[LIVRO] A pirâmide vermelha

Quando li Percy Jackson e os dois primeiros livros da trilogia Os heróis do olimpo (resenha do primeiro aqui e do segundo aqui) adorei a forma com que Rick Riordan usou a mitologia grega. É fascinante a riqueza com que ele aplica e narra monstros, deuses e mitos, criando uma história cheia de pontos de virada e acontecimentos marcantes. Não é incomum que seus fãs procurem saber mais sobre tais lendas, em tentativas (as vezes certas) de prever o que nos aguarda nos próximos livros. Particularmente, não fui mordida pelo bichinho de “uma leitura leva a outra” – não nesse caso.

Já com A pirâmide vermelha, primeiro livro de As crônicas dos Kane, o contrário aconteceu, me fazendo correr para a Wikipedia em alguns trechos, devorando o material disponível sobre deuses do Egito Antigo, suas tradições e locais sagrados. E deixa eu te contar: isso não é exatamente bom.

Sempre falam que minha mãe tem uma “barriga democrática” – enquanto minha irmã (apesar de negar isso) é a cópia viva dela, me pareço bastante com meu pai e com minha avó paterna. Isso também aconteceu para os Kane: Carter, o mais velho, tem traços afro-americanos como seu pai, já Sadie possui uma semelhança dolorosa com sua falecida mãe.

As diferenças entre os dois não param por aí. Graças a uma briga judicial depois do acidente que matou a Sra.Kane, Carter viaja pelo mundo com seu pai, Julius (um arqueólogo especializado no Egito antigo) enquanto Sadie mora na Inglaterra com os pais de sua mãe, vendo seu pai e o irmão por dois meros dias a cada ano.

A visita é sempre agridoce: os avós de Sadie culpam a Julius pela morte da filha, e ver o pai com uma freqüência tão pequena a irrita. Rick Riordan cai um pouquinho nos clichês aqui, enfatizando quanto os irmãos gostariam de trocar de lugar – Sadie quer ver mais o pai e conhecer lugares fantásticos, Carter quer criar laços, ter amigos e freqüentar a escola.

No ano em que a história se inicia, Julius escolhe um lugar bastante estranho para passar o natal com os filhos – o British Museum, onde por seu status como pesquisador obteve permissão para ver a lendária Pedra de Roseta. Depois de uma série de estranhos acontecimentos, Carter e Sadie descobrem a ligação de sua família com a Casa da Vida, organização milenar de magos responsável por manter o equilíbrio entre os deuses e criaturas do caos.

Os magos mais poderosos nascidos em séculos, Sadie e Carter devem usar seu parco conhecimento das velhas tradições egípcias para salvar seu pai, desaparecido no incidente com a Pedra de Roseta. Seu inimigo é bastante poderoso: o deus Set, patrono da violência, desordem, traição e outras coisinhas similares.

Não sei se estou ficando velha e impaciente com esse tipo de coisa, mas as piadinhas do autor em momentos impróprios começaram a me irritar. Sei que é uma série para crianças, mas acho que Rick Riordan as subestima achando que rirão quando ele lista “queijo” como o quinto elemento.

Como é comum no autor, os jovens Kane tem entre doze e catorze anos, com atitudes esperadas dessa idade – coisa no qual ele errou a mão em Percy Jackson e os olimpianos. Algo que sobrou na série que o tornou famoso e faltou aqui, porém, foi a didática, principal razão pela qual corri a Wikipedia de vez em quando. Sei que a mitologia egípcia é menos acessível do que a grega e um pouco mais intrincada – existem diferentes histórias para os mesmos deuses, por exemplo – mas a experiência do autor adquirida entre as sagas poderia ter compensado isso.

De resto não tenho muita coisa sobre a qual reclamar. A prosa flui bem como sempre, assim como o enredo – quero saber de onde ele tira tantas viradas empolgantes. Magos egípcios no Brooklin, deuses gregos em Manhattan – agora anseio para saber qual grande mitologia Rick Riordan vai encaixar no Queens.

Algumas capas de A pirâmide vermelha ao redor do mundo: