02 fevereiro 2013

[LIVRO] The children of men


Todas as grandes histórias que já li versam sobre um só tema: esperança.
Seja a falta ou o excesso dela, direta ou indiretamente. É o que mantém os personagens de pé, concretiza amores impossíveis e lhes dá coragem. É o motor da ficção, assim como é o motor da humanidae.

The children of men é, em parte, sobre a falta de esperança. Theo é um professor universitário de meia idade, divorciado, sem filhos e de poucos amigos. A sua apatia quanto a vida exala do seu diário, do qual acompanhamos algumas páginas durante a narrativa, com uma melancolia extrema que salta aos olhos.

Isso poderia ser uma história comum se, vinte e cinco anos antes do início da nossa história, um desastre bem peculiar não houvesse ocorrido: o término da fertilidade humana. Sem nenhuma razão aparente, mulheres pararam de conceber e o caos foi generalizado. Pensem comigo: o quão estranho é um playground sem a risada de crianças? Filhos sem irmãos, escolas sem alunos?

A Inglaterra se manteve de pé nas mãos de ferro de Xan, o Warden of England (algo como Sentinela), primo de Theo. Suas medidas poderiam ser polêmicas se a população não estivesse tão apática: uma ilha-colônia penal desgovernada, teste compulsório de sêmen e ovários, uso de imigrantes em regime de servidão e o Quietus, suicídio em publico e em massa de idosos teoricamente voluntários.

Mas não são todos que não ligam para o que o Warden faz: Theo um dia é abordado por Julian, uma ex-aluna (os cursos para adultos são a única razão para a existência de universidades) que pede que ele use sua suposta influência com o Warden para mudar algumas dessas coisas. Julian é emissária do Five Fishes, um minúsculo grupo de oposição sem organização, dinheiro ou até mesmo ideais em comum.

Rolf, marido de Julian, está nessa por poder e inveja – ele se considera melhor do que o Warden e quer ocupar seu lugar. Gascoine não tem razão aparente para estar lá, e Miriam, uma ex-parteira, quer fazer justiça a seu irmão, vítima física e psicológica das medidas polêmicas do Warden. Já Julian e Luke, um padre, são extremamente religiosos e não concordam com a “falta de amor” com a qual a Inglaterra está sendo gerida. Ou seja, uma mistura pouco fadada ao sucesso. Mesmo sem querer, Theo acaba se envolvendo com os Five Fishes – e quando um acontecimento que pode mudar o futuro de todos é posto em suas mãos, não há como recuar.

Não sei se tenho palavras para falar desse livro. Assisti a versão para o cinema e a achei ótima, e embora continue com essa convicção, não é lá uma boa adaptação. Compreendo porque: a primeira parte de The children of men é propositalmente lenta, para que o leitor sinta e compartilhe o singelo horror de não ouvir um choro de criança há vinte anos.

É comum que distopias (e alguns livros de fantasia também) escorreguem na hora de mostrar os aspectos do mundo onde se passam, mas The children of men passa longe disso: entrei no cotidiano de Theo em uma maneira tão despreocupada que, sem perceber, já estava por dentro das questões políticas e sociais da Inglaterra governada pelo Warden.

Xan é, aliás, um personagem maravilhosamente construído – assim como todos os outros. A narração se alterna entre um narrador em terceira pessoa e o diário de Theo, nos dando uma mistura bem feita de parcialidade completa e imparcialidade na medida do possível. Conhecemos bem até mesmo a ex-esposa de Theo, mesmo que sua aparição se limite a umas dez páginas, uma prova da maravilhosa capacidade narrativa de PD James.

Você já sentiu vontade de se atirar nos pés de um autor, agradecendo pelo milagre que é a sua obra? A vontade maravilhosa, altruísta e arrebatadora de dar um exemplar para todas as pessoas na terra? The children of men fez com que eu me sentisse assim – e bom, acho que isso é o suficiente.


12 comentários:

  1. Isabel, não conhecia o livro, mas o panorama que você ilustrou com a resenha me fez querer muito lê-lo. Gosto muito de distopias e o modo como questionam a sociedade - e, apesar de o gênero estar na moda, poucos títulos consegue, de fato, serem marcantes. Fiquei interessado, o término da reprodução certamente abalaria qualquer sociedade, e não somente pelo lógico sentimento de que não haverá futuro, mas, como você disse, do desespero que seria um mundo sem crianças.

    Resenha linda, como sempre. Dois abraços.

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  2. Primeiro: achei a capa belíssima! É daquelas que agarram nossa atenção. Quanto a história, ela parece realmente fantástica, muito bem construída. Não conhecia o livro. Só tem em inglês ou tem em português? Fiquei com muita vontade de lê-lo.

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  3. Ual, parece incrível. Logo no começo da resenha já joguei o nome do livro no google a procura de um e-book (infelizmente, enquanto eu não achar um trabalho vou sobreviver de e-books mesmo). Espero encontrá-lo, me encantei absurdamente com essa distopia e acho que vale a pena o colocar antes de outras leituras pendentes.

    Beijos ;*

    ps: Nossa, eu sou apaixonada pela série FEIOS, do Scott Westerfeld! Não sabia que você tinha começado a curtir distopias por causa dele, mas sabe a sensação de admiração que você descreveu nas últimas linha deste post? Foi o que eu experimentei com terminei a série FEIOS.

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    1. Tem no ThePirateBay!
      Enfim, Feios é muito amor mesmo. Só queria ver mais do universo que ele criou em Extras :////

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  4. Olá !!
    Nossa depois dessa resenha, á coloquei esse livro na minha lista de compras, já no começo adorei a temática : esperança, é uma coisa tão dificil de lidar, adorei!
    abraços
    Melissa
    http://decoisasporai.blogspot.com.br/

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  5. Parece ser muito interessante a historia e gosto do tema esperança.
    Vou acrescenta o livro na minha meta desse ano.
    Beijos!

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  6. Oie Isabel!

    Ah!!! Não é justo você fazer uma resenha de um livro que parece ser tão divino e ele não estar disponvivel em português =/

    Bem como só estou esperando a minha pós terminar para voltar ao inglês, quem sabe ele não será uma das minhas primeira leituras *-*

    Adorei a resenha!!!

    bjus e uma ótima semana!
    ;***
    anereis.
    mydearlibrary | bookreviews • music • culture
    @mydearlibrary

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    1. Siim! Esse não é dos mais fáceis, mas também não é lá tão difícil :)

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  7. Ei Isabel, a boina é que fica "gordinha" atras sim, gordinha e caidinha -qq haha

    xoxo, Thaay
    http://www.chovendoalgodaodoce.com

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  8. A história me pareceu interessante! Vou ver se leio!
    Beijos! =**

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  9. Oi, adorei conhecer sobre esse livro...mas eu só leio em português ou espanhol mimimi
    Beijinhos
    http://marlicarmenescritora.blogspot.com.br/

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