Existem alguns
livros que simplesmente não dá para definir o gênero.
Pela capa e pela
idade dos protagonistas, encaixei Cisne
quase que automaticamente em infanto-juvenil, mas o tamanho e complexidade da
trama me fizeram duvidar dessa impressão inicial. Ficção científica, talvez?
Não sei, só sei
que é MUITO bom. Nesse detestável Caps Lock mesmo, para maior expressividade.
O Cisne que dá nome ao livro é um veleiro
solar onde moram os Melbourne, uma família de dez (mãe, pai, sete – !! – filhos
e uma filha adotiva, acolhida há dois anos) que vive pesquisando os mares
terráqueos. Essa classificação, na época em questão, é necessária: além da
Terra, há Tarilian, mundo descoberto há algumas décadas e que conta com excelentes
avanços científicos e um estranho desconhecimento do que seria um conflito
entre nações, povos ou etnias.
E, por mais que
soe impressionante, a Terra futurística do livro também não vê esse tipo de
coisa há um bom tempo: a língua foi unificada, as diferenças são respeitadas e
um Conselho governa o planeta de forma razoável. As rivalidades internas,
porém, tiveram de ser substituídas graças nossa quase necessidade de alguém
para chamar de inimigo – agora é Tarilian que é alvo de ódio coletivo
(recíproco, é bom salientar) alimentado por alguns hábitos e excelente ciência
dos nossos pacíficos vizinhos.
A ideia de
intercâmbio por si só é algo fantástico. Compreender culturas diferentes da
nossa é uma tarefa difícil, e mais difícil ainda quando não nos propormos a
“mergulhar” completamente nela. Pequenos atos de paciência podem evitar
guerras, mas erros facilmente condenam nações inteiras – e é isso que acontece
no intercâmbio Terra-Tarilian: por atitudes infelizes de um dos cientistas
hospedeiros, dois estagiários tarilianos se sentem profundamente ofendidos e
lesados. A imprensa, infelizmente, não mudou muito no futuro onde se passa Cisne, e se aproveita de forma
sensacionalista do ocorrido, deixando as relações entre os dois planetas ainda
mais tensas. Seria o prelúdio de um conflito?
O Cisne não é parte do intercâmbio, mas
aceita receber os dois tarilianos – só um estágio muito bom poderia compensá-los,
e como dois cientistas respeitados, o casal Henry e Doris Melbourne estão entre
os poucos que podem proporcionar isso. Mesmo sendo citada na sinopse, a chegada
dos tarilianos ocorre em um ponto bastante avançado no livro. Isso não quer dizer,
porém, que a primeira parte de Cisne
seja arrastada: aqui, a tal complexidade de enredo de que falei lá em cima é
presente.
Porque logo fica
óbvio que há algo de diferente com os Melbourne, algo de especial: Henry e
Doris são parte de uma Casa, “entidade secreta”, na falta de expressão melhor,
presente em todos os planetas (que, no final, não se limita a Tarilian, o único
conhecido pela Terra) que passa habilidades especiais a sua Linhagem. Ser um deles é uma espécie de cargo político, tornando manter a paz entre diferentes planetas não é só responsabilidade dos Melbourne como cientistas. Peggy, a
filha adotiva, possui essas tais habilidades, que estão cada vez mais óbvias e
ameaçam a ignorância dos filhos da família Melbourne sobre a sua origem.
Felizmente eles
estão bastante preocupados para perceber: em breve receberão os resultados
dos exames da Escola Avançada Champ-Bleux, a respeitada academia com um curso
de dez anos de onde saíram os maiores cientistas da terra – incluindo Henry e
Doris Melbourne. Seis dos sete filhos (todos entre treze e dezesseis anos)
prestaram os exames, que nunca falham, levando a um índice zero de desistência
e a cem por cento de sucesso – a ansiedade, obviamente, se instaura no Cisne.
Pode parecer um
pouco confuso e louco, mas não é. O universo de Cisne é completamente rico, original e coerente, sendo introduzido
de uma forma sutil, sem aquela desagradável impressão de que estamos lendo um livro
didático.
Aliás, por alguns
pontos específicos desse tal universo, Cisne
tem pouquíssima ação, o que não deixa de torná-lo viciante – o mistério grita
para ser resolvido, e acabei até mesmo sonhando com ele em algumas noites. A
narrativa em terceira pessoa é deliciosa, bem simples, pintando de forma
maravilhosa o panorama no Cisne e nos presenteando com verossímeis e
maravilhosos momentos em família dos Melbourne.
Ah, os
Melbourne... É o único aspecto de Cisne
que me divide. Embora sejam sete filhos, não consegui me ligar de fato a nenhum
deles, e me irritei levemente com o excesso de pontos bons em tais personagens.
Os irmãos Melbourne são lindos, atléticos, inteligentes, conseguem fazer todas
as tarefas como tripulação do navio e tocar piano ou flauta melhor do que uma
aluna de música. Ah, sem falar das qualidades pessoais – os Melbourne são gentis, engraçados e leais,
conquistando amigos em cada porto. Gosto muito quando sinto que eu e os
personagens poderíamos ser amigos, mas não sinto que conseguiria conviver com
qualquer um deles – o muito humano sentimento da inveja tomaria conta de mim.
