Cuidado:
a cidadezinha onde se passa A caça
pode muito bem ser confundida com o paraíso.
Porque
qual outro nome podemos dar para um local bonito, com segurança, saúde e
educação, cujo maior problema de seus habitantes parece ser qual petisco levar
para a próxima reunião de pais? Nesse cenário maravilhoso, Lucas é professor de
um jardim de infância adorado pelas crianças e bem quisto pelas colegas. Mesmo
passando por um processo complicado de divórcio – no qual sua ex-mulher limita
bastante as visitas ao filho dos dois – ele passa uma sensação de serena
felicidade, com amigos fieis e até mesmo a possibilidade de um novo
relacionamento com uma funcionária da escola.
Isto
até que Klara, uma garotinha uns oito anos, sua aluna e filha de seu
melhor amigo, se apaixona por ele – talvez por uma mistura um pouco
inconveniente de admiração e instinto protetor, já que ela ouve freqüentemente
em casa murmúrios de pena de seus pais sobre a solidão de Lucas.
Depois
de ter sua cartinha de amor devolvida (com a delicada e adequada sugestão de
que ela a desse para um amigo) Klara fica com raiva e, em um momento de
frustração, diz a diretora que Lucas teria lhe mostrado suas partes íntimas.
Inicia-se assim uma investigação, que um pouco estimulada por pais
superprotetores e ansiosos (com razão, não estou julgando negativamente), acaba
em falsas acusações por quase todos os alunos da escola.
A caça é um filme perigoso. Pode-se
imaginar que ele contesta as rígidas leis anti abuso sexual aplicadas em alguns
países. É uma discussão um pouco longa mas de forma geral, a palavra da vítima
é a prova mais importante em um caso desses, o que gera uma série de protestos tão
logo qualquer caso de abuso é tornado público. Mas ora! A denúncia de um abuso
é um momento difícil, doloroso e que para a maior parte dos que o sofrem não
ocorre, por um medo (infelizmente fundamentado) de represálias (ver: New Hit e
Steubenville, só para dar dois exemplos).
Porque,
aliás, o que me estimulou a assistir A
caça em primeiro lugar foi um artigo que, de forma absurda, questionava o uso
da palavra da vítima como prova, dando o caso do filme como exemplo. Mas não
senti que o filme dava enfoque a isso: o verdadeiro questionamento é daquela
velha máxima de que as crianças não mentem, de que seriam seres puros e
angelicais desprovidos de toda a parte ruim que é ser humano. Com uma só
conversa de dois minutos a diretora chega a conclusão de que o colega seria de
fato um abusador, e repete constantemente (assim como os pais da garotinha) a
guisa de justificativa: “crianças não mentem”. Foi necessária uma grande
habilidade dos que realizaram (incluindo o elenco) o filme para puxá-lo para esse lado, sem
desmerecer ou negar a tristeza e o problema que é a tal da cultura do estupro.
Só
isso, a priori, mas conforme Lucas vai sofrendo terríveis e violentas
represálias ao que supostamente fez, A
caça critica duramente a psicologia da turba, o nosso péssimo hábito de
participar de linchamentos sem saber qual foi o crime. E no caso de Lucas, eles
não sabem mesmo: uma simples série de inquéritos feita pela polícia mostra que
a maior parte – quiçá todos, até mesmo a de Klara – das acusações são falsas. O
que não impede que ele seja agredido, expulso de lojas e outras coisas mais,
transformando seu pedacinho de paraíso em inferno.
Alguns
filmes geram somente meia dúzia de interpretações, faladas de formas diferentes
por seus espectadores, já outros geram uma, duas, três – por cabeça. Assim como
eu e você não vemos o mesmo vermelho, não veremos A caça da mesma maneira – mas o nó na garganta e a sensação de
maravilhamento comum quando estamos diante de uma boa obra de ficção, aí sim:
estes tenho certeza que serão quase universais.
Cara, você descreveu de forma espetacular, fiquei babando aqui. hahaha
ResponderExcluirÉ sério, você tem razão, sempre veremos as coisas de modo diferente, mas sempre há coisas que de um jeito ou de outro se esbarram.
clicandolivros.blogspot.com.br
Nossa! Eu já ficava pensando em ver o filme por causa do ator, que eu adoro, mas parece um filmaço. Um filme pra fazer pensar.
