[ESPECIAL] Oscar 2013 – parte um

Posso ser insuportavelmente pseudo-cult as vezes, e a seleção do Oscar é onde minha detestável síndrome de floco de neve especial mais se evidencia: não raro torço o nariz para um filme só por ter sido escolhido.

Triste, mas admitir que se tem um problema é o primeiro passo para resolve-lo. Pois bem: para quebrar tal preconceito, assisti à seleção desse ano. E tive algumas boas surpresas. Esta lista não está em nenhuma ordem específica – fui selecionando aqueles que mais me interessavam e pronto. Vamos ao que interessa:

1. Os miseráveis

Preparem os lencinhos. Ou melhor, a toalha.

Não, não estou sendo hiperlativa.

O livro de Victor Hugo, Os miseráveis, causou uma grande impressão em mim quando li sua versão adaptada na minha infância – a mesma coisa para o original, apreciado anos depois. Agora a versão musical faz o mesmo.

A história de Jean Valjean é de partir o coração: preso por roubar pão para sua irmã e sobrinha, o condenado vai para as galés, campo de trabalhos forçados que sugam a alma daqueles que lá passam. Quando finalmente é liberto, a sua inclinação moral original e um ato de bondade fazem com que ele se reerga de maneira impressionante, construindo fortuna e importância política.

Acreditando piamente na bondade que o salvou, Valjean trata a todos com respeito e justiça, ajudando-os como pode. É isso que, infelizmente, vai mudar sua vida – não uma, mais duas vezes: em um acidente, Valjean é reconhecido pelo Inspetor Javert, ex-carcereiro e obcecado por fazer valer a lei. Isso por si só já seria um problema (para construir sua fortuna, ele quebrou a sua condicional) se um pequeno e adorável peso chamado Cosette – filha de uma de suas antigas empregadas, demitida por inveja de suas colegas – não estivesse nas suas costas.

Esta é Eponine, simplesmente a melhor personagem do musical.

Os miseráveis tem defeitos. Os maiores deles residem no início: bastante picotado e um pouco confuso, não gostei da maneira escolhida para contar o passado de Valjean. A partir do aparecimento da mãe de Cosette, porém, as coisas melhoram bastante (com a lindíssima canção “I dreamed a dream”) e fica impossível segurar as lágrimas. Cosette é uma espécie de mosca morta, bastante diferente da narrada por Vitor Hugo, mas temo que minhas críticas parem aí: Os miseráveis é uma verdadeira obra de arte.

2. O lado bom da vida

Depois de quase matar o amante de sua ex-mulher Nikki, Patrick é condenado a uma estada em um hospital penitenciário – pena até branda para os ferimentos causados. Depois de alguns meses lhe é concedida liberdade, sob as condições de que permaneceria na casa de seus pais, freqüentaria um psicólogo e não chegaria a 500 metros da ex.

No mundo real, as falhas na terapia de Patrick aparecem: além dos ataques de raiva, ele ainda é obcecado por Nikki, com quem pretende voltar – de preferência sem ser preso na tentativa. Depois de falhar em usar os amigos em comum como emissários, Patrick encontra Tiffany, uma jovem recém enviuvada solitária, depressiva e aparentemente a única pessoa que não tem medo de seus ataques de raiva ou desaprova o seu mais novo objetivo de vida.

Em troca de entregar uma carta para Nikki, Patrick concorda em servir de par dela em uma competição de dança – proximidade que acarretará não só em um previsível romance, mas crescimento pessoal para ambos.

Apesar de soar clichêzinho, O lado bom da vida (aliás, que tradução de merda essa do título, hein?) não é. Tiffany e Patrick são personagens bem construídos, com razão para serem o que são, e as cenas de humor (envolvendo a família bastante supersticiosa de Patrick) acabam quebrando qualquer clima pesado que o filme tenha. Super gostoso de assistir, não creio que vá ganhar a estatueta, mas merece ser conferido.

3. A hora mais escura

Não acredito muito nessa versão americana de que eles não sabiam onde Bin Laden estava. Seja por acordo, manobra política ou algo ainda mais obscuro, não importa – só sei que isso não é uma característica da potência que deixa o Grande Irmão no chinelo.

Mas acho que não foi por isso que achei A hora mais escura chato – não, o longa é REALMENTE chato. Em caixa alta. No filme seguimos Maya, jovem agente da CIA cujo principal objetivo da carreira é capturar Bin Laden, durante os anos e anos de sua investigação.

E só. Só isso mesmo.

O assunto me interessa razoavelmente, e mesmo assim não entendi ou aprendi nada até meados do filme, um desfile interminável de nomes e fatos. As cenas de ação (esperadas em uma história que envolve ataques terroristas) são escassas, e o lado humano dos personagens é raramente mostrado – nada para o espectador médio se apegar. Considerando que dentre nossos protagonistas temos um torturador (que é colocado como herói, é bom sinalizar) e uma agente de capacidade subestimada, isto não é só um erro básico de alguém que preza por contar os fatos crus: é extrema burrice.

Entendo que uma crônica da captura e morte de Bin Laden (ou pelo menos da versão americana dela) é necessária. É um filme que precisava ser feito, mas não indicaria para não aficionados por assunto – a menos que você precise de um sonífero.