Todas as grandes histórias que já li versam sobre um só
tema: esperança.
Seja a falta ou o excesso dela, direta ou indiretamente. É o
que mantém os personagens de pé, concretiza amores impossíveis e lhes dá
coragem. É o motor da ficção, assim como é o motor da humanidae.
The children of men
é, em parte, sobre a falta de esperança. Theo é um professor universitário de
meia idade, divorciado, sem filhos e de poucos amigos. A sua apatia quanto a
vida exala do seu diário, do qual acompanhamos algumas páginas durante a
narrativa, com uma melancolia extrema que salta aos olhos.
Isso poderia ser uma história comum se, vinte e cinco anos
antes do início da nossa história, um desastre bem peculiar não houvesse
ocorrido: o término da fertilidade humana. Sem nenhuma razão aparente, mulheres
pararam de conceber e o caos foi generalizado. Pensem comigo: o quão estranho é
um playground sem a risada de crianças? Filhos sem irmãos, escolas sem alunos?
A Inglaterra se manteve de pé nas mãos de ferro de Xan, o
Warden of England (algo como Sentinela), primo de Theo. Suas medidas poderiam
ser polêmicas se a população não estivesse tão apática: uma ilha-colônia penal
desgovernada, teste compulsório de sêmen e ovários, uso de imigrantes em regime
de servidão e o Quietus, suicídio em publico e em massa de idosos teoricamente
voluntários.
Mas não são todos que não ligam para o que o Warden faz:
Theo um dia é abordado por Julian, uma ex-aluna (os cursos para adultos são a
única razão para a existência de universidades) que pede que ele use sua
suposta influência com o Warden para mudar algumas dessas coisas. Julian é
emissária do Five Fishes, um minúsculo grupo de oposição sem organização,
dinheiro ou até mesmo ideais em comum.
Rolf, marido de Julian, está nessa por poder e inveja – ele se
considera melhor do que o Warden e quer ocupar seu lugar. Gascoine não tem
razão aparente para estar lá, e Miriam, uma ex-parteira, quer fazer justiça a
seu irmão, vítima física e psicológica das medidas polêmicas do Warden. Já
Julian e Luke, um padre, são extremamente religiosos e não concordam com a “falta
de amor” com a qual a Inglaterra está sendo gerida. Ou seja, uma mistura pouco
fadada ao sucesso. Mesmo sem querer, Theo acaba se envolvendo com os Five
Fishes – e quando um acontecimento que pode mudar o futuro de todos é posto em
suas mãos, não há como recuar.
Não sei se tenho palavras para falar desse livro. Assisti a versão para o cinema e a achei ótima, e embora continue com essa convicção, não
é lá uma boa adaptação. Compreendo porque: a primeira parte de The children of men é propositalmente
lenta, para que o leitor sinta e compartilhe o singelo horror de não ouvir um
choro de criança há vinte anos.
É comum que distopias (e alguns livros de fantasia também)
escorreguem na hora de mostrar os aspectos do mundo onde se passam, mas The children of men passa longe disso:
entrei no cotidiano de Theo em uma maneira tão despreocupada que, sem perceber,
já estava por dentro das questões políticas e sociais da Inglaterra governada
pelo Warden.
Xan é, aliás, um personagem maravilhosamente construído –
assim como todos os outros. A narração se alterna entre um narrador em terceira
pessoa e o diário de Theo, nos dando uma mistura bem feita de parcialidade
completa e imparcialidade na medida do possível. Conhecemos bem até mesmo a
ex-esposa de Theo, mesmo que sua aparição se limite a umas dez páginas, uma
prova da maravilhosa capacidade narrativa de PD James.
Você já sentiu vontade de se atirar nos pés de um autor,
agradecendo pelo milagre que é a sua obra? A vontade maravilhosa, altruísta e
arrebatadora de dar um exemplar para todas as pessoas na terra? The children of men fez com que eu me
sentisse assim – e bom, acho que isso é o suficiente.
Isabel, não conhecia o livro, mas o panorama que você ilustrou com a resenha me fez querer muito lê-lo. Gosto muito de distopias e o modo como questionam a sociedade - e, apesar de o gênero estar na moda, poucos títulos consegue, de fato, serem marcantes. Fiquei interessado, o término da reprodução certamente abalaria qualquer sociedade, e não somente pelo lógico sentimento de que não haverá futuro, mas, como você disse, do desespero que seria um mundo sem crianças.
ResponderExcluirResenha linda, como sempre. Dois abraços.
Primeiro: achei a capa belíssima! É daquelas que agarram nossa atenção. Quanto a história, ela parece realmente fantástica, muito bem construída. Não conhecia o livro. Só tem em inglês ou tem em português? Fiquei com muita vontade de lê-lo.
ResponderExcluirSó tem em inglês, que eu tenha achado :/
ExcluirUal, parece incrível. Logo no começo da resenha já joguei o nome do livro no google a procura de um e-book (infelizmente, enquanto eu não achar um trabalho vou sobreviver de e-books mesmo). Espero encontrá-lo, me encantei absurdamente com essa distopia e acho que vale a pena o colocar antes de outras leituras pendentes.
ResponderExcluirBeijos ;*
ps: Nossa, eu sou apaixonada pela série FEIOS, do Scott Westerfeld! Não sabia que você tinha começado a curtir distopias por causa dele, mas sabe a sensação de admiração que você descreveu nas últimas linha deste post? Foi o que eu experimentei com terminei a série FEIOS.
Tem no ThePirateBay!
ExcluirEnfim, Feios é muito amor mesmo. Só queria ver mais do universo que ele criou em Extras :////
Olá !!
ResponderExcluirNossa depois dessa resenha, á coloquei esse livro na minha lista de compras, já no começo adorei a temática : esperança, é uma coisa tão dificil de lidar, adorei!
abraços
Melissa
http://decoisasporai.blogspot.com.br/
Parece ser muito interessante a historia e gosto do tema esperança.
ResponderExcluirVou acrescenta o livro na minha meta desse ano.
Beijos!
Oie Isabel!
ResponderExcluirAh!!! Não é justo você fazer uma resenha de um livro que parece ser tão divino e ele não estar disponvivel em português =/
Bem como só estou esperando a minha pós terminar para voltar ao inglês, quem sabe ele não será uma das minhas primeira leituras *-*
Adorei a resenha!!!
bjus e uma ótima semana!
;***
anereis.
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Siim! Esse não é dos mais fáceis, mas também não é lá tão difícil :)
ExcluirEi Isabel, a boina é que fica "gordinha" atras sim, gordinha e caidinha -qq haha
ResponderExcluirxoxo, Thaay
http://www.chovendoalgodaodoce.com
A história me pareceu interessante! Vou ver se leio!
ResponderExcluirBeijos! =**
Oi, adorei conhecer sobre esse livro...mas eu só leio em português ou espanhol mimimi
ResponderExcluirBeijinhos
http://marlicarmenescritora.blogspot.com.br/