Eleonor Hertzog
conseguiu o que poucos veteranos (e ainda menos estreantes, o que é o caso)
conseguem: lidar com muitos personagens e uma trama complexa de maneira
simples, tornando as 832 páginas de Cisne
pouco diante da voracidade que o leitor adquire.
Prometi a mim
mesma que tomaria cuidado com séries literárias por várias razões – e uma das
principais é a ansiedade pela continuação. Bom, esta foi uma quebra a minha
promessa, mas uma que valeu a pena: quero desesperadamente o lançamento de Linhagens, o livro dois da série mas o
mundo exposto em Cisne já me dá o
suficiente para “viajar” na minha própria cabeça por um bom tempo.
Caramba, a história parece confusa oO mas confesso que fiquei curiosa. E tem cara de ficção científica mesmo.
ResponderExcluirMas cá entre nós: que capa horrorosa!
Também não gostei muito da capa. Não por ser feia (na vedade eu até gostei) mas por passar uma ideia diferente do livro do que ele realmente é, sabe?
ExcluirQue legal que gostou, eu li o livro e demorei bastante por ele ser bem pesadinho, mas adorei a leitura. E é sempre difícil quando prometemos que nunca mais iremos querer ler série, ou quando não vamos ficar ansiosos por sua continuação, mas realmente é quase impossível.
ResponderExcluirCLICANDO LIVROS
Adorei! Cada nuance e detalhe! Parabéns por descrever tão bem um livro que eu adoro!
ResponderExcluirBjokas
Thaís
Nossa, olhando só a capa tinha uma ideia completamente diferente desse livro. Fiquei encantada com a sua resenha, me deixou mega empolgada para ler esse livro. Gostei do fato de apresentar ideias bem diferentes e originais.
ResponderExcluirBeijos
www.marianaesuaestante.com
Nossaaa, estou morta com a resenha! Muito completa e bem construída, apesar do livro realmente parecer confuso. E também achava que o livro era infanto juvenil e nunca ia imaginar que é tão longo! Acho que uma capa mais elaborada melhoraria o alcance do livro. Agora quero ler desesperadamente.
ResponderExcluirBtw, conheci o blog agr e amei o nome!
Bjs! asquartasusamosrosa.wordpress.com
Ah, obrigada pelos elogios :D Não é tão confuso assim quandos e lê, só é bem complexo msm...
ExcluirOie Isabel =)
ResponderExcluirSó li resenhas positivas desse livro até agora, mas jamais me passou pela cabeça que ele era o primeiro de uma série, já que assim como você ando evitando elas.
Estou bastante curiosa para ler esse livro.
Adorei a resenha!
Beijos e uma ótima semana ;***
anereis.
mydearlibrary | bookreviews • music • culture
@mydearlibrary
Oi
ResponderExcluirEu nao esperava tudo isso desse livro... justamente pela capa..
Amei a sua resenha! Me deixou com mais expectativas ainda...
Espero nao me decepcionar e gostar tanto quanto voce =)
Beijos,
Caro e seus livros.
Nossa, 800 e tantas páginas e ainda tem continuação? Isso desanima :(
ResponderExcluirMas, tenho que confessar que também julguei o livro pela capa e jurava que era um infanto-juvenil bobinho, pelo visto errei feio!
Beijos
Caramba, esse livro parece fantástico! Confesso que julguei o livro pela capa (apesar de ter me lembrado muito os filmes da Ghibli), achando que era infantil também, mas achei a história simplesmente fantástica! Fiquei com muita muita vontade mesmo de ler. Apesar da complexidade, a história realmente parece rica. Adorei!
ResponderExcluirJá tinha visto várias resenhas sobre esse livro, mas essa foi a primeira vez que realmente parei para ler. Essa parece ser uma história bastante rica, cheia de detalhes e personagens, o que pode ser muito bom por um lado mas não tão interessante por outro.
ResponderExcluirQuando você fala que não conseguiu se apegar a nenhum dos sete filhos é totalmente compreensível. São personagens demais e assim fica difícil esse apego.
Uau, são mais de 800 páginas? Tem que ter muita história pra contar e muita habilidade pra não deixar cair no tédio.
Estou bastante curiosa com relação a ele.
Beijos
Caline - Mundo de Papel
Recentemente recebi um exemplar de Cisne da autora, e com toda a correira que eu tive esses tempos - escola, retornos, simulados, ballet, inglês, e a lista segue... - foi difícil avançar na leitura. Vou tentar retomar agora. Até onde li, gostei bastante do modo como Eleonor trabalhou o enredo. Sem muito peso, mas de uma forma levinha, de fácil compreensão. Mas, assim como você, não posso deixar de me contrariar um pouco com a perfeição dos Melbourne. Existe alguma coisa que eles não podem fazer?! Até arremessar irmãs mais novas entre si eles fazem! Mas definitivamente é um livro que surpreende *-*
ResponderExcluirAbraço!
Clara
labsandtags.blogspot.com