20 abril 2013

[LIVRO] Cisne




Existem alguns livros que simplesmente não dá para definir o gênero.

Pela capa e pela idade dos protagonistas, encaixei Cisne quase que automaticamente em infanto-juvenil, mas o tamanho e complexidade da trama me fizeram duvidar dessa impressão inicial. Ficção científica, talvez?

Não sei, só sei que é MUITO bom. Nesse detestável Caps Lock mesmo, para maior expressividade.

O Cisne que dá nome ao livro é um veleiro solar onde moram os Melbourne, uma família de dez (mãe, pai, sete – !! – filhos e uma filha adotiva, acolhida há dois anos) que vive pesquisando os mares terráqueos. Essa classificação, na época em questão, é necessária: além da Terra, há Tarilian, mundo descoberto há algumas décadas e que conta com excelentes avanços científicos e um estranho desconhecimento do que seria um conflito entre nações, povos ou etnias.

E, por mais que soe impressionante, a Terra futurística do livro também não vê esse tipo de coisa há um bom tempo: a língua foi unificada, as diferenças são respeitadas e um Conselho governa o planeta de forma razoável. As rivalidades internas, porém, tiveram de ser substituídas graças nossa quase necessidade de alguém para chamar de inimigo – agora é Tarilian que é alvo de ódio coletivo (recíproco, é bom salientar) alimentado por alguns hábitos e excelente ciência dos nossos pacíficos vizinhos.

A ideia de intercâmbio por si só é algo fantástico. Compreender culturas diferentes da nossa é uma tarefa difícil, e mais difícil ainda quando não nos propormos a “mergulhar” completamente nela. Pequenos atos de paciência podem evitar guerras, mas erros facilmente condenam nações inteiras – e é isso que acontece no intercâmbio Terra-Tarilian: por atitudes infelizes de um dos cientistas hospedeiros, dois estagiários tarilianos se sentem profundamente ofendidos e lesados. A imprensa, infelizmente, não mudou muito no futuro onde se passa Cisne, e se aproveita de forma sensacionalista do ocorrido, deixando as relações entre os dois planetas ainda mais tensas. Seria o prelúdio de um conflito?

O Cisne não é parte do intercâmbio, mas aceita receber os dois tarilianos – só um estágio muito bom poderia compensá-los, e como dois cientistas respeitados, o casal Henry e Doris Melbourne estão entre os poucos que podem proporcionar isso. Mesmo sendo citada na sinopse, a chegada dos tarilianos ocorre em um ponto bastante avançado no livro. Isso não quer dizer, porém, que a primeira parte de Cisne seja arrastada: aqui, a tal complexidade de enredo de que falei lá em cima é presente.

Porque logo fica óbvio que há algo de diferente com os Melbourne, algo de especial: Henry e Doris são parte de uma Casa, “entidade secreta”, na falta de expressão melhor, presente em todos os planetas (que, no final, não se limita a Tarilian, o único conhecido pela Terra) que passa habilidades especiais a sua Linhagem. Ser um deles é uma espécie de cargo político, tornando manter a paz entre diferentes planetas não é só responsabilidade dos Melbourne como cientistas. Peggy, a filha adotiva, possui essas tais habilidades, que estão cada vez mais óbvias e ameaçam a ignorância dos filhos da família Melbourne sobre a sua origem.

Felizmente eles estão bastante preocupados para perceber: em breve receberão os resultados dos exames da Escola Avançada Champ-Bleux, a respeitada academia com um curso de dez anos de onde saíram os maiores cientistas da terra – incluindo Henry e Doris Melbourne. Seis dos sete filhos (todos entre treze e dezesseis anos) prestaram os exames, que nunca falham, levando a um índice zero de desistência e a cem por cento de sucesso – a ansiedade, obviamente, se instaura no Cisne.

Pode parecer um pouco confuso e louco, mas não é. O universo de Cisne é completamente rico, original e coerente, sendo introduzido de uma forma sutil, sem aquela desagradável impressão de que estamos lendo um livro didático.

Aliás, por alguns pontos específicos desse tal universo, Cisne tem pouquíssima ação, o que não deixa de torná-lo viciante – o mistério grita para ser resolvido, e acabei até mesmo sonhando com ele em algumas noites. A narrativa em terceira pessoa é deliciosa, bem simples, pintando de forma maravilhosa o panorama no Cisne e nos presenteando com verossímeis e maravilhosos momentos em família dos Melbourne.

Ah, os Melbourne... É o único aspecto de Cisne que me divide. Embora sejam sete filhos, não consegui me ligar de fato a nenhum deles, e me irritei levemente com o excesso de pontos bons em tais personagens. Os irmãos Melbourne são lindos, atléticos, inteligentes, conseguem fazer todas as tarefas como tripulação do navio e tocar piano ou flauta melhor do que uma aluna de música. Ah, sem falar das qualidades pessoais  – os Melbourne são gentis, engraçados e leais, conquistando amigos em cada porto. Gosto muito quando sinto que eu e os personagens poderíamos ser amigos, mas não sinto que conseguiria conviver com qualquer um deles – o muito humano sentimento da inveja tomaria conta de mim.