ResponderExcluirBeijos,
www.carissavieira.com
Não me lembro de ter assistido nada com esse ator, mas ele é muito bom mesmo! Como eu disse, é complicado dar profundidade para um personagem desses. Com certeza vou procurar mais trabalhos dele...
ExcluirCassino Royale do 007 e ele ta fazendo a série Hannibal.
ExcluirNossa gente! Parece ser muito bom né? Fiquei com vontade de ver!
ResponderExcluirhttp://newsdayoff.blogspot.com.br/
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirIsabel,
ResponderExcluirEstava procurando o nome desse filme, provavelmente li em algum lugar e me interessei muito, só não sabia que a menina mentia, achei que no filme, ficava a dúvida até o fim, se ele havia feito ou não. Será que ficaria melhor? Acho que diminuiu minhas expectativas, contudo, ainda vou assistir.
Presunção de culpa é sempre complicado, o elo fraco é a vítima, o que pode, realmente, levar a erros como esse. Por outro lado vemos muitos casos em que a vítima não é levada a sério, como estupros acompanhados de embriaguez (da vítima).
Por aqui teve o caso de uma mãe que induziu a filha a mentir que o pai tê-la-ia molestado, a fim de vingar-se do ex-marido, mesmo comprovada inocência, ainda hoje, mais de 10 anos depois, o homem ainda vive isolado na área rural, porque ainda recebe represarias.
O problema é que tratamos o réu como culpado.
Adorei o post.
Até mais.
Agora que você falou fiquei com uma pulguinha atrás da orelha: a revelação da não culpa pode ter sido, de fato, uma decisão não tão legal. Mas de qualquer maneira, a discussão seria diferente se assim fosse...
ExcluirHmmmmmmmmmmmmmm, muito interessante.
ResponderExcluirJá li alguns comentários no Filmow sobre o filme, mas o teu post tá bem completo.
Putz, agora eu fiquei curiosa pra ver esse filme! O que acontece no final? Ele é inocentado?
ResponderExcluirAs crianças mentem sim, crianças são manipuladoras, como qualquer ser humano!
Adorei o post, beijos!
http://primasxavier.blogspot.com.br/
Já ouvi falar desse filme e estou bem curiosa para ver, parece ser um filme muito bom.
ResponderExcluirEle está lá no meu filmow, marcado como "quero ver"
Vc tem filmow? Se tiver me add lá ;)
http://filmow.com/usuario/renatinha/
Beijinhos
Renata
Escuta Essa
http://www.facebook.com/BlogEscutaEssa
@blogescutaessa
Oi!
ResponderExcluirAté então, não estava querendo assistir esse filme. Entretanto, após ler sua opinião, fiquei curioso.
Parece ser um bom filme. (:
Abraço!
"Palavras ao Vento..."
www.leandro-de-lira.com
Hey
ResponderExcluirESSE FILME É MARAVILHOSO!
Um verdadeiro soco no estômago
Engraçado que a gente xinga todos que culpam Lucas enquanto estamos assistindo.. MAS SE estivéssemos lá? Acreditaríamos nele?
No final achei incrível, que de tanto as pessoas julgarem ele.. ele fica com medo de si e duvida de si, se ele é capaz daquilo mesmo...
A última cena dele com a Klara, acho que mostrou toda essa dúvida.
Ultimamente ando preferindo o cinema europeu, me impressiona mais do que o americano kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Ah sobre o paraíso que você citou, provavelmente existe! Suécia.. Noruega.. pelo que me dizem é isso aí msm HAHAHA
Até me falaram que na Suécia é tudo tão certinho, perfeitinho que chega a ser um pé no saco kkkkkkkk
bjundas
Nana - Obsession Valley
Muito bom o filme !!! As crianças mentem sim ,mas o pior de tudo neste filme foi perceber que a direção da escola não soube lidar com a questão e envolveu uma cidade inteira que acabou prejudicando por demais Lucas..Percebe-se isso no final do filme quando acontece um disparo e Lucas acredita ter sido atingido..
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