[ESPECIAL] Oscar 2013 – parte dois

Com os próximos três filmes, meu lado hipster não se deu bem – de novo.

Confira a primeira parte do post clicando aqui. A próxima, com os três últimos indicados e minhas apostas, sai na semana que vem.

1. Indomável sonhadora

A Banheira é uma ilha feliz e decadente, onde todo dia é feriado e as noções de consumo e organização social não existem. Sua existência está ameaçada pelo nível da água – qualquer tempestade pode afogar a pequena ilha inteira – mas seus apaixonados habitantes não ligam: eles nasceram ali e ali vão ficar.

Fan art.

A pequena Hushpuppy e seu pai Wink (um homem física e mentalmente instável) vivem na Banheira, e não a deixariam nem por todas as catástrofes ambientais do mundo. A relação dos dois é bastante incomum: às vezes eles agem como se odiassem, maltratando-se mutualmente de forma dura, às vezes como se o amor um pelo outro fosse a maior coisa existente.

Amei Indomável sonhadora, e não sei nem por quê. A visão infantil de Hushpuppy e os peculiares hábitos dos habitantes da Banheira adicionam alguns toques de fantasia no filme, que se aceitos e assimilados, se tornam uma de suas partes mais preciosas. Não há tentativa de embelezar ou glorificar os personagens da ilha, e isso lhes confere uma beleza arrebatadora e divina, do tipo que se chora convulsivamente ou se cai de joelhos se de pé. A maravilhosa atriz mirim que dá vida a Hushpuppy merecia uma estatueta para chamar de sua, independente da pequena idade. Até agora, meu preferido.

2. Argo

Em 1979, o Irã se encontrava em um estado pré-revolucionário: depois de depor o tirano Reza Pahlahvi, xá (uma espécie de rei) assassino e esbanjador, a ira do povo se volta contra os EUA, apoiador de Pahlahvi e agora seu refúgio.

Como geralmente acontece, a embaixada americana em Teerã é um dos primeiros alvos, sendo facilmente invadida e tomada – um daqueles episódios que levaram a uma certa paranóia quanto a segurança dos diplomatas hoje em dia. O número de reféns passa de 70, mas ainda há uma esperança para as equipes de relações públicas do governo: um grupo de seis funcionários da embaixada, que fugiu pela porta dos fundos, se escondendo no consulado canadense. Especialista em fugas desse tipo, é o papel do agente Tony Mendez criar um plano para tira-los do perigo. A sua ideia – a menos pior dentre várias – é algo tão mirabolante que pode funcionar: fingir ser o produtor de um filme procurando por exóticas locações no Oriente Médio. No meio de uma guerra.

Caindo no clichê do espião com a vida pessoal arruinada e pingando de nacionalismo estadunidense, Argo até poderia ser ruim, mas não é. O filme é bem feito, combinando cenas de ação com trechos de jornais da época e uma ótima atuação daqueles que encarnaram os seis funcionários da embaixada.

Quando li sobre o enredo, acreditei piamente que a sardinha seria puxada para o lado americano, colocando-os como heróis e mártires. Isso ocorreu, mas em um menor grau do que eu imaginava: ao transformar a oposição a Revolução Iraniana em dramas pessoais de sete pessoas, o efeito ideológico foi bem favorável aos americanos. Não que eu apóie o ocorrido em 1979 (talvez não pela violência, mas por ter culminado em uma ditadura religiosa) mas um povo tem o direito de destronar um tirano controlado e mantido por uma potência estrangeira, com objetivos de aculturação. Tecnicamente Argo é perfeito – mas só tecnicamente.

3. As aventuras de Pi

Um jovem escritor sai em busca de uma nova história, e graças a um senhor de idade um pouco intrometido, chega até Pi, um homem que, além de um nome curioso, tem justamente o que ele precisa.

Na sua juventude, a família de Pi decidiu se mudar da Índia, sua terra natal, para o Canadá, em busca de novas oportunidades. Donos de um zoológico, eles levaram consigo os animais em um navio cargueiro, a fim de vender na nova cidade. Os planos são frustrados: no meio da viagem, o navio em que estavam sofre um naufrágio. Depois de alguns dias, os únicos sobreviventes são Pi e um tigre de bengala, que exerce fascínio no garoto desde criança.

Cheio de imagens fantásticas da natureza, o filme mostra a tentativa do homem (aqui representado por Pi) em viver com ela em harmonia. É claro que temos uma boa dose de auto-conhecimento, induzido pela solidão de Pi – ao menos até ele fazer amizade com o tigre, sua bóia de salvação.

Sempre me surpreendo com histórias que estão dentro de histórias. No caso de As aventuras de Pi, sabemos que nosso protagonista está vivo e saudável, mas isso não me poupou de uma ótima surpresa no final. Faltou, porém, um certo aprofundamento em algumas questões que estão em meados do filme, que embora possam ser deduzidas, poderiam ter sido melhor exploradas.