Eleonor Hertzog conseguiu o que poucos veteranos (e ainda menos estreantes, o que é o caso) conseguem: lidar com muitos personagens e uma trama complexa de maneira simples, tornando as 832 páginas de Cisne pouco diante da voracidade que o leitor adquire.

Prometi a mim mesma que tomaria cuidado com séries literárias por várias razões – e uma das principais é a ansiedade pela continuação. Bom, esta foi uma quebra a minha promessa, mas uma que valeu a pena: quero desesperadamente o lançamento de Linhagens, o livro dois da série mas o mundo exposto em Cisne já me dá o suficiente para “viajar” na minha própria cabeça por um bom tempo.




13 comentários:

  1. Caramba, a história parece confusa oO mas confesso que fiquei curiosa. E tem cara de ficção científica mesmo.

    Mas cá entre nós: que capa horrorosa!

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    1. Também não gostei muito da capa. Não por ser feia (na vedade eu até gostei) mas por passar uma ideia diferente do livro do que ele realmente é, sabe?

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  2. Que legal que gostou, eu li o livro e demorei bastante por ele ser bem pesadinho, mas adorei a leitura. E é sempre difícil quando prometemos que nunca mais iremos querer ler série, ou quando não vamos ficar ansiosos por sua continuação, mas realmente é quase impossível.

    CLICANDO LIVROS

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  3. Adorei! Cada nuance e detalhe! Parabéns por descrever tão bem um livro que eu adoro!

    Bjokas

    Thaís

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  4. Nossa, olhando só a capa tinha uma ideia completamente diferente desse livro. Fiquei encantada com a sua resenha, me deixou mega empolgada para ler esse livro. Gostei do fato de apresentar ideias bem diferentes e originais.
    Beijos

    www.marianaesuaestante.com

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  5. Nossaaa, estou morta com a resenha! Muito completa e bem construída, apesar do livro realmente parecer confuso. E também achava que o livro era infanto juvenil e nunca ia imaginar que é tão longo! Acho que uma capa mais elaborada melhoraria o alcance do livro. Agora quero ler desesperadamente.
    Btw, conheci o blog agr e amei o nome!

    Bjs! asquartasusamosrosa.wordpress.com

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    1. Ah, obrigada pelos elogios :D Não é tão confuso assim quandos e lê, só é bem complexo msm...

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  6. Oie Isabel =)

    Só li resenhas positivas desse livro até agora, mas jamais me passou pela cabeça que ele era o primeiro de uma série, já que assim como você ando evitando elas.

    Estou bastante curiosa para ler esse livro.

    Adorei a resenha!

    Beijos e uma ótima semana ;***
    anereis.
    mydearlibrary | bookreviews • music • culture
    @mydearlibrary

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  7. Oi
    Eu nao esperava tudo isso desse livro... justamente pela capa..
    Amei a sua resenha! Me deixou com mais expectativas ainda...
    Espero nao me decepcionar e gostar tanto quanto voce =)

    Beijos,
    Caro e seus livros.

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  8. Nossa, 800 e tantas páginas e ainda tem continuação? Isso desanima :(
    Mas, tenho que confessar que também julguei o livro pela capa e jurava que era um infanto-juvenil bobinho, pelo visto errei feio!

    Beijos

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  9. Caramba, esse livro parece fantástico! Confesso que julguei o livro pela capa (apesar de ter me lembrado muito os filmes da Ghibli), achando que era infantil também, mas achei a história simplesmente fantástica! Fiquei com muita muita vontade mesmo de ler. Apesar da complexidade, a história realmente parece rica. Adorei!

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  10. Já tinha visto várias resenhas sobre esse livro, mas essa foi a primeira vez que realmente parei para ler. Essa parece ser uma história bastante rica, cheia de detalhes e personagens, o que pode ser muito bom por um lado mas não tão interessante por outro.
    Quando você fala que não conseguiu se apegar a nenhum dos sete filhos é totalmente compreensível. São personagens demais e assim fica difícil esse apego.
    Uau, são mais de 800 páginas? Tem que ter muita história pra contar e muita habilidade pra não deixar cair no tédio.
    Estou bastante curiosa com relação a ele.

    Beijos
    Caline - Mundo de Papel

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  11. Recentemente recebi um exemplar de Cisne da autora, e com toda a correira que eu tive esses tempos - escola, retornos, simulados, ballet, inglês, e a lista segue... - foi difícil avançar na leitura. Vou tentar retomar agora. Até onde li, gostei bastante do modo como Eleonor trabalhou o enredo. Sem muito peso, mas de uma forma levinha, de fácil compreensão. Mas, assim como você, não posso deixar de me contrariar um pouco com a perfeição dos Melbourne. Existe alguma coisa que eles não podem fazer?! Até arremessar irmãs mais novas entre si eles fazem! Mas definitivamente é um livro que surpreende *-*

    Abraço!
    Clara
    labsandtags.blogspot.com

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