ESTRÉIA: The Following

Já experimentei aquela tal sensação religiosa quanto a um livro ou filme algumas vezes. Não raro uma obra nos preenche, fala por nós de maneira tão eficiente comparando-se ao “ver a face de Deus” (o tal do amor pela definição do musical Les miserables). Minhas habilidades me impedem de descrever isso de maneira realmente eficiente, mas você provavelmente sabe do que eu estou falando.

É claro que essa sensação muitas vezes ultrapassa a mera satisfação e evolução pessoal – como tudo na arte, os sentimentos fortes causados por ela são passíveis de interpretação. Segundo Edgar Allan Poe, a morte é a forma mais pura de beleza e a insanidade da arte deve ser sentida, não somente apreciada – dois postulados que juntos inspiraram o professor universitário Joe Carroll a cometer catorze mortes cruéis anos trás.

Capturar Joe Carroll foi o ápice e o fim da carreira de Ryan Hardy: as seqüelas físicas (um problema no coração) e psicológicas de lidar com esse assassino narcisista o fizeram incapaz de continuar sendo agente do FBI. Depois de anos vivendo como um zumbi, bebendo demais e remoendo os fatos da captura, Hardy tem uma segunda chance – Carroll escapou, e apenas alguém obcecado com ele conseguiria colocá-lo de volta na prisão.

A maior parte dos serial killers é extremamente carismático – combinando isso com um tipo bem particular de insanidade, não é incomum que eles ganhem groupies enquanto na prisão. Combinando esse estranho fascínio a acesso a internet (lhe dado por bom comportamento) Carroll começa a escrever sua obra prima.

Não só matar a sua única vítima que conseguiu viver, não, isso seria pouco demais. Online, Carroll angariou seguidores, serial killers adormecidos (segundo o FBI, eles existem as dezenas nos Estados Unidos) que seguindo o seu bem arquitetado plano, multiplicariam o rastro de sangue do seu mestre.

Já me enganei quanto a episódios piloto (oi, Revolution), mas The following precisaria de muitos vacilos para se tornar uma série ruim. A premissa é ao mesmo tempo comum e inovadora: existem dezenas de séries de investigação por aí, e um punhado ou dois que mexem com assassinos seriais; mas nenhuma (que eu ou o Google saibam) falando desse tipo de histeria coletiva.

Até mesmo os arquétipos comuns – o policial destruído por seu trabalho, por exemplo – foram executados de uma forma interessante, e embora Kevin Bacon (o ator que faz Ryan) tenha cara de nada, acho que era esse o objetivo mesmo. O interprete de Joe é brilhante, e não poderia ser diferente.

Geralmente tenho problemas com a maneira que obras de ficção contam acontecimentos passados, mas não posso reclamar – os flashbacks foram bem postos nesse episódio. Ponto positivo para os medrosos: ao contrário do que geralmente acontece em obras do gênero, The following não apresentou aquela quantidade imensa, dramática e desnecessária de sangue e miolos – tudo na medida certa, me fazendo ansiar o que quer que venha por aí.

Para aqueles que preferem acompanhar séries na televisão, anotem na agenda: no Brasil, The following estreará no dia 21 de fevereiro, às 22h50. Vale a pena.

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