Overdose: produções de época – parte um

Provavelmente Jane Austen é a culpada.

Começou com algumas mini-séries com enredos baseados nos livros da autora; agora sou uma completa viciada em produções de época. Meu padrão (graças as novelas da globo que embora previsíveis, tem uma ótima produção e quase sempre precisão histórica) nesses termos é bem alto, o que já me faz excluir alguns filmes (como, por exemplo, essa versão de Emma ou essa de Razão e sensibilidade). Não só por isso, na verdade: toda a ironia usada por Jane Austen se perde, tornando os filmes pouco mais do que comédias românticas (ou dramas românticos, como a versão de Orgulho e preconceito com Keira Knighley).

Mini-séries da BBC são justamente o contrário: raramente me desagradam. Talvez seja por isso que sejam parte componente de quase toda minha lista de favoritos, que, por ter ficado meio grandinha, será dividida em três terças. Espero que gostem!

1. Norte e sul (2004)

Depois de sair do clero, o Sr.Hale se vê obrigado a se mudar do bucólico sul inglês para Milton, uma cidade industrial no norte, com todos os problemas e prosperidade concentrada que a modernidade traz.

Sua filha, Margaret Hale, sente muitas saudades de sua terra natal - a sua casa no sul era seu pequeno pedaço de paraíso - mas se vê obrigada a se adaptar ao jeito com que as coisas são feitas em Milton. Sem a delicadeza e sociedade que geralmente associamos a ficção desse período, o Norte não é um choque somente para a personagem, mas também para o espectador.

           

O Sr.Thorton, que já esteve a beira da miséria e hoje é dono da maior fábrica de algodão da cidade, é o contato do Sr.Hale em Milton. Tensão e inimizade logo surgem entre ele e Margaret, que não consegue compreender a maneira dura com que Thorton trata seus empregados. Sua única amiga na nova cidade é Bessy, operária e filha de um líder sindical, Higgins, um dos personagens mais interessantes que já vi em mini séries do gênero.

Por retratar os problemas, paradoxos e dilemas da modernidade, Norte e sul não é parecido com nada que você já tenha visto. Os nativos de Milton são frios, duros e indelicados, e isso os torna fascinantes aos olhos de um espectador acostumado as boas maneiras e regrinhas do campo várias vezes já retratadas - que não são completamente dispensados, já que Margaret os representa, mas estão presentes mais a nível de contraste.

No YouTube: um dois três quatro (legendado)

2. Upstairs/downstairs (2012)

Assim como Norte e sul, Upstairs/downstairs tira um pouco o foco da aristocracia - mas só um pouco. Sir Hallam Holland e sua mulher, Lady Holland, se mudam para uma suntuosa casa em Londres após alguns anos morando nos Estados Unidos - ele é diplomata. Com a ascensão de Hitler e o crescimento do fascismo na Inglaterra (ao qual a irmã de Lady Holland, Persie, adere) é fácil que o espectador relacione as cenas ao já conhecido, tornando impossível desgrudar até terminar os três maravilhosamente produzidos episódios da primeira temporada.

A primeira obra com que entrei em contato com a vida dos criados das grandes casas foi Downton Abbey. As duas primeiras temporadas desta última são maravilhosas, mas alguns acontecimentos meio forçados (geralmente motivados pela saída de atores do elenco) fizeram com que o enredo sofresse uma queda brusca de qualidade. Upstairs/downstairs foi o meu substituto: aqui, também temos a vida dos criados em foco, com a personalidade de cada um desenvolvida de forma sublime – como só o retrato de diferentes em situações extremas pode fazer.

No YouTube: trailer (sem legendas)

3. Emma (2009)

Emma Woodhouse é tão bonita quanto mimada, e alguns estranhos quando digo que, de Jane Austen, ela é minha heroína favorita (resenha do livro aqui).

Não sei, acho que me identifico com a sua falta de senso.

Uma adaptação ao pé da letra, a mini-série de Emma é lindamente produzida, com uma ótima escolha de elenco (o que, infelizmente, faltou ao filme). Com suas manias de casamenteira, essa queridinha da sociedade consegue ser bem sucedida as vezes - as vezes. Seu novo empreendimento - tornar Harriet (pensionista de uma escola local e filha bastarda de algum comerciante) uma dama e arrumar-lhe bom casamento - é taxado como desastroso por seu bom amigo Knightley, mas as certezas de Emma são absolutas. O único item mais “tradicional” dessa parte da lista, Emma serve para todos aqueles que já tiveram algum contato com a obra de Jane Austen  e gostaram. Ou até mesmo aqueles que (eu sei que vocês existem!) a acharam chata – o ritmo imposto difere bastante da escrita em um jeito positivo.

No YouTube: trailer (sem legendas) um dois três quatro (com legendas)

Alguém aí já assistiu alguma dessas séries? E o que acharam?

OBS.: As imagens (quase todas, de qualquer forma) foram tiradas desse excelente Tumblr. Só tomem cuidado com spoilers de séries que pretendem assistir!