Momento encarando a realidade: se uma mulher é estuprada em
condições diferentes do imaginário estranho-louco-na-esquina, muitos erguerão a
voz para culpá-la. As desculpas estapafúrdias vão de bebidas a roupas curtas,
revelando uma mentalidade machista medieval que faz com que centenas convivam
com algo bastante estranho– a culpa por ter sido vítima de uma violação física
e psicológica para qual a maioria fecha os olhos sem sequer sabê-lo. Faz
sentido? Não muito. {Sobre isso, recomendo muito a leitura desse texto, que é
curtinho e bastante informativo.}
Duas décadas atrás não era muito diferente – e é nessa linha
que Thelma e Louise caminha. Thelma é uma dona de casa bonita, casada desde
os dezoito anos com Darryl, um homem grosso e controlador; já Louise, uma
garçonete
migrante do Texas e de espírito independente, vive um relacionamento indefinido
com um músico. Depois de muita insistência – Thelma não sai da cidade sem o
marido desde sempre, pedindo sua permissão para qualquer coisinha como uma
criancinha faz ao pai – elas partem para uma viagem de final de semana, um
pequeno retiro entre amigas na cabana do gerente de Louise. Na bagagem todas as
roupas possíveis, equipamento de pesca e uma arma de calibre 38 – presente de
Daryl (que aparentemente crê na utilidade de uma arma para auto-defesa) para Thelma.
Ávida por diversão (ou, na verdade, qualquer coisa fora da
sua clausura) Thelma insiste em parar em um bar, onde é assediada por Harlan,
um local com histórico de abuso. Ironicamente, a arma é útil, e o agressor é
afastado e morto por Louise.
Depois de cem pessoas terem visto Thelma dançar com Harlan
no bar, ir a polícia provavelmente seria inútil – ao menos nesse mundo. Começa
aí uma road trip errante das duas fugitivas, onde um crime em legítima defesa
vira uma bola de neve.
Algumas horas antes eu abandonara o filme Profissão de risco pela metade. A razão?
Os personagens. Geralmente, personagens rasos não me fazem desistir de uma obra
em particular, só detestá-la – mas eu estava tão desconcentrada que consegui
prosseguir.
Thelma e Louise me
prendeu desde o início exatamente pela falta daquilo que me afastou de Profissão de risco. Nos primeiros minutos
se torna visível que ambas tem personalidade e história, uma construção
complexa que vai se revelando aos poucos. Thelma é inocente, com a felicidade
bobinha e cotidiana que isso traz; Louise é calejada e forte e elas não só se completam, mas também emprestam a outra suas qualidades e defeitos no desenrolar dos acontecimentos. A amizade as sustenta até o final: não é aquela coisa açucarada e hollywoodiana, e sim amor puro e simples - o que mais seria eficiente em uma corrida de duas fugitivas acusadas de assasinato?
Até mesmo
os personagens secundários são bem construídos: o marido de Thelma seria uma
caricatura do pseudo macho alfa (“mulher, cala a boca e pega minha cerveja que
o jogo vai começar”) se não soubéssemos que, infelizmente, gente assim existe
de verdade.
Feminista até a medula, Thelma
e Louise recebeu muitas críticas na época de lançamento – assim como
receberia agora em 2013 e (tristemente constato) provavelmente nos próximos
anos, talvez décadas. Não funcionou: o filme ganhou o Oscar de melhor roteiro,
premiação da qual geralmente desconfio, mas não desta vez – com ou sem
estatueta, Thelma e Louise já tem
lugar de honra na minha lista de favoritos.
Isabel: este filme é um clássico, definitivamente!
ResponderExcluirNunca ouvi falar desse filme, mas gosto de temas "feministas". Que mostram um pouco da vida da mulher opressiva e como ainda muita coisa é medieval no nosso cotidiano. Fiquei com vontade de assistir, adoro também personagens complexos.
ResponderExcluirIsabel, este é um dos melhores filmes que já assisti, e mesmo sabendo de todo o lobby que decide os ganhadores do Oscar, este foi justo. Mas sempre duvidei das consequências deste estupro, levando-as em uma maré de crimes. Será que tinha de ser assim? Pensando bem, quem acreditaria em duas mulheres que mataram um homem após um estupro? Como você disse no começo, muitos idiotas ainda culpam as mulheres por estes assédios. Enfim, é um filme obrigatório, que não envelhece.
ResponderExcluirEu nunca ouvira falar desse filme antes, mas agora fiquei curiosa para assistir. Odeio essa nossa sociedade machista.
ResponderExcluirSempre leio ótimas críticas sobre esse filme, mas ainda não havia me ligado no quanto preciso assisti-lo. E estava mesmo procurando por um título interessante pra assistir, pq depois do desgosto que tive com Wuthering Heights preciso limpar minha mente. ;D
ResponderExcluirWuthering Heights é bastante complicado, então dá para entender porque não fizeram um filme legal :(
ExcluirNunca cheguei a ver o filme inteiro, mas tá na minha lista. Conheço a história e acho a ideia do filme o máximo!
ResponderExcluirSim, é simplesmente genial quando cineastas fazem algo legal a partir de um acontecimento aparentemente simples...
ExcluirNão conhecia o filme, mas pela sua resenha, parece ser um filme bom - não é o tipo de filme que eu geralmente assisto mas curti a dica, e o enredo é muito interessante, bem... real ;3
ResponderExcluirAh, eu tambem gosto de coisas que nao ocupam espaço no HD, sou meio pilhada com isso kk
nao conhecia esse be funky, vivendo e aprendendo ;)
beeeijos!
Pâm
http://interruptedreamer.blogspot.com.br/
Já tinha ouvido falar bastante de Thelma e Louise, mas nunca tive a oportunidade de assistir e constatar que é uma obra prima - o mais perto que pude chegar foi assistir àquele clipe estranho da Gaga, Telephone. Mesmo assim, já encheu faz tempo nós mulherers abrirmos o jornal matutino na sessão policial e perceber com desgosto que um réu foi absolvido por aquela velha desculpa: "Ela me seduziu". Como se o homem em si já não fosse escravo dos próprios instintos...
ResponderExcluirBeijos!
http://labsandtags.blogspot.com.br/
não conhecia esse filme, mas fiquei com vontade de ver. gosto de coisas não não muito hollywoodianas de vez em quando.
ResponderExcluirAlguém disse acima com toda razão _ este filme é um clássico!
ResponderExcluirJá vi algumas vezes e achei sua resenha, com os gifs muito boa!
Não gosto do fim do filme, eu sempre espero mais, tenho este defeito. Mas não vou fazer spoiller aqui, rs!
Beijos
Pâmela Rodrigues
Blog: Liste & Realize
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Nunca tinha ouvido falar nesse filme, mas fiquei bastante interessada!
ResponderExcluirNum geral eu sempre fico com vontade de assistir os filmes que você comenta aqui no blog hahahah :p
Eu fico com muita raiva do fato das pessoas geralmente culparem as próprias vítimas pelo abuso. Sério, eu não consigo entender as pessoas, como elas podem pensar dessa forma? Mesmo homens terem esse pensamento é estúpido, mas uma mulher pensar assim? Vontade de quebrar a cara delas.
Gostei do layout novo, essa estante é a sua? hahaahahh Estou rindo desses livros todos tombados e tortos :p
Beijos
Já desejei feliz 2013? :D
É a minha mesmo :D Falta de espaço (e paciência) pra deixar bonitinho HDUASHDUASD
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