minha vontade só aumentou.
ResponderExcluirAmei a resenha! Eu não conhecia esse livro, mas fiquei louca pra ler ;)
ResponderExcluirBeijinhos
Ann
http://www.vinteepoucos.com.br
Oi
ResponderExcluirNão conhecia o livro e o que posso falar? Que viagem!!! Adorei a resenha, parece ser um livro muito muito bom.
E tatuagens literárias são o poder, ainda quero fazer a minha sobre Harry Potter
Beijos
Hey Isa
ResponderExcluirNossa fiquei curiosa em relação a esse livro.
Não conhecia ainda, e você ainda comparou com Melancolia, que adorei.
Super verdade a maioria espera heróis, mas também existem os covardes, sofridos.
Adorei a resenha e o blog de tatuagens haha
Nana - Obsession Valley
Oi Isabel!
ResponderExcluirAdorei a resenha. Não sou muito chegada a livros com esse tema, mas o que você escreveu no inicio já me colocou para pensar, mesmo sem ter lido o livro. É exatamente assim... a bravura é destacada, os heróis... impressionante, se pararmos para pensar.
Beijos,
Marcelle
bestherapy.blogspot.com
Oi Isabel, acho que foi por aqui que já havia visto um post sobre essa frase So it Goes. Com essa resenha maravilhosa, fiquei ainda mais curiosa para conhecer a história, parece ser tocante e humana, como você cita.
ResponderExcluirAh, mas viajante no tempo? Achei estranho isso. rsrs
Beijos
eu já tinha ouvido falar, inclusive um amigo meu tem a tattoo SO IT GOES. é meio que o Nevermore do Poe né? !! ainda não li, mas ta na lista rsrs
ResponderExcluirbjs flor
www.amodernpinup.com
eu já tinha ouvido falar, inclusive um amigo meu tem a tattoo SO IT GOES. é meio que o Nevermore do Poe né? !! ainda não li, mas ta na lista rsrs
ResponderExcluirbjs flor
www.amodernpinup.com
Bel, embora o livro tenha uma premissa interessante, de antemão eu não o leria. Pelo menos não agora... acho que há momentos certos para variados tipos de leitura. Porém, após seus comentários, passei a cogitar a ideia. Vou buscar mais... quem sabe eu não o pegue um dia e confira? Parece o tipo de livro que merece ser lido.
ResponderExcluirUm abraço!
http://universoliterario.blogspot.com/
Oie Isa
ResponderExcluirachei uma loucura mesclar a viagem no tempo, com os horrores que acontecem com a humanidade, e amei essa loucura. Sem dúvida deve ser uma leitura que prende até a última página.Já na minha lista de dsejados.
bjos
Oiii!!
ResponderExcluirImagino que ele seja tenha feito um trabalho maravilho com a escrita, pois misturar coisas tão distinhas e receber um A+ é realmente um livro para ser lido, rs.
Mas, assim como a Fran, eu não estou no momento agora para esse tipo de leitura, já anotei o nome, quem sabe um dia, se eu me deparar com ele por aí, não o compre e devore.
Beijoo!
Oi Isabel!
ResponderExcluirQue história diferente, guerra, viagem no tempo, alienígenas...
Eu gostei da ideia do livro, mas não sei se leria. Ando com a cabeça tão "quente" que não conseguiria me concentrar nesse tipo de leitura no momento :/
Beijos,
Sora - Meu Jardim de Livros
Não conhecia esse livro e adorei a história! Fiquei com muita vontade de ler. Gosto do seu blog por causa disso, me apresenta a livros que eu não fazia ideia que existiam.
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